Lost (h.s)

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Apesar de ainda estarmos a meio de setembro a chuva já bate no vidro do carro. Estamos a caminho do aeroporto e o meu irmão não para de reclamar que tem fome. Sinceramente estou tão nervosa por andar pela primeira vez de avião que só me apetece colar-lhe fita cola na boca para que se cale.

- "Mãe ainda falta muito? Tenho fome"

- "Por favor Josh cala-te" Digo enquanto gesticulo com a mão

- "Alguém está muito mal disposta" O meu pai diz não tirando os olhos da estrada

- "Não estou mal disposta, estou apenas ..."

- "Com medo" O meu irmão interrompe-me

As gargalhadas deste pequeno miúdo de 10 anos estão a tirar-me do sério.

- "Mãe" Digo num tom de quem implora por ajuda

- "Vá lá Josh deixa a tua irmã. Ela está nervosa porque vai ter de andar de avião e devias aproveitar para ser bonzinho com ela, vais passar um bom tempo sem a ver"

As palavras da minha mãe trazem-me de novo há realidade. Por um lado eu quero ir para lá, mas por outro eu não quero estar sozinha. Eu não quero estar longe dos meus pais e nem mesmo deste meu irmão irritante. Eu só tenho 18 anos.

Quando fui aceite na UEL pulei de felicidade e até chorei por saber que todo o meu esforço tinha sido reconhecido. Passei anos da minha vida a estudar para conseguir entrar nesta universidade com que sonho desde pequena e finalmente pude ver o meu sonho realizado. Mas agora que penso bem nisso sinto-me assustada. Sou demasiado apegada há minha casa e as minhas coisas e deixá-las assim vai doer. Eu sei. Sair de Dublin para ir para Londres não me deixa, de todo, confortável.

O silêncio que invadiu o carro é constrangedor. Parece que nem o meu irmão se atreveu a fazer qualquer tipo de comentário as palavras da minha mãe. Pelos vistos não é só a mim que assusta ter de estar longe de todos. Toda a minha família sofre com isso.

A fila para a casa de banho parece não ter fim e eu estou mesmo aflita.

*Voo com destino a Londres parte daqui a 5 minutos*

Perfeito. Eu posso sempre ir há casa de banho do avião, mas sinceramente acho que assim que me sentar não tenciono voltar a levantar-me. Dou graças a deus por o voo ser apenas de 1h e pouco.

- "Melissa despacha-te se não perdemos o voo" A minha mãe grita do outro lado enquanto segura a mão do meu irrequieto irmão.

Bem vou ter mesmo de aguentar a minha vontade intolerante de ir há casa de banho. Ainda por cima a minha mãe acaba de gritar por o meu lindo nome há frente desta gente toda. Isto não podia estar a correr melhor.

- "Já estou aqui. Podemos ir. E não me chames Melissa"

- "Mãe. Tenho fome"

- "Josh já te disse que não podes comer enquanto não chegarmos a Londres. Tu enjoas facilmente"

O meu irmão fez a sua cara mais zangada que conseguia e eu dei por mim a sorrir e a pensar no quanto eu ia sentir saudades das suas birras.

Mal desci daquele maldito avião pude suspirar de alívio. Ao menos estou viva, acho. Sim estou mesmo viva. Mas preciso urgentemente de ir há casa de banho.

- "Pai vais ter de parar algures. Preciso de ir há casa de banho"

- "Porque não foste lá no avião Mel?" O meu pai questiona como se não fosse óbvio

Ia preparar-me para falar mas como sempre não me foi permitida tal coisa.

- "Porque teve medo" O meu irmão disse enquanto sujava as mãos com o chocolate que a minha mãe comprou depois de alguns minutos de suborno emocional.

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