Capítulo 11 - Escondida

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Kate Narrando

Ontem a Katherine foi almoçar com aquele garoto nosso vizinho, dizendo que seria apenas uma oportunidade de conhecê-lo. Duvido! Conheço minha filha bem demais pra saber que ela sente algo diferente quando o vê. Não a julgo e, ao contrário de outras mães, não vou adverti-la quanto a isso, mesmo sabendo que ela já passou por muitas situações ruins relacionadas a esse assunto, mas é exatamente por isso que eu tenho certeza absoluta de que ela vai saber lidar sozinha com seu coraçãozinho frágil e apaixonado.

Hoje eu vou encontrar a minha outra filha, Clarissa. Pra ser sincera, sempre esperei mas nunca imaginei que seria tão bom reencontrar uma parte de mim que eu deixei há tantos anos. Encontrar ela me deu esperanças novas e um sorriso maior no rosto. Agora consigo perceber o quanto Kath tem razão quando diz que tudo tem uma lição de vida e que nunca estamos totalmente preparados para nada na vida.

Quando recebi uma mensagem, logo de manhã, vinda da Clari, meu dia se alegrou ainda mais. Me levantei, tomei um banho rápido e desci pra tomar café. John estava na cozinha, enquanto preparava o nosso café da manhã e conversava com Marie que estava apoiada na bancada. Me peguei pensando em como eu fui sortuda de ter pessoas tão boas ao meu lado. Pessoas que se importavam com meu bem estar, com a minha filha, com os meus gostos e interesses... Sempre foram como anjos em minha vida e sou eternamente grata por isso.

Ouvi risadas vindas de trás e me virei. As duas amigas conversavam alto e riam de algo enquanto vinham em direção à mesa. Dei bom dia às duas, que sorriram sinceramente em resposta. Elas se sentaram lado a lado e continuaram conversando, porém mais baixo. John terminou de preparar o café e nos serviu, comemos em silêncio e cada um seguiu seu caminho: as meninas pra piscina, John pros jardins e Marie pra sala de TV.

Como já desci arrumada, peguei minha bolsa e as chaves do carro e saí. Coloquei uma música alta e alegre e fui escutando e cantando no caminho. Marquei com a Clari no flat dela, que se localizava perto da Universidade de Toronto, do outro lado da cidade. Depois de uma hora e meia, cheguei ao local combinado e fiquei no carro, esperando minha filha aparecer.

Katherine Narrando

Pode parecer ou até ser loucura, mas estou desesperadamente inquieta em relação à chegada da Clarissa. Também tem um pouco haver com a dica da Bruna. Posso dizer que não sei mais pra onde vou, London ou... Washington.

Todas as motivações vieram como uma fila indiana, me deixando sem rumo. A Clari me deu a esperança de encontrar meu pai e a Bruna me deu a chave de uma vingança planejada, só me restava escolher em que caminho seguir.

[...]

Com muito custo, terminei de fechar a mochila. 3:00h da madrugada. Conferi tudo que precisava e peguei o celular no criado-mudo.

WhatsApp On

Hey, Ben!

Desculpa chamar essa hora e te avisar desse jeito.

Não alarme, minha família não precisa sentir minha falta.

Quando perceberem minha ausência, você não sabe de nada.

Posso contar com você?

Bom, espero que sim.

Estou saindo agora, daqui algumas horas estarei em London.

Não sei quando volto, mas espero que consiga concluir meus planos naquela cidade.

Bom, talvez depois possamos conversar por mensagem.

Bj, Kathzinha.

WhatsApp Off

Joguei o aparelho na bolsa, indo em direção à cama da Claire. Parecia um anjinho quando dormia, ai do louco que a acordasse! Mas tive que o fazer, ela era ciente que cedo ou tarde iria acontecer.

- Claire... - Cochichei baixinho ao pé de seu ouvido.

- Tô indo, mãe - Disse, ainda de olhos fechados.

- Claire, sou eu, Kath - Falei baixo, a fazendo sentar no colchão macio e esfregar os olhos, ainda com sono.

- Quem morreu, Katherine?

Dei uma risada.

- Calma, minha pequena. Olha, eu tô partindo pra London agora. O único que sabe é Benjamin.

- O vizinho DJ?

- Esse aí mesmo. Escute: você não vai comentar meu sumiço. Quando perceberem, não vá abrir a boca. Deixe que vão atrás e tirem suas próprias conclusões, mas apresente álibis falsos a meu respeito, para que não possam ir muito longe. Conto com você pra manter impossibilitado qualquer vestígio de polícia em meu encalço. Manterei contato, te cuida e dê uns beijos no Lippe.

- Tá bom, mana - Disse, me envolvendo em seus braços quentes e finos. Correspondi ao abraço, feliz. Era tudo o que me motivava naquele momento.

Saí pela janela do quarto. Foi um salto bem alto, mas a determinação tomou conta de meu ser, extinguindo todo medo e fraqueza. Arranquei silenciosamente o Porsche que antes se encontrava na garagem da grande casa. A partir dali, começou uma aventura.

Benjamin Narrando

Não me permitira amar ninguém porque temia que essa pessoa fosse tirada de mim...
- Colleen Houck -

Fui despertado às 8:00h. O celular gritou durante toda a noite, mas sequer abri os olhos. Assim que consegui me sentar, liguei o aparelho e olhei as notificações. 10 mensagens não lidas. Abri-as e me deparei com uma surpresa em parte estranha, mas agradável a meus olhos por ser dela.

[...]

Numa terceira tentativa falha de ligar, resolvi ir até a Claire. Melhores amigas contam tudo uma pra outra, certo? Já estava embaixo de sua janela esperando uma ideia de como chamá-la sem fazer muito alarde, quando olhei pro chão e vi uma pedrinha. Joguei no vidro resistente algumas vezes, até que a loira apareceu com cara de sono e o cabelo bagunçado. Ela fez sinal pra eu esperar e colocou a cabeça pra dentro, fechando novamente a grande e grossa cortina blackout. Poucos minutos depois, o portão se abriu, revelando a garagem agora com um espaço vago, e então Claire apareceu bem na minha frente.

- Parece que ela não estava brincando quando disse que sabia - Resmungou, inquieta.

- O que foi? - Perguntei.

- Ah não, nada. Então, veio saber da Srta. Turner ou me contar algo sobre ela? - Ela ergueu as sobrancelhas.

Antes que eu respondesse, Claire virou as costas e fez sinal para que eu a seguisse. Entramos e ela me guiou até os jardins, onde tinha uma mesinha e uns cinco banquinhos baixos no meio das lindas flores coloridas e que exalavam aromas deliciosos. Ficamos conversando durante toda a manhã, e a Sra. Kate me convidou pra almoçar com eles. Aceitei o convite de bom grado e, depois do almoço, saí com a Claire pra dar um passeio no parque, enquanto falávamos sobre a Kath e o que tinha acontecido entre ela e um tal de Harry. Ao pôr do sol, demos uma volta na praia e logo voltamos pra casa. Passei o resto da noite pensando sobre o que tinha descoberto em relação à viagem antes misteriosa de Katherine Allen, até que vários pensamentos começaram a gritar na minha mente.

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