No pulo do gato

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Nunca em minha vida ansiei tanto para chegar um domingo, considerado por mim, um dos dias da semana mais chatos.

Acordei primeiro que todos em casa, me arrumei e fiquei em meu quarto esperando a hora em que elas chegariam. Sabe aquela sensação de que a droga do tempo não passa? Então, tudo parecia congelado e quando não, super lento. Ouvi meus pais levantarem, o mau humor matinal da minha mãe, entrando primeiro no banheiro e resmungando ao sem sentido pelo menos para mim e permaneci ali. Até ouvir minha mãe atender à porta uma eternidade depois.

Desci a escada feito um cachorro quando o dono chega. Eu necessitava de mais ajuda. Queria aquela ajuda.

Laura recusou tomar café da manhã, alegando já ter comido e Jessica também.

— Vai precisar da minha ajuda, mãe? – Eu não era sempre tão prestativo, mas queria me certificar de que se ela precisasse de algo, seria feito antes que eu e Jessica ficássemos a sós.

— Não, filho. A gente dá conta. – Minha mãe recusou, sentando-se à mesa e convidando Laura, um tanto impaciente, a se sentar também. — Vão fazer o trabalho de vocês, seu quarto já está arrumado, nem passaremos por lá. Eu ainda não comi, então enquanto faço isso, te explico o que precisamos fazer.

Quando ela se voltou para Laura, entendi o recado e meu pai também.

— Vou dar uma ajeitada no escritório, hoje trabalhamos até a hora do almoço, mas ficarei por lá para não atrapalhar. – Meu pai se despediu de nós e saiu.

Recebi um olhar da minha mãe, como se perguntasse o que ainda estávamos fazendo ali. A garota pegou sua bolsa e nós subimos. Meu quarto não tinha nada de especial, dos cômodos da casa, era o que menos tinha móveis e coisas de decoração. Uma cama de solteiro encostada à parede, um guarda roupa de frente para a cama e do outro lado, uma mesa de escritório com meu computador e impressora em cima e uma cadeira, claro, tinha uma baguncinha, nada fora do comum, algumas folhas e materiais de escola espalhados.

O clima ficou um pouco estranho no começo, não por ela, mas por mim. Qualquer movimento que eu fazia parecia estranho, ou deixava transparecer o quanto eu não sabia o que fazer.

Jessica sentou em minha cama e sorriu.

— Calma. – Pediu, chamando minha atenção. Sentei na cadeira e a encarei. — Tudo continua do jeito que estava. Fecha a porta do seu quarto.

Não pensei duas vezes antes de obedecer. Minha mãe não gostava de portas fechadas na casa, a não ser quando já estávamos dormindo, mas o som já tinha sido ligado e ela não reclamaria.

— O que precisamos fazer é simples. Você já digitou sua parte? A minha está pronta. Arrumei alguns erros, agora é só ler junto para ver como ficou e imprimir.

— Já fiz sim, está tudo certo. – Me sentei novamente e abri o arquivo no computador, escondendo a decepção pela mudança de assunto. A parte dela já estava no e-mail, então só o abri.

Ofereci meu lugar a ela, mas Jessica fez questão de ficar em pé atrás de mim enquanto líamos. Cada vez que algo não estava bom, ela se inclinava para frente e indicava com o braço esticado do meu lado.

Tentando conter a tremedeira que sentia, mantive minhas mãos no teclado e mouse, arrumando o que ela pedia e inalando o cheiro de sua pele, sentindo seu corpo em minhas costas. Lemos novamente o texto, com tudo acertado, ouvia a voz firme e doce dela sussurrar algumas vezes e os sopros que saíam de sua boca, me arrepiavam dos pés à cabeça.

— Agora é só imprimir. – Disse ao se afastar e sentar novamente na cama.

— Faço isso depois então, meu pai vai trazer tinta do trabalho dele depois.

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