Capítulo 4

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PLANTA do PRESÍDIO

Xiiiiii, pessoal, não sei o que aconteceu, mas deu merda. Vou ter que refazer a planta.


Ø B-1; andar térreo: entrada principal para receber os detentos; escritório de administração, biblioteca e sala de jogos. Primeiro andar: setor de monitoramento, sala de armas e academia de treinamento das guardas. Segundo andar: almoxarifado e dispensa.

Ø B-2; térreo, primeiro e segundo andar: alojamento dos detentos.

Ø B-3; térreo: refeitório. Primeiro andar: cinema, teatro e espaço para confraternização. Terceiro andar: academia de musculação.

Ø B-4; térreo, primeiro e segundo andar: salas para tortura e confinamento.

ESCOLA

Ø Térreo: diretória, refeitório, biblioteca, sala de jogos, cinema e academia de ginástica.

Ø Primeiro andar: sala de aulas.

Ø Segundo andar: dormitórios e um amplo bainheiro.

....

Após o almoço, os detentos foram divididos em grupo. Uns foram tomar banho de sol no pátio, outros foram levantar pesos, alguns foram assistir a uma peça teatral; um filme, estudar na biblioteca e passar o tempo na sala de jogos. Como já era de costume, as três e meia da tarde, um sorteio era feito. Os azarados passavam uma hora inteira na escola feminista. Depois de tantos outros, o nome de Josemar foi sorteado. Não gostou. Queria empurrar a desgraça para um dos companheiros de cela, mas não teve jeito. Ninguém queria passar por esse constrangimento.

Os sorteados ganharam roupas e sapatos novos. E não é que o rapaz magro ficava um tesão dentro do terno preto que lhe foi dado. Parecia o namorado perfeito para se apresentar aos pais, a não ser por um simples detalhe: ele era um bandido cafajeste.

E lá estava ele, na sala de aula, sentado em sua cadeira, tentando se concentrar na explicação da professora, mas não conseguia. Estava nervoso. Olhava para o lado: meninas. Olhava para o outro: meninas. À frente: meninas. Só tinha ele de homem na sala. O problema não era estar cercado por garotas, o problema era que até a professora estava uniformizada com aquelas saias azul — curtinhas — de colegial, camisas brancas, com uma tirinha de ceda vermelha sob o colarinho duro; meias e sapatilhas preta. Se a minha tia Marlene visse uma coisa dessa, diria que essas moças estão com a pomba-rola no corpo... ou será que é a pomba-gíria? Ah, deixa pra lá! Já não sei de mais nada., Josemar ficou pensando, enquanto se fartava com os belos par de coxas da professora Thaís, que terminou de explicar as fórmulas. Sentou na cadeira atrás da mesa comprida e se concentrou em um laptop.

Josemar tentou responder as perguntas da folha de exercícios que estava em cima da carteira, mas não conseguia, pois, não tinha entendido porra nenhuma. Na verdade, eram perguntas fáceis, mas devido a situação em que se encontrava se tornou um burro completo, e quanto mais se esforçava para responder... mais ansioso ficava. Precisava relaxar. Então começou a cantar baixinho a música do NX Zero: hoje o céu abriu. Pegou a borracha e começou a apagar uma resposta que com certeza estava errada. De repente, o papel enrugou e a borracha escapuliu de seus dedos. Voou e caiu quicando no chão de concreto liso. Ah, francamente... estou tentando não chamar atenção e me acontece isso. Empurrou o corpo para fora da carteira e saiu de gatinhas, tentando de uma maneira furtiva pegar a borracha fujona. E sem perceber, continuou cantando a música:

— Tenho que ser guerreiro todo dia porque senão com o tempo a onda passa...

Ouviu um suspiro alto e olhou pra cima, dando de cara com Jaqueline, que o fitava, ali, de quatro no chão. Ficaram assentindo de um para o outro em silêncio, e nessa hora Josemar tremeu feito uma vara-verde, engolindo a seco sob o olhar constrangido da garota que focalizou a borracha entre a ponta dos dedos dele. Foi então que o inesperado aconteceu.

Abaixo o MachismoOnde histórias criam vida. Descubra agora