Ambos não falavam exatamente nada, pois não queriam atrapalhar o que quer que estivessem pensando. Mas Noah queria ajudar, e se meteu naquilo tudo.
— Estou aqui, Nash. E se você quiser pular, saiba que vou junto. Não estou blefando. — Noah olhou-o com atenção — Não está sozinho.
Noah deslizou o corpo para o lado, com todo o cuidado do mundo. Apesar de estar determinado, não podia evitar o medo de cair acidentalmente daquela sacada e ter um triste destino, o destino que Nash tanto almejava.
Nash não falou nada, apenas deixou o silêncio reinar, outra vez. O tempo transcorria lento como uma tartaruga, e Noah ainda estava nervoso. Dessa vez, não por si, mas por Nash e a sua triste situação. Não queria perguntar os motivos que o fez estar ali, e assim não iria fazer. Teria de convencê-lo a ficar. Se Nash não tivera ajuda antes, teria naquele momento. Ficou triste, pois não podia salvar a vida de outras pessoas que sofriam o mesmo que Nash.
— Está com fome? — perguntou — Eu tenho um lanchinho aqui... — tirou a mochila das costas e a abriu — Gosta de hambúrguer? Eu tenho um, se quiser... Ah, também tem batatas fritas. Sabia que batatas fritas renovam a alma? É, sim. Vamos, toma. Come.
Noah ergueu a comida para Nash, que hesitou por alguns instantes. Decidiu aceitar, por educação, e agradeceu por isso. Enquanto comia, percebeu que estava esfomeado e agradeceu Noah muito mais.
— Não há de quê — Noah sorriu um sorriso sincero, e Nash se perdeu em tamanha beleza do rapaz que estava diante de si.
Por alguns momentos, ele finalmente olhou nos olhos de Noah e viu algo bom lá dentro. Algo como compaixão e gentileza. Não só isso, mas a cor também era de seu agrado: um castanho bastante claro, e já que o Sol não parava quieto, e naquele momento os seus raios penetravam a pele de ambos e clareava mais ainda os olhos de Noah. Se não bastava isso, tinha os cabelos louros, com partes mais claras que as outras, e Nash achou aquilo curioso. Estava suado também, e tinha um desenho no braço direito, feito com caneta azul.
— Se eu sobreviver a tudo isso, Noah, você se lembrará de mim? — perguntou, enquanto enrolava o papel onde antes estava o seu hambúrguer, o qual devorou com todo o fervor e rapidez.
— Claro que sim. Olha lá! — Noah apontou para o horizonte — Todo pôr-do-sol vai me lembrar você, Nash. — só então Nash percebeu que já era o fim da tarde e, embora sentisse que o tempo corria devagar, se surpreendeu ao saber que fora tão rápido. Nash sorriu, e olhou timidamente para o seu tênis. — Esse sorriso é verdadeiro? Ou é apenas um disfarce?
— Ele também é o meu modo de chorar, Noah. E ninguém nunca percebeu isso. É assim que choro durante o dia, e as lágrimas caem à noite. — explicou Nash, evitando contato visual com Noah.
O rapaz, porém, se aproximou mais de Noah até ficar grudado, ao seu lado. Segurou a sua mão, e com a outra, ergueu o seu queixo na direção do seu rosto. Conseguia escutar a respiração de Nash.
— Você pode até chorar, Nash, mas nunca desista. Não desista da sua vida. Não vale a pena. Lembra da porcaria do meu poema? Não estará aqui para se arrepender. Olhe, aqueles devem ser seus pais! — apontou para baixo, para o casal que os olhavam tristes e ao mesmo tempo esperançosos — O que será deles sem você? O que será dessas pessoas? O que será de mim, sabendo que poderia ter impedido? E você, Nash? Será que vale mesmo a pena? Não comerá mais hambúrguer algum, não escutará mais aquelas músicas que nos fazem cantar de tão legais que são, não verá mais o sol se pôr, nem nascer, nem nunca. Quantos livros ficará sem ler? Quantos filmes deixará aqui? Ah, coisas materiais são tão vazias... Vejamos... E os sorrisos, Nash? E os sorrisos de gratidão que nunca mais verá? Nunca mais vai poder amar, nem sentir alegria. Eu não poderei te tocar.
Noah sacudia a mão de Nash, e logo entrelaçou os seus dedos.
— Quantas piadas irá perder? Quantos amores não vai viver? Quantas sensações deixará de sentir? — continuou — E... Nash... Quanta coisa boa da vida você irá perder?
Nash olhou-o com atenção. Tão belo daquele ângulo, tão doce e parecia ser tão amável. Se existir mais pessoas como ele, valia muito a pena ficar naquele mundo.
— É difícil, eu sei, mas esqueça todos esses motivos, por ora, esqueça essa dor. Eu estou aqui, Nash, e não irei te abandonar. Confie em mim, não existe só pessoas ruins no mundo. — concluiu Noah.
Nash sorriu, e lágrimas brotaram dos seus olhos. Não de tristeza ou dor, e sim de emoção, e talvez de alegria. Ter alguém que, apesar de tudo aquilo, e mesmo sem nem te conhecer direito, estava ali por ele, era um motivo de felicidade.
— Obrigado, Noah! Muito obrigado! Você não sabe o quão isso foi e é importante! — Nash o abraçou forte, e se segurou para não comentar sobre um novo motivo: Noah.
Não por ele parecer um bom garoto, ser bem bonito e de uma voz doce e palavras sinceras; mas por ser quem é, ajudar os outros e principalmente por tê-lo ajudado. Devia a sua vida à Noah, e nunca esqueceria daquilo. Pois se não fosse por um intermédio do rapaz, provavelmente não estaria ali, porque estava muito determinado a pular. E se pulasse, teria conhecido aquele rapaz especial que era Noah.
— Muito obrigado, Noah! Obrigado por salvar a minha vida! — apertou-o mais forte, com medo que o vento o levasse para longe de si.
***
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Moço, sai da sacada
RomanceNão fora só treze motivos que fizeram Nash estar naquele edifício no centro da cidade, fora muito mais. Eram tantos, que o pobre rapaz não conseguia nem mencionar um. E, caso pensasse em algum, não hesitaria e se jogar dali, no meio de um domingo en...