Partição: Parte 2

20 2 0
                                    

[ Nove meses depois ]

        Era uma boa época, 2009, iriam fazer nove meses que Damian e Evellyn estavam namorando, quem sabe, rolaria até um pedido de casamento, claro, tudo isso seria um sonho para os dois, se não fosse o pai daquela mulher, Bruce Hopkins, quarenta e cinco anos, praticava Kung Fū e era comandante de uma das facções criminosas que atuavam em NY, superprotetor, nunca deixava Evellyn sair de casa sem ao menos um ou mais de seus capangas a seguirem como verdadeiros detetives, por sorte, na noite do pedido de namoro, ela percebeu movimentos suspeitos quando saía de casa e certamente não gostava daquilo. Era um lado dele que era impossível mudar, mas se ele descobrisse quem era o pretendente, faria de tudo para que o relacionamento acabasse e ela não pudesse perceber o porquê. Ele seria capaz de matar por isso.
        Em prol da comemoração desses nove meses de namoro, Damian tomou partida e pediu para que sua namorada o apresentasse para seus pais, nesse momento, ela parecia estar inquieta e não queria que isso acontecesse, por medo de seu pai fazer coisas terríveis com o meu. Ou então, por ele ser o único da residência que odiava contar seu passado para ela e ainda assim demonstrava desgosto desde a noite no parque. O que se torna possível dizer que, nada mais era que ciúmes... Um tipo de ciúmes possessivo, sabe-se lá o que ele fazia com Evellyn naquela casa, na cabeça de Damian várias hipóteses tomavam conta e era por isso que ele sempre foi tão preocupado com o bem-estar da namorada. Incestos... Abusos e entre outras coisas, eram fantasias que atormentavam meu pai que preferia tirar essa história a limpo.

   Telefone tocando.

        - Alô? -- Era um momento cauteloso para Damian, que era surpreendido com uma notícia não muito alegre.
        - Damian? Sou eu, Evellyn. Estou te ligando de outro número porque... Meu pai está me seguindo dessa vez e creio que mais alguns vieram com ele. Tome cuidado, por favor.
        - Relaxa, o mínimo que seu pai pode fazer é dar um sermão. -- Ele desligou a chamada, com uma risada suspeita.

        Damian respirou fundo, e decidiu seguir para a loja das verduras, as mesmas pessoas estavam lá, o que atiçou mais os sentidos e o perigo que estava eminente, o dono da loja teria saído, ou sido pago para isso, ainda era entardecer e mesmo assim, existiam poucas pessoas nas ruas, uma parte menos movimentada da cidade, podemos dizer. Ele prestou bastante atenção naquelas pessoas, que por coincidência ou não, escolhiam garrafas de vinho na mesma seção. Damian pegou o celular e ligou para Jéssica.

        - Jéssica?
        - Oi, Damian!
        - Tem alguns caras me seguindo.
        - O quê? Quer que eu chame a polícia?!
        - Não. Vou enviar um SMS com o número de Evellyn, você sabe muito bem quem é ela.
        - Ah, sim... A patricinha. -- Ela demonstrou estar enciumada, afinal, não conseguia ter a figura do irmão por perto por conta dela.
   - Também não é assim... Enfim, eu vou deixar a ligação rolando, grave a nossa conversa e envie imediatamente para ela quando meu celular desligar a ligação, tudo bem?
   - Vai arranjar confusão outra vez? Dá um tempo. -- Suspirou pelo microfone do celular. -- Certo, certo. Cuidado, mocinho. Tenho algo para te contar quando voltar para casa.

