Qualquer risada..

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- Alice?

Levanto a cabeça assustada vendo todos da sala me olharem,o professor sorri e volta a dar sua aula normalmente.

SONO essa é a palavra que me define agora,tive que fazer alguns trabalhos que estavam atrasados que eu havia me esquecido e virei a noite para conseguir terminar de faze-los.Não sei como deixei isso chegar tão longe,minha vida acadêmica está completamente confusa e nem sei quando vão ser as provas mas para falar a verdade eu nem sei se vou me sair bem nessas provas.

- Se você puder ficar acordada so para a nossa apresentação._escuto a voz rouca do garoto e me viro em sua direção _ Que foi? Vai falar que não está morrendo de sono?

- Não,estou acordada agora!

- To vendo.

Depois de mais explicações o professor é interrompido  pelo diretor que como sempre está impecável,ele traz em suas mãos alguns papéis e uma caneta preta com suas iniciais.

- Boa Noite Alunos._os alunos respondem com toda animação possível_ Estou aqui para anunciar que vamos ter o concurso de talentos no estado e nossa escola vai participar.

Alguns alunos fazem algazarra mas logo a calam quando o Sr.Jordan os olha com uma carranca nada boa.

- Como eu ia dizendo,o concurso é de solo ou dueto.Então vamos ter uma pré seleção na próxima semana e os escolhidos para participar do concurso irão ganhar 15 pontos em cada matéria.

A festa foi geral,era mochilas sendo arremessadas no ar e bolsinhas voando de um lado para o outro.Os alunos nunca acharam tão fácil ganhar 15 pontos em toda a vida e seria a chance da vida de muitos em se apresentarem para um público grande.

- Temos um prêmio para a turma se caso a dupla passar das regionais.Então é por isso que só poderam se inscrever para as seleções cinco solos ou três duplas,passando nas seleções a dupla/solo vai disputar a regional e se vencerem a turma irá ganhar uma excursão para qualquer lugar que os vencedores escolher.

O silêncio predominou e a dúvida era palpável,ninguém queria pegar essa responsabilidade e correr o risco de perder para outra turma.

- Eu voto na Alice,ela canta e toca muito bem._Daize fala e eu arregalo os olhos a olhando_

- Eu ja a ouvi cantando e posso afirmar que o talento dessa garota é incrível.

Depois que o Diretor Jordan falou isso foi meu fim,a maioria dos alunos me obrigaram a me inscrever.

Como dizer não? Nunca fui uma pessoa que falava não com frequência então praticamente tudo que me pediam eu fazia,mesmo se fosse algo que eu não queria.

- Ai vai ser um máximo,você tem compor uma música pras regionais.Imagina se você fica famosa,da pra pagar o melhor tratamento para sua mãe.

Eu sabia que ela só queria participar da "fama" comigo e não pensava nem um pouco em minha mãe,mas oque ela falou mexeu bastante com minha cabeça.
[...]
Cheguei em casa rápido depois que recebi uma ligação do meu pai dizendo que ia ter que trabalhar,ele trabalha duas vezes na semana ne uma advocacia mas quase não dava para pagar o tratamento da mamãe ja que ele era o único que está trabalhando.

Entro em casa e o cheiro de tinta me faz relaxar um pouco,aproveito o silêncio e me sento no piano começando a tocar algumas notas aleatórias.Me perco nas melodias e acabo me assustando ao ver minha mãe descer as escadas correndo.

- Mamãe? Oque ouve?

- O que você está fazendo no meu piano?

- Eu só estava tocando um pouco.

- Quem é você e oque faz na minha casa?Quero que saía daqui.

- Mamãe sou eu,Alice sua filha.

- EU NÃO TENHO FILHA..SAIA DAQUI AGORA.

Ela joga o pincel que estava em sua mão em mim me fazendo abaixar,me levanto e corro pra fora da casa para não vê-la tão descontrolada.
Subo para a minha antiga casa da árvore,pego meu celular e ligo para meu pai,depois de tanto chamar ele atende com uma voz nada amigável.

_Alice não posso falar com você agora.

_Ela não se lembra de mim pai.._choro_

_ Calma Alice,oque ouve?

_ Ela me expulsou de casa e não quer que eu entre lá.

- Eu ja vou pra casa.

A ligação se finaliza e meu olhar fica perdido na casa do vizinho,eu tinha me esquecido em como era bom brincar aqui e esquecer um pouco do mundo.Nunca foi tão difícil como esta sendo agora,nunca foi tão dolorido como dói agora.
Nas minhas lembranças surge imagens antigas de um garotinho estranho que morava naquela casa,minha diversão era conversar com ele mesmo ele não me respondendo na maioria das vezes.Eu queria saber oque aconteceu com ele depois do dia em que ele foi pego pelo pai no quintal,nunca mais vi ele lá fora.

- Perdeu alguma coisa na minha casa?

A voz rouca me faz sair dos meus pensamentos,olho para a árvore ao lado e vejo o garoto novato.

- O gato comeu sua língua?

Era ele? O meu primeiro amor de infância?Eu não podia acreditar.

- Você sabe falar Alice?

- Claro que sei.

Ele sorri de lado e joga uma mecha do cabelo para trás,abre um pacote de chips e me olha novamente levando um chips na boca.

- Porque estava olhando para a minha casa?

- Nada!

- Eu não sou bobo.

- Como sabe meu nome?

- Eu sempre soube.

Ficamos em silêncio enquanto um olhava para o outro,pela primeira vez eu não sentia raiva ou repulsa dele.Era como se tivéssemos voltado a infância e aquele silêncio era mais confortante que qualquer risada.

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