Amizade colorida

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Desde então nutrimos uma amizade diferente das demais. Passei a descobrir coisas sobre Jessica que eu nem imaginava. A garota era da pá virada, ou pelo menos era assim que eu via na época.

Festas, namorados, escapadas e bebedeiras eram costumes, e devo dizer, costumes de muitos que eu conheci depois também. No fim, eu é que era careta, pois até os caretas queriam se enturmar e participar de tudo, eu não.

Pelo que sei, Jessica iniciou sua vida sexual com um cara mais velho, segundo ela, foi bom, mas depois dele, tive a impressão de que a garota parecia buscar em outros o que encontrara nele. Os dois tiveram um namoro rápido, só que acabou porque ele sofreu um acidente de carro e faleceu. Os sentimentos dela transbordaram pelo olhos enquanto me contava a história.

Para minha surpresa, os pais dela não sabiam disso, os dois tinham planejado contar sobre o namoro dois dias antes do acidente.

Ela era uma garota forte e mesmo o seu jeito rude era encantador. Conversamos durante semanas, cheguei a me sentir culpado, porque Fábio não gostava muito dela e acabamos nos afastando um pouco. Eu só falava dela.

Não ficávamos grudados na escola, o pouco tempo em que estávamos juntos, recebíamos olhares atravessados dos amigos dela e logo ela se afastava. Eu não me importava, pois sempre estávamos juntos quando depois da escola. Nossas mães estavam sempre conversando e consequentemente, nós também.

Foi quando a vi beijando um garoto na porta da escola que senti ciúmes a primeira vez na vida. Claro, isso eu não admiti, muito pelo contrário. Para não sair por baixo, fiz o que me pareceu mais lógico.

Durante o intervalo, esperei até que Angélica fosse ao banheiro e quando a vi sair, corri para falar com ela.

— O que foi, Caio?

— Tudo bem, Angélica? – Respondi, estranhando o modo como ela falou, mas sem a mínima noção, continuei: — Sobre a resposta que fiquei de dar depois... É sim, aceito ficar com você.

— Sério? – Ela riu e foi tão forçado, que até eu me assustei. O riso morreu em seguida. — Eu não pego baba dos outros e não sou prêmio de consolação de ninguém. Sinto muito se você levou um fora da Jessica, ela é assim mesmo. – A menina deu de ombros e seguiu caminho dando um esbarrão em mim.

Fiquei congelado no mesmo lugar, levando alguns minutos para processar as informações. Podem imaginar a cara de idiota que fiquei, principalmente quando entendi o que ela quis dizer com "baba dos outros"?

Mais tarde, em casa, ouvi Laura chegar, torcendo para a filha não ter vindo junto. Desci para cumprimentá-la, ou minha mãe me esganaria pela falta de educação.

Laura me abraçou, sorrindo. Acenei para Jessica, mas fiquei distante, só meus olhares que me denunciaram, pois ela estava linda e não era possível não reparar.

— Jessica tem uma festa para ir e gostaria de fazer um pedido, Ana. – Laura a empurrou e a garota resmungou antes de começar a falar.

— Queria saber se o Caio podia ir comigo, pode?

— Não sei...

— É perto e ele pode dormir em casa. – Interrompeu, sabendo melhor do que ninguém que aquele "não sei" viraria um "não".

— O Caio está aqui também. – Intervi, recebendo um olhar atravessado da minha mãe.

— O que eu não disse, é que ela não vai se Caio não puder ir. Antes ela não tinha companhia, mas agora tem.

O que eu pretendia ao intervir, era negar, dizer que não queria, mas assim que Laura disse que ela não iria sem mim, perdi a coragem. Provavelmente por causa do olhar pidão que recebi da garota.

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