Capítulo 13 - Rebeldia

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Quando eu chorei, foi pra minha alma se lavar. Então me tranquei, me calei, me entreguei, chorei por 7 horas sem parar...
- Projota -

Benjamin Narrando

- Benjamin Madson!

Dei um pulo da cama ao ouvir aquela voz tão alta e aguda.

- O que é?

-Fala direito comigo, respeita sua mãe.

- Ah, e você respeite a minha privacidade e os meus direitos. Agora, faz o favor de dar licença!

- Não, você vai me expli...

- Sai! Agora mesmo.

Me levantei e fechei a porta que ela fez questão de largar aberta. Aquela casa tão grande para apenas ostentação e mais nada. Cansei de tudo, de todos, só resisti por causa da Belly. Ah, que vontade que fugir...

[...]

Desci pra jantar lutando contra minha própria vontade, não queria olhar na cara da Julie depois de mais cedo.

- Boa noite, Ben.

- Boa noite, Thomas.

- Benjamin, cadê o respeito?

- Acho que larguei lá na cama na hora que essa daí foi lá gritar na minha cabeça! - Alterei a voz com meu pai.

- Mas o que é que está acontecendo aqui? Será que não podemos nunca jantar em paz?!

- A paz se foi com a vovó e o vovô. Dá licença, perdi a fome.

Subi as escadas correndo e entrei no meu refúgio, trancando a porta na tetra-chave. Me permiti chorar, chorar de verdade, não mais do que quando meus avós morreram, porém, muito mais do que eu me permitira durante esses três anos e meio. Chorei até o rosto arder, mas as lágrimas continuaram caindo, jorrando, de meus olhos que já queimavam. Solucei, gritei, me libertei de uma dor que entalava meias palavras em minha garganta e me impedia de viver, de amar, de gargalhar na maior parte do tempo... Entrei em minha banheira e me deixei ser livre, me levantei daquele travesseiro de mágoa e me descobri de uma colcha pesada de conformismo que me puxava pra dentro daquele ambiente escuro que era minha mente e deitava meu coração no mais profundo oceano de lágrimas dolorosas e humilhantes, de onde eu não consegui sair quando tive a oportunidade, me entalando como uma baleia no buraco do vidro quebrado de um submarino. Mas eu me permiti sentir, me permiti chorar e me libertei...

Depois do banho libertador, de lágrimas e espuma, vesti meu moletom e dormi, sentindo o vento chicotear minha expressão pacífica.

[...]

Acordei com o sol batendo no rosto e ardendo os olhos. Massageei as têmporas, enquanto me levantava lentamente e sentava em meu colchão macio. Com muito custo, fiquei sobre os pés e fui fazer minhas higienes. Ao sair do banheiro, troquei de roupa e fui pelos fundos até os jardins, para pegar minha bicicleta. Saí pedalando até o High Park e fiquei dando umas voltas, para esfriar a cabeça e descansar o cérebro.

Permaneci sentado sobre a bicicleta, em movimento, durante cerca de 10 minutos. Quando parei, avistei um garoto de camisa verde e bermudas bege claro chamando por meu nome do outro lado do parque. Acenei pra ele, que correu desajeitado até mim, entregando uma carta amassada. Perguntei quem havia enviado, mas fui ignorado, quando ele correu em direção à saída mais próxima. Hesitante, abri a carta em minhas mãos e fiquei surpreso, não só com a perfeita caligrafia, mas também com o conteúdo:

Querido Ben, se você está lendo isso, com certeza estava passando pelo High Park e viu um estranho te gritando. Acertei? Pois é, eu sei! Escolhi esse lugar porque foi nele que você me levou primeiro depois do nosso primeiro encontro, se é que devo chamar assim.

Você já sabe quem sou, certo? Se não souber, devolva porque não é pra você, seu intrometido!

Benjamin Clarke, o DJ. Sabe que eu gostaria muito de te ouvir tocar novamente? Eu também adoraria o conhecer melhor, mas não posso usar meu celular, nem outros dispositivos, nem mesmo o computador do FBI ou da Cia. Por que? Simples: minha família está me procurando, eu não posso ser encontrada e tem como eles me rastrearem por um hacker que não sei como acharam. Não me arriscaria a usar os serviços de entrega de correspondência, por isso, tenho meu próprio mensageiro. Você não conheceu ele, mas basta ter algum afeto por mim que lembrará do segundo lugar que fomos naquele dia. Boa sorte! E procure por Kelan.

Bj da sua anjinha...

Amassei o papel em um instante e o enfiei no bolso. Me posicionei corretamente e comecei a pedalar apressado. Enquanto tomava consciência do caminho, me peguei pensando naquelas palavras, quando ditas por ela, seria tão, tão, tão maravilhoso... Cala a boca e concentre-se, se quiser chegar inteiro até o seu destino! Espantei meus pensamentos, parei rapidamente e pluguei meus fones, recomeçando a rota que estava na metade. Não demorei muito para chegar até onde queria, mas logo me dei conta de que estava bem cheio.

De repente, me lembrei de que ela insistira em tomar MilkShake antes de comprar qualquer outra coisa. Segui para a praça de alimentação do Toronto Eaton Centre, correndo os olhos pelo espaço, em busca de algum vestígio do tal Kelan. Em um canto isolado, o avistei distraído comendo fritas, e quase corri até sua mesa.

- Hey! - Chamei. - Você, por acaso, é Kelan?

- Eu? - Me olhou e eu assenti. - Eu posso saber, por acaso, por que a pergunta?

Revirei os olhos.

- Claro! - Respondi, irônico. - Se você me responder.

- Okay - Suspirou e olhou em meus olhos. - Eu sou Kelan Woods, mensageiro da Srta. Katherine. - Disse, estendendo a mão em um cumprimento.

Apertei-a e disse:

- Bom, você já sabe quem sou eu. - Dei um suspiro. - Mas, Benjamin Clarke.

- Imagino que tenha vindo em busca de algo importante, correto? - Perguntou.

- Sim. Imagino que você tenha o que preciso, correto? - Indaguei, impaciente.

- Bom, quase isso. - Falou, olhando para as próprias mãos. - Eu tenho um endereço e um número de telefone. É criptografado, então você pode tentar falar com a Srta. Katherine, mas não garanto sucesso dependendo do horário que você ligar. O endereço é para pegar a próxima carta, que estará disponível amanhã a partir das 14h.

- Mas e se eu não conseguir encontrar o local endereçado? - Perguntei, fechando os olhos. Já estava ficando cansado de tanta caça ao tesouro.

- Ah, não se preocupe! Srta. Katherine foi estratégica em cada ponto de encontro, como deve ter percebido. Garantiu que será mais fácil para o senhor do que para qualquer outro. - Disse, em voz baixa.

- Okay. Então, obrigado! - Agradeci, me levantando e estendendo a mão, que logo foi apertada calorosamente.

- Disponha, meu caro. Se precisar de mim para enviar algum recado à Srta. Katherine, aqui está meu contato. - Disse, me entregando um cartão.

- Adeus, Kelan Woods!

- Adeus, Benjamin Clarke!

Resolvi que seria melhor se eu comesse algo por ali, pois ainda não havia almoçado e meu estômago roncava alto. Logo depois, peguei minha bicicleta no estacionamento coberto e saí na direção de casa. Quase chegando ao meu destino final, cogitei passar o dia novamente na casa da Claire, falando sobre Katherine Allen. Fui até lá e chamei, obtendo uma resposta rápida. Pulei pra dentro da grande residência e acabei ficando por lá mesmo.

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