capítulo 5

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                  Hoje não acordei muito bem do estômago, não sei se foi o jantar que pedimos ontem a noite que me deixou com mal estar, mas sei que estou com tudo se revirando dentro de mim. Tomei um antiácido assim que cheguei pela a manhã mas parece que não resolveu ,meu café da manhã está subindo e descendo, doido para sair . Logo hoje que tenho um dia cheio, preciso terminar a semana pra poder ficar tranquila enquanto estiver a casa dos meus pais, essa festa que eles vão dar  já  será ocupação suficiente para mim. Olho no relógio e já está perto do almoço, não sei se comida será bem vinda no momento , mas não posso passar o dia todo sem comer. Penso em algo saudável e leve que não seja colocado pra fora quando eu terminar de comer.  
               Deixo Clara na sala e vou até a recepção, pretendo falar com o tio da Clara e ouvir sua versão da história. Isso deveria ter sido feito antes de eu avaliar a garota mas infelizmente não foi possível, então acho que agora seja possível. Ao que parece ele é um homem muito ocupado então espero que ela ainda tenha um tempo para ouvir o que tenho a dizer. Na recepção a Ana me diz que mandou ele esperar no meu escritório, ele queria entrar para acompanhar a consulta mas ela explicou a ea como funciona e que ele poderá acompanhar tudo da minha sala , ele não parecia muito feliz com o que ela disse mas não questionou .
_ Doutora que homem é maravilhoso e esse?-  ela fala se abanando. Olho para o ar e vejo que está ligado, por que ela está com tanto calor?
_ Do que você está falando sua maluca? - digo fazendo algumas anotações na ficha da garota, tentando respirar a fundo para ver se o mal estar passa.
_ O tio da garota doutora! A senhora não viu mas ele é lindo, um Deus grego eu diria .- ela volta a fingir que está com calor, já eu estou suando frio mas ela está tão empolgada com a beleza do homem e que em percebe.
_ Acalme essa sua perereca Ana e aja como a boa profissional que eu sei que você é ! - ela revira os olhos e segurei minha vontade de rir.
_ Quando a senhora ver o homem gostoso que lhe espera vai deixar de ser profissional também. - ela fala sorrindo debochada.
_ Preciso ir, ao que parece o dia hoje vai ser cheio! - falo apontando para as pastas que ela empilhou em sua mesa.
_ Graças a Deus! Preciso manter o meu emprego! - ela fala ainda olhando para as pastas com as fichas dos pacientes.
_ Ana você pode pedir algo leve para o almoço? Meu estômago não está muito contente hoje. - digo pensando no que poderia ser bom para o almoço .
_ Vou ligar e ver o que tem de opções leves hoje o restaurante doutora e depois lhe aviso. - ela fala pegando o telefone.
_ Obrigada!        
              Sigo para a sala que fica ao lado da sala infantil, onde eu estava conversando com a Clara ainda com meu estômago revirando. A sala  foi preparada especialmente para que os pais observem a consulta sem interferir, assim a criança fica mais à vontade por que não sabe que está sendo observada, além disso todas as conversas são gravadas, tanto a conversa que tenho com os pacientes como a que tenho como seu acompanhante ou responsável. Na sala tem uma meia parede de vidro, tipo aquelas salas de interrogatório, os pais podem observar o comportamento das crianças enquanto converso com elas, sempre fico de costas para o vidro, quero que vejam apenas a reação de seus filhos, quero que vejam o quanto os filhos sofrem, isso geralmente faz eles acordarem para a realidade. Como as crianças não sabem que são observadas, elas ficam mais à vontade para falar, elas se sentem seguras por verem que podem contar o que quiserem que ninguém ficará sabendo.
             Com o tempo e ao passo que as crianças vão confiando em mim, elas se soltam e passam a revelar como se sentem sem medo e assim eu posso ajudá-las melhor. Essa sala tem por objetivo também observar as seções onde há interação com a criança e seus familiares, não é sempre que permito que o responsável acompanhe as seções, apenas quando quero que eles percebam algo que quero destacar, as vezes quando eles veem a reação dos filhos,eles conseguem entender o que quero dizer. Neste caso, nas seções em família, sou eu a Doutora quem os observa e depois eu dou meu ponto de vista baseado no que estudei e aprendi. Já aconteceu de alguns pais não saírem satisfeitos, em alguns casos eles nem voltam mais, em outros voltam arrependidos por que em algum momento percebem que eu tinha razão, mas o fato é que é necessário humildade para aceitar um conselho e mais ainda para colocá-lo em prática. 
             Entro na sala torcendo para o tio da Clara seja uma cara de mente aberta, disposto a trabalhar junto comigo para o bem estar da garota, mas tenho uma grande surpresa. O homem que tem ocupado meus pensamentos os últimos dias, o mesmo que  bateu no meu carro está em pé em frente o vidro e parece perdido em pensamentos. Fico tentando entender o que esse homem estaria fazendo aqui, atrapalhando meu trabalho? Onde se enfiou o tio da menina? Será que ele foi abduzido pelo telefone? E.... O que ele faz aqui?
               O homem está tão perdido em si mesmo que em percebe minha presença. Tenho vontade de sair da sala e perguntar pra Ana por que ela deixou este homem e entrar e não me avisou nada. Nunca imaginei que voltaria a ver o homem e muito menos que ele viria até mim.
_ Bom dia! Posso ajudá-lo? - Ele me olha com espanto. Parece que ele também não esperava voltar a me ver algum dia.
_ Você aqui?

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