11:50, sofá

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eu encontrava as
mesmas pessoas nos domingos
à tarde de
São Paulo e tudo parecia
completamente vazio.
elas aparentavam infelizes
entre as paredes
da cafeteria daquela esquina, pois
por mais que tantos
carros,
e ônibus,
e gritos, e motos,
fizessem tanto
barulho,
o que eu sentia era o silêncio.
luzia, um dia, se sentou
ali para
conversar comigo:
contou da mãe falecida e acrescentou
algo sobre não aguentar aquela
vida
inútil.
céus! ela sequer havia chegado
nos 20 anos.
"é que não tem sentido. só existo."
e então ficou calada.
a olhei como quem estudava algum cálculo
quase desconhecido
até que alguém nos trouxe duas xícaras de café.
esvaziamos e repetimos a dose, com a boca trancada e a mente
bagunçada. o ar pesou.
luzia, quantos seres
desse bendito lugar seguem apenas
existindo?
mas a questão não passou
de pensamento.
revelam estar tão bem comprando
coisas no shopping ou caminhando no parque.
comum. absolutamente normal.
eles têm problemas
e esses problemas grudam na mente de cada
um enquanto, ao mesmo tempo, os aguardam
no sofá de casa.

a solução poderia ser expulsa-los.
mas, para isso,
você também não pode mofar.

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