Ao abandono (antologia Poética)

1° Perda

Lemos livros, vemos filmes, ouvimos histórias...

Em todos eles, a menina imperfeita, a diferente, a que ninguém quer, encontra sempre o seu par perfeito. O que todas querem, o que deixa todos com um sorriso nas faces, o melhor que alguém podia ter, e, acima de tudo, ele só tem olhos para ela.

Vivem juntos, têm as suas aventuras, os seu problemas, e no fim ficam sempre juntos, estão no ápice da sua felicidade quando o "Fim" aparece, e nos deixa com uma agradável sensação que aqueles dois viveram para sempre na sua felicidade.

Mas, todas essas história escondem a verdade que todos necessitamos de saber...

E se tudo acaba antes do fim?

Podemos ser a menina imperfeita ou o rapaz perfeito, ou podemos ser totalmente o contrário! Encontramos o amor! Apaixonamo-nos! Vivemos as nossas intrigas de amantes, descobrimos os segredos de amar, ansiamos pela plena felicidade que tal singelo sentimento nos proporciona.

Só que aquelas belas histórias, que nos apaixonaram e fizeram vibrar de emoções que não nos pertencem, esconderam uma triste realidade.

E se antes do "Fim", é se antes do "Felizes para sempre" uma das metades embarca naquela detestável viagem, uma misera viagem, como se entrasse num comboio... Aquela odiosa viagem que nos arranca metade de nós. Um bilhete de ida sem volta, onde no destino nos espera a graciosa dama de negro, que alicia qualquer uma das metades que tenha embarcado, e a leva para longe, para onde ela será inalcançável.

As belas histórias não nos prepararam para a dor que inundará o nosso coração, a agonia que travará a nossa respiração e as doridas lágrimas que lavarão o nosso rosto.

Um amor arrancado é pior que ter a nossa alma roubada, entregamos tudo de nós, o nosso corpo, a nossa alma, o nosso ser, entregamos tudo até ao último milímetro da nossa existência. Por vezes sem esperar nada em troca, só damos...

Queremos destruir aquelas viciosas histórias mentirosas, gritar ao mundo a baboseiras que ali são ditas!

Mas não podemos, não somos capazes... Um coração ferido demora a curar, um arrancado é incurável...

Mas... Queremos secar as lágrimas, dar um sorriso... Mesmo que por dentro sejamos só metade de nós mesmos, só que... Não queremos destruir a esperança e os sonhos que os outros têm.

Aquele sonho, que agora parece tão distante... Aquelas memórias, os sentimentos, as palavras e juras de amor, gravadas a ferro na nossa mente, que nos trazem lágrimas de saudade ao rosto, são tão belas... tão irresistíveis... tão sinceras...

Não somos capazes de tirar a possibilidade de outros as viverem e chegarem ao desejado "Fim" e "Viveram felizes para sempre", sem fins inacabados, sem meias felicidades!

Só... queremos reescrever... reescrever toda aquela história...

Dormir e sonhar que aquela outra metade ainda lá está, que ainda é uma personagem, tão perfeita, do nosso pequeno romance, um romance que não terá fim... Um romance no qual não teremos medo...

Como nas tantas histórias onde lemos tudo sobre isso...