Justiça

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Vocês viram que anteriormente, meu pai sofre de seu primeiro arrependimento, aquele momento em que ele desejaria voltar no tempo, chamar minha tia para um café horas antes do suicídio. Conversar, ouvir e tentar convencer, acredito que são a base para alguém que deseja mudar o pensamento depressivo e que encarrega a morte nas costas como uma rainha, por sinal, depois de sua morte, acredito que os custos diminuíram porém, o coração de meu pai e sua única irmã, se tornaram tão sombrios que cabia apenas uma coisa em suas cabeças: Justiça.
   Essa palavra forte não veio a tona e talvez em um tempo atrasado, quem sabe isso não aplique-se no momento em que minha tia estava sendo estuprada na frente de Damian, o que resultou em dois idiotas espancados, ele se segurou se não teria-os matado muito mais cedo, antes que fizessem algo a Rose. Me contava ele, que toda vez que iria até a universidade, notava alguns olhares estranhos para minha irmã. Aquilo, foi um fato relevante.
   Os dois que ele havia socado e mandado diretamente ao hospital poderia retornar sem nem ao menos pensar nas consequências e era óbvio que aquilo iria influenciar os dois, como se não houvesse amanhã, o travesseiro de Jéssica acordava molhado e acredito que seria suas lágrimas... Enquanto meu pai carregava nas costas, a culpa que não existia. Apertando suas mãos, para terminar o que tinha começado, faltava apenas um: Big.

   - Jéssica, vou trabalhar, nada de festas. -- Mentia para minha tia.

   Na pior das hipóteses, enquanto ele ditava essa aventura, sentia um arrependimento de não poder ter dado mais atenção as irmãs, visto que a culpa de Rose estar morta, para ele, era culpa do mesmo. Dentro de seus olhos, apenas o julgamento dizendo que o coração estava murcho e somente Jéssica poderia anima-lo, afinal, não sei bem quem foi minha mãe... Ainda resta minhas dúvidas.
   Enfim, Big era apenas apelido, seu nome real era Jacob Wheaton. Mesma estatura de meu pai, porém de cor oposta a ele (isso não é racismo), meu pai tinha um jeito de ter amizade com todos, sem julgar a raça, estrutura social e financeira. Era isso que eu mais admirava nele, a maneira de tentar acolher todos, sabendo que são da mesma raça e que isso não era uma maneira de virar político, consumindo mentiras enquanto torturava os mais pobre ou até mesmo vendia-os como produtos para mercadores contrabandistas. Ele não era disso, talvez uma realidade oposta seria possível. Para ele, as pessoas deveriam deixar de se importar com isso e começar a viver suas vidas... Jacob era um mal que teria que acabar, pela raíz de sua cabeça.
   Dentro da prisão, no banho de sol, Jacob acabava por terminar de malhar, exibindo seus músculos para os seus companheiros de cela, quando o sinal tocava e era uma maneira de dizer que ocorria uma rebelião naquele momento, os setores se misturaram e a pancadaria rolava a solta, menos um presidiário que continuou em sua cela se manteve lendo seu livro cautelosamente. Não tinha intrigas e era anti-social dentre os presos, denominado como Connor.
   Jacob queria aproveitar o momento para fugir, do banho de sol até a chamada "liberdade" era questão de segundos, que se transformariam em minutos por conta do total caos que a prisão estava. Talvez uma estratégia do governo, de liberar os presos para se matarem e abrir espaço nas celas para novos integrantes... Como muitos dizem: Bem-vindo ao inferno. E para Jacob, só de estar no meio de uma briga já era a camada mais profunda do inferno, levava socos e chutes, mas sempre estava de pé e devolvia na mesma quantidade, querendo apenas sair daquela localidade. Pobre homem... Ao olhar para os lados, observou que uma figura preta estava atrás das câmeras de vigilância e se queria sair dalí, precisava passar pela sala de controle, em direção à ela, estava soado, cansado e levemente fraco de mentalidade, a cada passo, parecia uma tortura e que seu sonho de ganhar liberdade se tornava mais distante que o próprio.
   O trabalho do meu pai, não era nada menos que aplicar a dor e o sofrimento naqueles que praticavam o mal. Sentir na pele todo o ódio que escorria do sangue dos malfeitores era uma das melhores sensações, ditas por ele à mim, seu filho. O termo "justiça", era para ele, sinal de violência sem limites, matar vidas e arrancar o passado delas... Essa era a liberdade. Naquele momento, ele era a voz que atormentava Jacob e que todas as noites ele sonhava com Damian, matando-o.

