1º Capítulo

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  • Dedicado a Joana Almeida
                                    

     -Olive...Olive...

 Esta voz... Ouço-a todos os dias de madrugada, a chamar por mim como se tivesse algo a declarar, como se a sua presença indicasse algo mais que um simples sonho. Como se aquela voz distante e insípida me quisesse transmitir uma mensagem importante. Sempre que a ouço olho para trás, na esperança que essa "entidade" apareça aos meus pés, mas em vão... É tudo um simples sonho.

Sexta Feira, sete da manhã, acordo para ir para a escola. Faço as malas, tomo o pequeno almoço, vou tomar banho, lavo os dentes, e saio a correr que nem uma maluquinha. Sempre tive medo, medo de tudo, receio de que toda a gente estivesse naquele momento a olhar para mim, o que normalmente não costuma acontecer porque não sou propriamente "popular" na minha escola.

A minha primeira aula da manhã, Matemática. A professora tenta sempre despertar a minha atenção, mas raramente o consegue fazer. Estou sempre a pensar naquela voz.

-Olive Beth! Esteja atenta. - reclama a professora.

-Sim, professora. Desculpe. - dou um jeito aos meus óculos, arranjo o cabelo, as canetas, os cadernos, os livros, e volto ao trabalho.

Acabou a aula. Descanço as pernas de tanto estar sentada, e vou ler um livro. Odeio romances, todas aquelas histórias ficticas sobre "Princesas" e "Raínhas". Gosto de aventuras, adoro a Lara Croft, para mim é a maior heroína.

Quando cheguei a casa, deitei-me de barriga para baixo na minha cama. Soube imensamente bem, parecia que já não descançava há anos. Fui para o computador, fiquei até tarde nele, por isso, só adormeci às 2h da manhã.

Acordei a meio da noite para ir beber alguma coisa. Estava muito silêncio, pelo que podia até ouvir o meu coração a bater. De repente, ouço um berro vindo da casa do meu visinho George, salto com o susto que apanhara. Fui ao quarto da minha mãe, pois tinha um pressentimento de que algo se passava na casa de George:

-Mãe? 

Entro no quarto, ouço o ranger da porta velha da minha casa, caminho ao longo do corredor sombrio. Acendo as luzes e reparo que o quarto estava vazio. Comecei a entrar em pânico, fui ao quarto do meu irmão, e estava igualmente vazio, liguei a televisão dele:

- Notícia de última hora, uma epidemia começa a ser espalhada pela América. Vitimas de ataques afirmam que os "doentes" têm ataques de raiva e de canibalismo. 30 pessoas foram "mutiladas" pelos doentes e 20 estão em estado crítico.

Fiquei boquiaberta com as notícias. Fiquei sentada a pensar um bocado, mas rapidamente me mexi e continuei à procura da minha mãe e do meu irmão. 

Desci as escadas de minha casa, o chão rangia de velho. Assim que me aproximava, ouvia uns "sons" vindo da cozinha. Aproximei-me da porta, e com a minha mão fria e suada, abri a porta com calma. Acendi as luzes, e vi a minha mãe sentada na cadeira da cozinha, que estava de costas para mim.

-Mamã?

Conseguia ouvir um ruído vindo daquele sitio, aproximei-me ainda mais, e a minha mãe salta da cadeira como se tivesse tido um ataque cardíaco, e corre, em fúria. A sua cara estava esburacada, cheia de rugas e sangue, e o seu vestido estava rasgado. Em pânico, fugi, e fechei a porta à chave. Ela esmurra a porta, fazendo um barulho enorme. Desatei a chorar, e senti-me perdida, sem saber o que fazer a seguir. 

O meu pai, Roger, trabalha no exército militar, e já está fora há uns meses. Lembro-me de ele me ter dado uma arma, e eu ter recusado, e ele a ter guardado na caixa dentro do armário. Por muito que me custasse, tinha de pegar naquela arma, e sair dali o mais depressa possível. Regressei ao meu quarto, fui ao meu armário e retirei a arma. Na caixa, havia um manual de instruções. Guardei-o. Carreguei a arma com 10 balas, e regressei à cozinha... Quando lá cheguei, estava a minha "Mãe" a comer o nosso cãozinho, Floyd. Entrei em desespero, gritei:

-NÃO! Mãe?! 

Assim que me ouviu, saltou para cima de mim, fazendo-me perder o controlo da arma. Tentei resolver as coisas de outra forma, mas acabei por lhe disparar com a arma. Havia sangue por todo o lado. Encostei-me ao corpo da minha Mãe e disse:

-Perdoa-me mamã, por favor. - fechei lhe os olhos e saí de casa.

Lágrimas De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora