A linha sem sentido ou forma

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Eu estava tão aflito quanto possível e não consegui dormir aquela noite.  Me enfiei no escritório de casa e fiquei desenhando cenários em Minha mente... fisgado, por uma curiosidade terrível que me impulsionava com um desejo imensurável que não me permitiria parar até desvendar aquele mistério.

Nada fazia muito sentido ainda então me deixei cercado de meus arquivos e comecei a buscar por respostas em casos antigos não solucionados. Haviam pistas demais e muitas evidências que não continham ligação ou  algum princípio de lógica sequer, mas, depois de algumas horas,  comecei a expandir minha linha de visão e percebi que não era um caso tão incomum assim.
  Corpos dilacerados e com pouco ou nenhum sangue apareciam em diversos casos a cada alguns meses. Todos eram igualmente semelhantes em serem incompreendidos e, na maioria das vezes,  abandonados ao esquecimento por investigadores preguiçosos.
- Quantos quebra cabeças sem término... eles acabam por encobrir os crimes com essa incompetência.

Mas, diferente dos detetives anteriores a analisar este mistério, eu nunca abandonei um caso sem solução e não seria agora que o faria. Calculei áreas de ataque e cruzei informações de ruas durante algumas horas e um quadro geográfico já podia ser visto. Os casos mais comuns eram no Queens, o maior dos distritos da cidade... mas também houveram incidentes parecidos no Brooklin e Bronx. A quantidade de violência nesses bairros específicos disfarçava bem qualquer suspeita de algo mais que um mero assassinato e isso tornava muito pouco palpável a constatação de que eram, de alguma forma, incidentes ligados a um mesmo assassino.

Se eu estava lidando com um serial killer, como imaginava, ele é extremamente inteligente e isso me incomodava tanto quanto me instigava... era alguém que me seria um desafio a altura.

-Mas todo serial tem um padrão... onde está o padrão aqui?

Os corpos encontrados eram sempre iguais em serem totalmente diferentes. Mulheres bonitas e jovens, velhos indefesos ou gangsters agressivos... sempre alguém de estilo e classe social distinto e sem aparente conexão.

- qual a ligação entre estes? E esses métodos? Por que matar e tirar o sangue? O que ele quer dizer?

Eu estava diante da coisa mais complexa que já presenciei. Comecei a traçar as linhas criminais dos casos de maneira a tentar encontrar um fim lógico, mas nada se encaixava... seja lá o que tivesse em mãos, era o maior caso da minha vida. E ainda havia algo a considerar.

-em todos esses casos... apenas um corpo sumiu.

  Acabei por desmaiar em meio ao trabalho e abri os olhos novamente com o sol que atravessava a janela.

- droga... odeio quando isso acontece- balbuciei em meio a bocejos sonolentos e me apressei em me arrumar, reunindo o bruto do que havia descoberto. Não tinha qualquer resultado concreto, mas já estava bem longe de um início cego e estava ansioso para por a investigação em desenvolvimento. O nível de dificuldade revelado me deixava mais animado para alcançar logo uma conclusão.

No caminho para a delegacia, parei no marphi para comprar o café e me distraí com a televisão em que o jornal estava relatando algo sobre alguns dos estranhos casos dos últimos dias. Uma jovem repórter falava às câmeras. 

- E a polícia ainda não tem qualquer idéia de que tipo de causa ou efeito teria levado a estes estranhos óbitos, mas, por meio de declaração oficial, o delegado já nos adianta que se tratam, com certeza, de incidentes isolados e possivelmente ligados a atuação de gangues e que não se deve criar qualquer pânico por parte da população.  Afirma também,  com veemência,  que os processos investigativos estão a todo vapor para que  tudo seja logo esclarecido...

O meu sangue ferveu ao perceber que, ignorando todos os relatórios que deixei nos últimos dias, já estava se cometendo o equívoco de anunciar qualquer coisa publicamente... com certeza uma forma de incubrir o acontecido para que os boatos acabem, mas também significa que já há uma boa desculpa para encerrar o caso com uma explicação genérica que irá agradar a grande massa...

