Capítulo 3

39 4 2
                                    

O vento gelado fez com que eu me encolhesse. Dois casacos, um gorro, um cachecol, luvas, calça de veludo e botas quentes não faziam a menor diferença. Ri da ironia. Estava tão gelado do lado de fora quanto estava do lado de dentro. Meu coração agora era gelo, e eu precisaria muito mais do que um pedido de desculpas para voltar ao normal. Precisaria muito mais do que a presença dele.
Corri para pegar o metrô e por muito pouco o perdi.
Sentei no banco mais próximo e comecei a olhar as pessoas, todas com rostos calmos, mas tentava imaginar o quão bagunçadas estariam aquelas cabeças. Cada um escondendo sua tempestade. E, involuntariamente, eu me lembrei daquela tarde, quando eu e ele estávamos passeando pelo parque. Quando o sol esquentava os claros dias de verão, e resolvemos sentar em um banco, nosso banco, e observar as pessoas que passavam por nós. Ele segurava minha mão com força e eu estava deitada em seu ombro direito, sentindo ele subir e descer, conforme ele respirava calmamente. Eu transbordava de emoções e sentimentos. E tentávamos imaginar o que passava na cabeça de cada um, quando eu olhei fundo nos olhos dele e disse "mas é aquele negócio, a gente tem que tratar todo mundo muito bem, porque cada um está passando por alguma coisa e é sempre muito bom saber que tem alguém aqui para gente." Ele sorriu e beijou minha cabeça. "Minha namorada é um gênio." Sorri e o abracei.
Acordei do meu transe.
Onde estava ele agora?

Éramos doisOnde histórias criam vida. Descubra agora