Bom... Vou começar situando vocês e explicando como tudo aconteceu. Peço desculpas se eu me estender ou divagar demais, entendam, foi uma época boa para mim, apesar de conter momentos que gostaria de apagar e coisas de que me envergonho, e sempre me perco nessa nostalgia.
As coisas em casa não estavam nada bem. Meus pais discutiam muito e mesmo tentando disfarçar quando eu estava por perto, sentia o clima pesado e os olhares fuziladores entre eles.
O motivo era bem simples: dinheiro. Meu pai era um empreendedor e tinha um negócio de lavagem de carros, minha mãe, trabalhava em um banco. Roberto e Ana sempre me pareceram muito felizes, mas acho que eu estava errado...
Com a intenção de expandir os negócios, Roberto aceitou um novo sócio e as coisas começaram a acontecer muito rápido e com o dinheiro entrando, tudo funcionava às mil maravilhas.
Eu não sei exatamente como tudo aconteceu e nem sei explicar, mas lembro que meu pai chegou um dia furioso em casa e se trancou no quarto com minha mãe. A conversa demorou cerca de duas horas e o silêncio reinou na casa aquela noite depois que saíram do quarto.
Porém, sei as consequências do que aconteceu e pelo que entendi, meu pai tinha levado um golpe do sócio e perdido praticamente tudo, o que não perdeu, acabou queimando para quitar dívidas, pagar funcionários e nos manter por algum tempo até encontrarem uma solução. E o remédio foi reconfigurar toda a nossa vida.
Em alguns meses após a conversa o caminhão de mudanças estava à frente do portão do prédio, enquanto dois carregadores terminavam de colocar nossos pertences dentro do baú do veículo, monitorados de longe por um síndico carrancudo, encostado à bancada da portaria. Um amigo que morava no mesmo andar que o meu e era sobrinho dele, disse que meus pais estavam devendo condomínio e eu achei melhor não perguntar à eles.
O único que não estava tão incomodado com a situação era eu. Hoje sei que era porque não estava sob a mesma pressão que eles, mas na época, achava um exagero os chiliques que minha mãe dava. Minha única preocupação era a escola, isso estava me corroendo por dentro.
Sempre estudei em escola particular e nunca fui um aluno popular, também nunca acreditei ser inteligente, pelo menos não rodeado de pequenos gênios. Eu era o típico aluno que fazia sua parte e quase não era notado, segundo meus pais, meu desempenho era satisfatório e promissor.
Agora, estávamos saindo de um apartamento grande no centro de São Paulo e mudando para uma casa na Zona Norte, numa avenida movimentada, na divisa entre Três bairros: Casa Verde Alta, Parque Peruche e casa verde. Minha escola ficava em Casa Verde Alta.
O maior motivo de reclamação de minha mãe era o carro. Cada um tinha o seu, mas precisaram vender e comprar um só, um Fiesta preto, que meu pai monopolizava, segundo Ana. Eu estava apreensivo por precisar usar ônibus, pois praticamente nunca tinha entrado em um.
Foi apenas em meu primeiro dia de aula, que percebi o quanto as coisas mudaram radicalmente. Não precisava ser tão bem informado assim para saber como as coisas funcionavam em uma escola pública, bastava apenas que os pais tivessem a opção de não matricular seus filhos nela para se deduzir que havia um bom motivo.
De início, nada me assustou tanto. O lugar tinha a organização de uma escola, com um pouco menos de zelo, mais pichações e um clima de certa descontração entre os alunos, enquanto os professores pareciam tensos. O ônibus que peguei na Rua Zilda parou em um ponto de frente com o portão do colégio, avisei ao motorista que era a primeira vez que usava aquela condução e informei o nome de onde precisava parar.
Ele pediu que eu ficasse por perto e disse que me avisaria quando descer. Prestei atenção ao caminho, assim, não dependeria do aviso de ninguém no dia seguinte. Fiquei parado no portão da escola, irritado, por ter chegado tão cedo. Nunca me atrasei para a escola e não seria essa a primeira vez, entretanto, não precisava madrugar ali.
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A Reconquista
RomansaDizem que o primeiro amor a gente nunca esquece. Bom, nunca pensei em Jessica como meu primeiro amor. Ela foi minha primeira paixão, transa e de certa forma a primeira a quem magoei. Era tudo novo para mim, escola, bairro, amigos, paixão, sexo... Ta...