   - Eu preciso chegar lá... -- Os passos se tornavam frequentes e ele estava na porta da sala de controle. -- Isso!

   Tão contente, começou a apertar quaisquer botões para se livrar daquela cadeia imunda e tão sangrenta... O campo de batalha dos presos, os que se diziam injustiçados, mostraram as verdadeiras faces por trás de seus atos sutis e maléficos. Jacob saía da sala, e ao chegar no corredor final, via uma figura vestida de preto, com um moletom e seu rosto mascarado de branco... Uma espécie de Jason de sexta-feira 13.

   - Eu sou a morte... Jacob. -- Dizia já tendo em mente que ele iria perguntar sobre sua identidade.
   - A morte?! Tá maluco, cara? Sai da minha frente! -- Jacob parecia estar fraco demais dessa vez, somente ouvindo o grave daquela voz e que de certa forma assimilava com aquele que o espancou.
   - A cada passo que der, sentirá uma dor... A dor que matou suas vítimas. -- A figura dizia com total segurança de suas palavras, estava instruindo-o a parar para escutar.
   - Não diga besteira, ou eu irei te matar, filho da puta! -- Andando até a figura. --
   - Você morrerá... Como foi-lhe pedido pela sua alma.

   Algo despertou Jacob, parecia ter entrado no jogo de morte e apenas morte... Escolhendo a maneira de como deveria morrer, se preferia pelas mãos de outros ou pela própria mão. Sua mente se tornou um revólver que apontava para si, e que na verdade, todos os passos dados até a figura foram palavras ditas pela tal, sobre suas vítimas e quando chegou em uma especial ele já saberia o que fazer.

   - Rose... Walker. -- Eram duas palavras fortes para Jacob que ouvia atentamente. --
   - Não... Não... Não... Isso é um pesadelo! -- Estava atordoado, botando as mãos na cabeça, com medo que sua hora teria chegado verdadeiramente. --
   - Morta pelos seus atos... O que fará, Jacob? Há um revólver a sua frente, pode tentar me acertar, mas sabe que irá morrer, não importando como. Seu atestado está assinado.

   O suor começava a se intensificar e ele ainda continuava com a mão na cabeça, prestes a abrir seus olhos, afim de enxergar o revólver a sua frente. Ele pegou-o, colocou as balas e mirou... Sorriu pela última vez enquanto derramava lágrimas de sangue, o sangue da sua última vítima de estupro.

   - O que eu estou fazendo?! -- Parecia que não era ele que fazia isso... E sim uma força. Superior a ele.

   O cano da arma estava em seu pescoço... Apertou o gatilho, a bala saiu, penetrou a estrutura do crânio, atravessando-a em questão de milissegundos, a potência foi tanta que um de seus olhos saíram. A figura preta parecia estar contente e soltava um suspiro de alívio, com sua luva, pegava um dos olhos de Jacob, agora morto na sala de controle. Com a outra mão, ele desligou todas as câmeras, arrumou um prego e fincou o olho sobre ele, colocando-o no lugar do microfone sobre a mesa, era uma figura misteriosa, que retirava sua máscara e deixava bem clara a seguinte mensagem aos presos:

    - Todos podem me ouvir? Ótimo... Não importa como, quando e como, seu colega está aqui... Morto. E alguns de vocês, serão os próximos. -- Ele saía da sala e as câmeras ligavam-se novamente, os presos estavam surpresos.

   Até que uma tela surgiu no pátio, onde há a maior concentração de homens, vendo o corpo do colega morto pelas próprias mãos... Essa, era a justiça aplicada para ele, o senhor da morte, o Walker... Damian... Damian Walker.

Próximo capítulo: Partição.

The WalkersOnde histórias criam vida. Descubra agora