3 - Amnesia

61 4 0
                                    

As estrelas aleatoriamente distribuídas no céu daquela noite de verão estavam tão brilhantes quanto quase três anos atrás, no dia em que Tessa Devains, um garota inteligente, bonita, querida e consequentemente invejada aceitara o pedido de namoro de Zachery Morgan, um 0 à esquerda apaixonado por rock e que sempre ficava em recuperação.

O rádio estava ligado, tocando as mesmas musicas que escutaram no dia de seu primeiro encontro oficial: o mixtape de 1994 com as musicas favoritas da menina.

As lágrimas percorriam as bochechas rosadas do loiro, que passava em frente aos lugares em que costumavam ir, beber, namorar, se divertir.

Podia lembrar claramente da sensação de beijá-la pela última vez, alguns meses atrás. Pensava em quanto devia ter aproveitado mais, como era maravilhoso sentir seus lábios colados ao dela.

As ruas desertas em plena madrugada o faziam tão mal quanto dar uma olhada rápida nos perfis da garota, apenas para checar se ela estava bem.

Doía perceber que a garota andava bem, sorrindo nas fotos ao lado de seu novo — talvez — namorado. Tinha vontade de mandar uma mensagem, perguntando se mesmo ao lado dele ela não se sentia sozinha.

Perguntava-se a si mesmo se Tessa ainda lia ou guardava as cartas e musicas que escrevera em sua letra aleijada e curvisa, as quais ela gostava de cantar baixinho antes de dormir, ligando para ele para que pudessem fazer um dueto e se desejarem bons sonhos.

Não conseguia entender como ela tinha seguido em frente tão rápido, sendo que ele sofria tanto só em pensar nos olhos da garota. Evitava cultivar aquele pensamento que tinha de que tudo fora uma mentira, por pena ou algo que apenas Tessa podia afirmar. Se tudo o que viveram, sentiram, disseram e fizeram fora de verdade, como ela podia parecer tão bem?

As teorias que tarde da noite inventava, as declarações de amor, as fotos que a garota o mandava ainda estavam vivas em seu telefone, nas mais antigas mensagens. Admitia para si mesmo o quanto sentia saudades de recebê-las na hora, admitia o quanto se sentia solitário sem ela ao seu lado.

Fazia tempo desde que não saia para uma noite com seus mais próximos amigos, sempre com desculpas esfarrapadas. Sabia que era estupido, mas em qualquer lugar daquela pequena cidade poderia se lembrar do que faziam quando ainda eram um casal.

Mais difícil ainda, era quando encontrava-se com os amigos que tinham em comum. Doía ouvir aquele nome, quando não a via há tanto tempo.

Ao fechar os olhos, podia se lembrar do dia em que a garota o disse que estava indo embora, lembrava do rímel escorrendo pelas bochechas pouco sardentas por causa do sol.

Os sonhos que ela havia deixado para trás, junto dele, não eram tão necessários como sua presença, nem como todo desejo idiota que faziam ao estarem de mãos dadas caminhando pela rua.

Desejava acordar com amnésia, poder esquecer toda pequena coisa estupida que fez com o que aquele namoro acabasse.

— Eu não estou nem um pouco bem.

FIM.

Amnesia Onde histórias criam vida. Descubra agora