O Rei e o Cacto

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O que tenho a relatar é sobre um rei. Mas não é história linda de princesas, príncipes, reinos encantados que desencantam com um beijo de amor verdadeiro, não... a história que conto é bem peculiar, demasiada estranha e um pouco severa. Nossos próprios gostos e vontades podem nos matar. Sim. Nunca esqueça disto! Havia um regente que governava soberano uma parte do mundo que, se não mudou de nome, já nem deve existir mais. Fato é que esse rei só fazia o que queria - só acatava as próprias vontades. E era cada vontade estranha! Queria dormir de dia e ficar acordado de noite, queria que as estrelas caíssem para apará-las numa bacia, queria que o sol fosse um espelho para nele se refletir... essas vontades não eram problema por que não podiam ser cumpridas mesmo, mas os verdadeiros problemas estavam por vir, e vieram de vez quando o rei decidiu que queria um cacto plantado dentro do coração. Uma inquietação se apossou do reino e as suposições de que o soberano estava enlouquecendo logo se espalharam. Louco ou não ele era o rei, e suas ordens teriam de ser cumpridas. Vários médicos foram chamados de outras províncias, a grande maioria cirurgiões. Uma força-tarefa foi montada e, com muito esforço, os médicos conseguram operar o coração real e nele plantar um cacto. Após o procedimento, o rei, já recuperado, de nada reclamava. As adversidades não mais o incomodavam, fossem elas como fossem. Um mês depois, o cacto cresceu e seus espinhos prejudicaram drasticamente o coração do rei. Sem remédio e sem cura, este veio a falecer. Em seu velório, loucos choravam e aplaudiam.

- O que ele fez foi inenarrável! Nos conduziu à liberdade. - gritavam alguns, mais eufóricos.

Sua história formou fiéis e admiradores. Há quem garanta que ele morreu feliz, fazendo o gosto da própria vontade.

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