   Meu pai já não respondia nada, deixou a ligação rolando e bloqueou o celular, eram cerca de cinco pessoas, três homens e duas mulheres, ele teria que quebrar leis se quisesse sobreviver de um possível espancamento, visto que para legítima defesa não existe nada acima, não é?
   A ação começou, o primeiro deles se moveu até as costas de meu pai, tentando distrair sua atenção, enquanto uma das mulheres locomoveu-se para a esquerda, segurando a garrafa. O homem atrás dele, segurou os braços de meu pai, na tentativa de imobiliza-lo, mas foi surpreendido com um pisão em seu pé, o que fez solta-lo, a mulher notando a ação, atacou horizontalmente visando a cabeça de Damian, só não contava com o método de esquiva dele que foi simples demais, se agachar e interceptar o ataque com um chute rasteiro, derrubando a mulher que batia a cabeça no chão e desmaiava. Uma sequência de golpes precisos foram executados com os pés no homem que o segurou atrás. O segundo sujeito estava com uma USP-12 de silenciador, eles chegaram para matar e não apenas dar uma lição do qual ele não deva namorar mais Evellyn. Meu pai se ergueu e usou o corpo do primeiro homem como escudo humano, que foi atingido nas costas e no pescoço, obviamente já estaria morto e seria mais um cadáver qualquer, aproveitando essa brecha, jogou o cadáver encima do homem armado e usou uma voadora de dois pés no peito do defunto, derrubando ambos e fazendo com que ele perca o manuseio da arma, antes que pudesse se levantar, Damian observou a posição dos outros dois que corriam para aproveitar que ele estava caído, respirou fundo e assim que se levantou, pegou duas garrafas de vinho na prateleira, os olhos vagavam a loja em busca de pontos estratégicos, cegamente a outra mulher corria na intuição de enfrentar meu pai frontalmente com um soco que foi direto ao vácuo, recebendo então a garrafada na cabeça, com o restante do vidro da garrafa, Damian  golpeou-a nos olhos, estava irritado e queria dar um fim naquilo. Lembrando, todos os atos estão indo em legítima defesa, o terceiro homem foi mais esperto e acertou meu pai com um chute nas costas que o levou ao balcão e prendeu seus braços nas costas.

        - Você já era, Damian. -- Ele sabia o nome do meu pai, e começou a bater a cabeça dele contra o balcão frequentemente.

        Damian já estava tonto, mas ainda tinha espírito de luta, usou da força bruta e uma aplicação de perda de equilíbrio, fazendo com que ocorresse a queda do terceiro homem, meu pai estava enfraquecido mais ainda tinha uma arma para pegar e dar um fim em tudo aquilo, se dirigiu aonde o segundo havia derrubado o armamento e atirou duas vezes contra o mesmo, assim como fez com o terceiro. A sangue frio, decidiu sair pelas portas dos fundos e por sorte, as câmeras estavam desligadas o que tornava o crime mais "seguro".

   [ Minutos depois. ]

        Damian chegava em casa, com alguns curativos que fez após passar pelo hospital e por sinal, estava bem. Continuava a sorrir para sua irmã que tinha uma notícia excelente para ele.

       - Como foi?
       - Tranquilo. -- Mentia para a irmã. Mas, ela sabia do que Damian era capaz.
       - Olha... Eu consegui uma bolsa no Japão.
       - ... COMO?! -- Exclamou. -- É sério?! Que ótimo maninha!
       - Pois é... Infelizmente, eu vou demorar pra te ver...
       - Não se preocupa com isso, eu vou enviar mensagens todos os dias para você, pode ser? Vem cá, dê-me um abraço. -- Ela concedeu o desejo de Damian.
        - As malas já estão prontas, irei partir amanhã...
        - Quer que eu te leve ao aeroporto?
        - Claro que sim!

   Telefone tocando.

        - Um minuto. -- Dizia Jéssica atendendo ao telefone de um desconhecido, ela saía da sala e iria para um canto mais reservado, recebendo algo suspeito da namorada dela.
        - Hum... -- Damian olhou o relógio.
        - Notícia de última hora, o vôo foi adiantado para hoje, nesse exato momento.
        - Por quê?
        - A precisão de amanhã diz que será chuvoso e o vôo pode atrasar então... Tenho que ir!
         - Calma! Eu te levo!
         - Quê?! Não, não, não precisa, é sério! Deixa comigo, tá?
         - Tá... Faça uma boa viagem e me ligue também, certo? -- Ela beijava a bochecha de Damian e assentia a cabeça, colocando a mala no táxi e logo saindo dalí.

        O que seria mais improvável e suspeito era a Jéssica se reservar um pouco? Geralmente ela é talarica demais, alguma coisa aconteceu naquela ligação e mais cedo ou mais tarde isso teria explicação para Damian não é? Acredito que nem sempre, as coisas saem do jeito que esperamos, ela contou que ia viajar encima do tempo e mudou tudo em questão de segundos, a história tomaria um rumo diferente, o dia ainda não acabou e Damian ainda teria que conhecer o pai da garota que amava.

   Próximo capítulo: Decisão.

The WalkersOnde histórias criam vida. Descubra agora