2

54 13 14
                                    

Cinco.

É o número de vezes que Jazz havia conferido as malas, os documentos e secado as lágrimas discretamente nos últimos dez minutos. Eu já estava começando a pensar em desistir tamanho aflito que me causava ver ela assim. O dia da partida havia chegado ou como Jazz passou a chamar o "fatídico dia". Era a primeira vez que faria uma viagem tão longa e sozinha. Talvez fosse por isso que ver minha irmã chorar tanto ao nos despedirmos no portão de embarque não só doía, como também me amedrontava. 

_Promete que vai ligar, mandar mensagem, foto, vídeo e até carta pra mim?- Jazz pediu pela milésima vez. Seu rosto já estava quase tão vermelho quanto seu cabelo de tanto chorar.

_Claro! Pra quem mais eu iria contar sobre meus dias sem graça naquele que não tem pão de queijo nem arroz com feijão e só tem casas velhas?_não ligo se dirão que isso é coisa de pobre, mas eu engordo só de pensar em comer massa todos os dias.

_ Não precisa fazer isso. Nós duas sabemos que os Italianos são lindos, que você vai suspirar quando for na casa de Julieta e que vai amar aquela cidade e não vai querer voltar - Jazz falou chorando ainda mais e tão rápido que tive de rir com o jeito dela. Sentiria falta da sua personalidade única.

_Eu nunca ficaria lá pra sempre sem você, juro juradinho. Mas não prometo nada as outras acusações- estendi a mão direita com apenas o dedo mindinho levantado e esperei que ela fizesse o mesmo para selarmos o acordo. Entrelaçamos os dedos, nos olhando nos olhos e por fim se abraçamos. Aquela era a segunda despedida mais difícil da minha vida. Quando nos soltamos, estávamos em prantos, mas com sorrisos nos lábios.

_ Eu te amo Sel. Que Deus te guie e coloque anjos pra te protegerem pelo caminho- disse Jazz com toda fé do seu coração. A simples menção de Deus, o vilão da minha vida , me fez torcer o nariz e querer correr o mais rápido possível pra dentro do avião. 

_ Eu também te amo, Jazz. Manda um beijo pros seus pais e pra todas as crianças da ONG. Vou sentir saudade _senti a voz falhar ao dizer "saudade". Ainda estávamos nos abraçando quando o último aviso para o voo foi anunciado.

 Ao passar pelos portões dei uma última olhada em Jazz e selamos uma promessa de  reencontro com sorrisos esperançosos. Eu não fazia ideia do que me encontraria quando desembarcasse, mas não via a hora de descobrir. 

 

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.



Lucca Santini

Madri, Espanha- cinco dias antes

_Eu não acredito que meu filho que eu criei com tanto amor e dedicação fez isso! - Regina Santini, minha mãe gritava ao telefone tão alto que todos os jogadores do time pararam para assistir ao show.

_Tô vendo a hora que a mamma Regina vai sair pelo telefone e cumprir a promessa de arrancar as orelhas do bambino aí- disse um deles e os demais riram. Olhei feio para os amigos da onça que se aglomeraram ao meu redor esperando ouvir a italiana descontar toda sua tristeza em mim.

_ Lucca, eu nunca deveria ter deixado seu avô encher sua cabeça com essas coisas de futebol. Porque a cada dez notícias que vejo sobre você, onze envolvem alguma modelo com silicone demais e roupa de menos. Olhe só aquela loira! Pensando bem não olhe, você já viu demais- ordenou minha mamma- Tão magra que posso ver os rins filtrando o sangue! Não quero uma nora que não coma. Eu poderia confundi-la com um espeto de churrasco!

A Santini se lamentava do outro lado da linha e divertia cada vez mais os espectadores ao meu redor. Não sabia se ria enquanto minha mamma terminava seu monólogo dramático ou se chorava ao pensar em como todos estavam errados sobre mim. As revistas e sites de fofoca adoravam me pintar como o bad boy destruidor de corações que a cada semana estava com uma modelo ou atriz diferente. Talvez a culpa fosse do sorriso de lado, das jaquetas de couro, cabelo bagunçado e da Harley-Davidson. Com certeza a culpa era da moto. A máquina era como um letreiro neon com os dizeres "Perigo, siga em frente". Só mais um esteriótipo que fazia de mim o mais novo "James Dean".

Eu era o segundo filho de Regina e Antonio Santini. Haviam ainda Enzo, o mais velho que e responsável pela administração da pequena vinícula da família; Giovanna, minha gêmea e melhor amiga; Luigi, meu fã número um, e Sophie, a caçula de seis anos de idade que era a minha menina dos olhos. Comecei a jogar muito cedo, mas não deixei que a fama e o dinheiro me mudassem. Depois de Deus, minha família era o mais importante de tudo pra mim. Sou considerado jovem prodígio do futebol europeu, colecionava gols para o Real Madrid desde que entrara para o time aos dezoito anos. Oito anos depois, eu já estou cansado de todos os treinos, coletivas, mídia e falta de tempo para aproveitar mais as coisas simples da vida.

Pensava em me aposentar após a próxima copa do mundo e passar o resto dos dias curtindo a normalidade que foi perdida com a primeira manchete de jornal. Trocaria a camisa 10 por algumas crianças correndo com os cachorros pelo jardim de uma casinha no meio do nada e alguém que gostasse mais da minha companhia do que da minha conta bancária. Mas outro plano precisava ser posto em prática e o mais rápido possível. Soltando um suspiro resignado, corri risco de vida ao interromper minha mãe e dizer com toda a calma possível:

_ Mamma, chego em casa daqui a algumas horas. Precisamos conversar. - desliguei o telefone, me despedi dos colegas que protestarão pelo fim da minha humilhação pública e rumei em direção a saída seguido por Alfredo, meu assistente e melhor amigo.

_ O que vai fazer agora? A temporada acabou e seu contrato pro ano que vem já foi assinado. Tem pelo menos quatro meses antes do próximo evento oficial. Vai ficar em casa? Vou gostar de ter uma desculpa pra ver sua irmã todo dia. - Ele disse para provocar Lucca.

_ Férias. Preciso de espaço. Tem muita gente querendo decidir quem eu sou e o que devo fazer. Preciso de silêncio pra ouvir a única pessoa que importa e dar o próximo passo. Mas por enquanto, vamos para casa amigo. E fica longe da Giovanna. - partilharam um sorriso cúmplice pois Itália significava apenas uma coisa: lar.


Mais um capítulo por hoje com algumas modificações, mas mantendo o principal: meu menino Lucca ainda vai ser meu queridinho! Deixem seus comentários, votos me façam feliz :)


Anima- Sopro de vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora