a grande mentira ¤ klance

Capítulo 3 - Feridas da alma.

Quando Keith chegou à mesa de refeições naquela manhã, Lance parecia radiante: o rosto coberto com uma máscara verde, seus cabelos rebeldes presos em presilhas pretas, o roupão azul com detalhes dourados contornando seu corpo, o sorriso feliz e encantado enquanto observava os brownies alienígenas que Hunk havia feito especialmente para ele.

Keith gostaria de ficar encostado na porta durante toda a manhã, mesmo com os olhos pesados de sono por uma noite mal dormida, observando Lance rir de piadas ruins que Hunk fazia e irritar uma Pidge sonolenta, fazendo comentários para integrar Shiro – um de seus grandes heróis – em suas conversas "fascinantes", mas ele teve que se mover para Coran passar e logo ele se fez percebido pelo cubano, que lhe lançou um sorriso animado.

– Mullet! Sente-se ao meu lado hoje, companheiro de honra. Eu estou muito feliz por você avançar no meu jogo, acredito que você o finalizará com maestria – os olhos azuis piscaram em sua direção em algum tipo de duplo sentido que Keith não estava acostumado a interpretar, mas que aceitaria.

Ele se moveu lentamente e sentou ao lado de Lance, em silêncio. Hoje ele contaria a terceira história, e Keith não podia estar mais assustado.

– É, eu também estou – Keith respondeu por educação, e colocou um brownie de Hunk na boca, impedindo-o de falar qualquer coisa que acabasse com o raro clima leve que se estabelecia na mesa.

***

– Lance? Sou eu! – Keith suspeitou que Lance estivesse entretido com seu vídeo-game novamente, então falou mais alto – É o Keith! – ele bateu mais forte na porta.

De maneira alguma ele estaria simplesmente entrando no espaço pessoal de Lance. Ele prezava muito o próprio e gostava de pensar que os outros também.

Barulhos atrapalhados atrás da porta soaram, como se Lance estivesse guardando coisas em suas gavetas ou arrumando suas prateleiras. Deveria ser algum tipo de produto de beleza que eles acharam em algum shopping espacial e que ele estava com vergonha de mostrar, ou a cera rosa brilhante que ele usava para depilar as pernas.

Lance era peculiar e Keith não se importava, mas o paladino azul parecia fazê-lo, então o coreano não o apressou.

Afinal, era o dia da última história.

– Seja bem-vindo querido – Lance abriu a porta teatralmente e deu espaço para Keith entrar, rindo brincalhão – Preparado para a última história? – o coreano ouviu a porta se fechar e sentiu sua coragem ser deixada do lado de fora.

– Absolutamente – ele mentiu.

– Você está na reta final, então por favor, não me decepcione.

Algo na voz de Lance incomodou Keith.

Não era um pedido vazio ou sarcástico que Lance costumava jogar em cima de todos no Castelo. Era um apelo. Keith não falharia com Lance, não depois de tantas outras vezes que todos eles já haviam falhado com o cubano.

Se ele queria mesmo lhe contar aquelas histórias e tratá-las como um jogo – quase como se fossem nada além de contos – por sua falta de confiança em seu próprio sofrimento...

Keith o escutaria.

O garoto mais velho puxou os dedos de Lance pelas pontinhas, um contato inesperado, e ambos se dirigiram para a cama, sentando-se: – Eu não decepcionarei – seu estômago se embrulhou com as borboletas que apareceram ao simples toque quente da pele de Lance na sua.

– Bom... essa é a parte em que eu conto como tudo isso terminou.

***