- não podem me jogar de lado assim!- falei quase que para mim mesmo não reparando que já estava tão mergulhado em pensamentos que perdia completamente a noção do meu entorno. Fui então acordado com a suave voz da garçonete a minha frente.
- senhor... senhor... vai querer o de sempre, certo?
- ãn? Ah... sim, sim, isso mesmo! Me desculpe, acho que ainda estou dormindo- falei com um sorriso descontraído para quebrar a tenção.
- então acho que vou acrescentar um expresso como cortesia de hoje.
- agradeço muito rsrs.

  Ela se afastou para pegar o pedido e eu já me via voltando aos meus pensamentos quando uma estranha mulher se sentou a minha frente na masa da lanchonete. Ela tinha um ar sério e reservado que era reforçado por um pesado sobretudo negro que dava realce aos longos fios lisos de cabelo castanho.

- bom dia detetive... Williams

- ãn? quem é você ?- perguntei, por um momento, assustado

- evidente que esqueceu seus modos no escritório rsrs- ela tinha a expressão bem dura e seus risos soavam como deboches leves e curtos, carregados de intensa ironia que testava minha paciência. - e... sou alguém que está bem interessada em seus últimos trabalhos.

-  não viu a TV?  Apenas incidentes isolados ligados a gangues.

- entendo... o mundo se tornou um lugar muito perigoso.- aquele olhar... ela estava escondendo algo e me julgava com aqueles olhos castanhos intensos. Talvez aquilo fosse uma espécie de teste. Mas de quem ? - vai encerrar o caso?

- não acho que deveri...- a garçonete retorna e acaba por me interromper de súbito modo

- seu pedido senhor- ela cora suas bochechas, provavelmente notando o que acontecia- ãn... me desculpe

- está... tudo bem!- ponho o dinheiro em sua mão e, com a outra pego meu café para viagem. - eu já estava de saída.

- te-tenha um bom dia- ela diz um pouco sem jeito pelo clima pesado.

Enquanto passo pela Mulher para sair dali ouço novamente aquela voz debochada e serena.
- tome cuidado quanto aquilo em que se mete detetive... às vezes, em nossa contenda por perfeição, buscamos coisas que iríamos querer não achar.

Não entendi direito na hora, mas não pensei em parar para debater mais. Sempre há um ou outro louco bancando o misterioso para perturbar um detetive... o mundo real não acontece como uma história de um dos livros que lia na adolescência e por isso calculei que não significava nada.

Chegando ao trabalho, fui direto aos arquivos para buscar por mais casos e notas antigas, que talvez  pudessem me ajudar com este quebra cabeça. Busquei por alguns minutos, até que  Joe veio rapidamente me impedindo de continuar. Quando já tinha algumas coisas preparadas.

- melhor tomar esse café no carro! Temos trabalho a fazer.
- o que?
- você não viu o jornal ?
- o que dizia que meu trabalho não vale nada?
- também... mas também falou de outro incidente... já fomos destacados para investigar.
- droga...- tantos incidentes em um espaços tão pequenos de Tempo... desse modo não poderia trabalhar minhas ideias para chegar a qualquer lugar. - não deveriam acontecer tantos de uma vez... algo está errado
- óbvio que algo está errado! Tem pessoas morrendo. Vamos logo.

Nem esperei que ele terminasse. Desci em direção a viatura enquanto meu parceiro explicava o novo "incidente" no caminho para a cena.

- uma senhora de 78 anos, a 50 metros de sua casa na rua da ponte Golden Gate. Seja lá quem fez isso, limpou tudo da velha... o dinheiro, documentos, chaves e o sangue...



Olá, minhas crias da noite... espero que estejam gostando  da história e, se for o caso, comentem tudo o que estiverem achando. Sintam-se a vontade Para dar dicas e até críticas construtivas. Eu demoro um pouco a postar, mas podem ter certeza de que, enquanto ótimos leitores como vocês estiverem , eu não pararei este livro sem final. S2

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⏰ Última atualização: Apr 19, 2018 ⏰

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