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Acordei assustada com Lucca me avisando que chegamos. Olhei para fora da janela e vi que estávamos em frente a um prédio luxuoso e muito alto.

_Onde estamos?_só porque ele é bonito e simpático, não quer dizer que vou confiar totalmente nele de cara, né?

_ Minha casa_ele deve ter percebido minha tensão, pois logo disse_Relaxa, não ficaremos sozinhos. Meu assessor e minha governanta estão em casa. Ah e a Lana também, é claro. E sim, eles já sabem sobre você_falou adivinhando minha próxima pergunta. Estendi a mão para pegar a carteira dentro da minha mochila que estava no banco entre nós, mas Lucca me impediu, pois já havia pago.

_Não sei como funciona por aqui, mas de onde eu venho "rachar um táxi" significa dividir o custo da viagem _disse enquanto pegava no bolso do casaco um chiclete de menta.

_Minha mãe me mataria se sonhasse que deixei você pagar_ eu ri porque aquela era a pior justificativa do mundo. Quanto machismo em não querer dividir. Porém, Lucca tinha o semblante sério enquanto passávamos pelo saguão do prédio. 

_Espera. Você tá falando sério? Digo, sobre sua mãe?_perguntei incrédula.

_Sim, estou_ele se voltou para mim com a postura ereta e os olhos fixos como quem está pronto para responder a qualquer provocativa.

_ Qual é! vai me dizer que tem medo de ficar de castigo caso sua mãe descubra? Quantos anos você tem? 

_ Não é medo, eu só não quero ter o olhar de desgosto da minha mãe direcionado a mim. Não importa quantos anos eu tenha sempre, sempre vou respeitar os valores que meus pais me deram. É questão de honra_dito isto, ele se virou de costas para mim andando em direção ao elevador.

Desde que minha mãe morreu não tenho ganhado muitas "lições" de moral. Pelo menos não assim. Sei que Lucca não teve intenção de ser grosso comigo, pelo contrário, ele foi muito mais cordial do que eu teria sido se falassem da minha mãe. Mesmo assim, eu sentia um gosto amargo na boca e nem outro chiclete apagou isso. Enquanto subíamos elevador em silêncio eu pensava sobre o que ele disse. Sobre como tenho agido nos últimos anos, sobre meus valores de berço e constatei com tristeza que não tenho sido muito coerente com a educação que recebi. 

_Me desculpe_disse baixo. Ele se voltou para mim e esperou que eu concluísse_Me desculpe pelo que disse. Você só está querendo me ajudar e eu fui estúpida sem razão alguma_olhei no fundo de seus olhos mostrando que estava sendo sincera.

_Tudo bem_um pequeno sorriso lateral surgiu em seu rosto_Deve ser o cansaço. Você precisa descansar_ ao chegarmos ao décimo quinto andar as portas se abriram revelando uma sala ampla, com decoração moderna, mas muito simples. O mais impressionante, no entanto, era a vista. Não havia parede no lado que ficava virado pra rua, apenas vidro do chão ao teto. Quis correr em direção e ver mais de perto, mas uma figura me chamou a atenção.

_Grazie al cielo!_uma senhora baixinha, com bobes no cabelo e usando um robe praticamente gritou, mais uma italiana, constatei_Bambino, por que demoraram tanto? Eu já..._ela parou de repente quando olhou pra mim_ Ah que bela! qual seu nome criança?

_Selena_mal terminei de dizer meu nome e ela me puxou para um abraço apertado e me  arrastou pela casa. Olhei para Lucca e ele só deu de ombros e sorriu nos seguindo após largar as mochilas no chão da sala_Venha comer, deve estar faminta depois de tanto estresse. 

_Estou mesmo, muito Obrigada Dona Rita.

_Dona não! me chame de Zia ou de tia, se quiser falar em português_ela mantinha um braço sobre mim e sorria com tanta simpatia que me ganhou no mesmo instante.

Anima- Sopro de vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora