CAPITULO 1

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O olhar de Elisa estava distante, contemplando o lugar maravilhoso onde nascera, o cheiro da natureza, as folhas das árvores balançando ao sabor do vento.

Ela fazia questão de acordar bem cedo pois adorava cavalgar pela manhã e sentir a brisa suave em seu rosto.

Passava horas contemplando as aves com suas asas esplendorosas voando alto,com movimentos magníficos que mais pareciam uma coreografia, uns voando sozinhos, outros em bandos, uma liberdade invejável.

O pomar, hum!!!, aquele cheiro maravilhoso de frutas frescas, sem agrotóxicos, tudo ali tão perto, a um toque de suas mãos. Tinha a horta. legumes e verduras fresquinhas, Elisa olhava pra tudo aquilo com um aperto no peito.

Ela amava aquele lugar, quando ficou fora para estudar e estagiar na empresa da tia, sabia que naquele momento era por pouco tempo, mas agora não, agora ela iria precisar se dedicar a empresa, Elvira contava com sua ajuda e ela não podia decepcioná-la.

Pois era graças a tia que tivera uma ótima educação, Elisa estudou nos melhores colégios, fez faculdade e falava três idiomas. Elisa não gostava de pensar que seria dona de tudo, e sim que estava apenas ajudando a tia.

Elvira Campbell era irmã de sua mãe, ela sempre fora muito ambiciosa, ao dezoito anos saiu de casa para batalhar pelos seus sonhos.

Ela vinha de uma família humilde, o pai e a mãe eram empregados em uma fazenda, Elvira não queria aquela vida pra ela, e quando decidiu ir embora tentou convencer a irmã mais nova Joana a ir com ela, mas Joana não tinha os mesmos sonhos que Elvira.

Elvira não queria muita coisa da vida, só não queria terminar seus dias como a mãe. ela passou por muitas coisas até conhecer seu marido, o rico empresário Nicolau Campbell, ela era camareira em um hotel na zona sul do Rio, era uma linda mulher, despertava atenção de muitos homens, mas o que mais chamou a atenção de Nicolau, foi seu jeito sério, a maneira como sabia se impor.

Em menos de um ano Elvira casou-se com Nicolau, ela sempre fazia questão de deixar bem claro que foi por amor. Eles formavam um lindo casal. Elisa sorriu ao lembrar das palavras da tia.

Ela nunca abandonou a família, mas eles não quiseram deixar a vida simples que levavam, não queriam ir para a cidade grande. Depois da morte dos pais Joana casou-se com um dos filhos do administrador da fazenda, Antenor, que hoje é o atual administrador.

Elisa tinha muito orgulho dos pais, e entendia o porque deles preferirem aquele lugar. As lágrimas rolaram em seu rosto, ela deu uma última olhada e cavalgou de volta pra casa.

- Querida você andou chorando? - Sua mãe tinha uma voz quase musical.

- Já estou sentindo falta desse lugar mamãe. - Joana a acolheu em seus braços.

- Você vem nos visitar, não é?

- Claro mamãe. - Elisa beijou-lhe a face.

- Não queria que você fosse embora, vou sentir tanto a sua falta. - Ela afagou as madeixas da filha.

Finalmente chegou a hora de Elisa partir, sua tia fez questão de buscá-la pessoalmente, assim aproveitaria para matar a saudade da irmã caçula.

- Tia Elvira seja bem vinda. - Elisa a recebeu com seu largo sorriso, um sorriso sincero, contagiante, doce.

- Puxa, você está cada dia mais linda querida!!! - A velha senhora ficará admirada com a linda mulher que ela se tornará.

- Isso é pra senhora ver a quanto tempo não aparece por aqui dona Elvira. - Retrucou Joana, abraçando a irmã carinhosamente.

- Não reclame, você e Antenor só foram me visitar uma vez nesses anos todos. - Resmungou Elvira. - Estive aqui a cinco meses na formatura de Elisa, lembra? - Elvira olhou para a irmã com ar de vitória.

- E depois, você sabe que tenho problemas com mosquitos.

Joana era quatro anos mais nova que Elvira, mas devido a vida simples que tinha aparentava mais idade.

A casa de Joana era simples mas, muito aconchegante, ficava no lado sul da casa grande e, nos fundos tinha um belo orquidário que ela e a filha cuidavam com verdadeira adoração.

- Eu entendo vocês não querem sair deste lugar, toda essa paz, ar puro. - Elvira fez uma careta. - Pena que hajam tantos mosquitos. - Todos riram com a careta de Elvira.

- Não se preocupe minha irmã, temos tela nas janelas. - Disse Joana, abraçando a irmã.

- Ahã, eu trouxe repelente. - Disse tirando a embalagem da bolsa e aproveitou para usar.

- Como estão Selma e Antônio?

- Como sempre viajando, eles ficam bem pouco aqui, principalmente agora que a filha teve um bebê.

Selma e Antônio eram os donos da fazenda, eram pessoas fascinantes, sempre trataram Antenor e a família como amigos. O pedaço de terra que Antenor morava pertencia a ele de papel passado, Antônio dera a ele como demonstração de gratidão e amizade. O pai de Antenor havia trabalhado para o pai de Antônio como administrador.

Joana tentou aproveitar cada minuto ao lado da filha e da irmã, pela manhã elas iriam embora, e estaria começando uma nova etapa na vida de sua filha, isso lhe dava um misto de alegria e tristeza. Ela sabia que ia demorar um pouco até a filha ir visitá-la, pois precisava se adaptar aos negócios da tia.

Depois da morte do marido e do filho em um acidente de carro, Elvira assumiu a empresa, e diga-se de passagem ela se saiu muito bem, como Elisa era sua única herdeira, achou melhor prepará-la para assumir o patrimônio que um dia seria seu.

Elisa ainda tinha os olhos cheios d'água quando entrou no avião de pequeno porte que as levaria até o Rio.

Ela não havia imaginado que seria tão difícil, não conseguia definir se o aperto que sentia no peito já era saudade, ou se era medo, medo de não dar conta de tudo o que estava por vir,medo de sua nova vida, sim, porque a partir daquele momento toda sua vida iria mudar. Passaria a frequentar a alta sociedade, um mundo totalmente diferente diferente do que ela estava acostumada.

A medida que o avião se afastava da sua vida simples e tranquila na fazenda, o aperto em seu peito aumentava.

A decisão de colocar a sobrinha a frente da empresa nesse momento foi um tanto repentina, Elvira já não estava tão bem de saúde, e temia morrer sem deixar a sobrinha apta a administrar tudo. No início os pais de Elisa foram contra, pois ela acabara de completar vinte e três anos. não passava de uma menina, mas Elvira lhes explicou a respeito de seu estado de saúde. Elvira queria que a sobrinha aproveitasse mais sua juventude, que viajasse pelo mundo, mas infelizmente nesse momento estava precisando dela. E é claro que ela daria todo suporte que a moça precisasse, ela não iria se ausentar totalmente da empresa, mas precisava reduzir suas idas, por recomendações médicas.

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