Capítulo 1 - A menina e a praia.

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– Nós podemos jogar um jogo – todos se voltaram contra Lance. O tédio que estava sentado na sala como um elefante sujo e pesado os incentivava a fazer qualquer coisa, até mesmo aceitar um jogo de Lance McClain – Eu vou contar uma história.

– Sobre mais uma de suas conquistas amorosas? – Pidge resmungou com a boca praticamente dentro de seu moletom branco, esperando ansiosamente que algum alarme, anunciando uma invasão galra, soasse pelo Castelo e ela pudesse se livrar daquela reunião que mais parecia de família. Ela não estava preparada para uma nova mesa de jantar em que Matt não estivesse presente.

Lance revirou os olhos para a amiga, empurrando-a levemente com o ombro e tirou as pantufas que remetiam à Blue Lion, erguendo os pés hidratados e cuidados sobre o sofá. Ele apoiou os braços cruzados sobre os joelhos, curvou a cabeça contra eles e respondeu: – Não. É a história de uma garotinha que se deitava na areia da praia para sentir o calor do sol.

– Qual é o objetivo desse jogo? – Coran indagou, parecendo subitamente interessado - É algo que os humanos fazem quando estão entediados? – o homem enrolou o bigode ruivo entre os dedos, arrumando-o.

– Na verdade eu nunca ouvi falar de algo parecido – Shiro respondeu, voltando-se para Lance com as sobrancelhas franzidas em ligeira confusão – Você poderia nos explicar sobre o que se trata esse jogo?

O cubano rolou os olhos por cada um presente na sala, suspirando: – Toda noite, durante três noites, eu contarei uma história para vocês. Tudo o que eu disser é verdade, exceto por uma coisa – um sorriso desconhecido nas feições de Lance tomou conta de seu rosto – Quem acertar qual foi a mentira poderá ouvir a história da próxima noite. Quem não acertar... vai ter uma nova história para contar a alguém, e só.

Keith ajeitou-se no sofá, parecendo desconfortável. Nos lares adotivos, jogos sempre significavam peixes no travesseiro, recompensas desconsentidas e humilhações em cabines no banheiro; o coreano sabia que Lance nunca faria isso consigo, apesar de toda a situação estabelecida entre eles – a tensão, a amizade que se formava, mas também a explícita rivalidade –, e ele tentava empurrar a sensação de insegurança para baixo.

Por todos que o amavam agora, ele sabia, e que ele amava de volta.

– E quem chegar ao final de todas as histórias? – ele falou pela primeira vez – Ganhará o quê?

Hesitante, Lance colocou dois dedos sobre o queixo e de repente voltou os olhos azuis para Keith: – A pessoa poderá me fazer três perguntas, mas uma delas eu responderei com uma mentira.

– Você só pode estar brincando! Eu sou horrível desvendando mentiras! – Hunk choramingou – Vamos jogar outra coisa cara, por favor.

– Deixa disso Hunk, nós vamos trabalhar juntos e derrubar Allura e Shiro com uma tacada só – Pidge declarou.

Ei!

– E eu? – Keith perguntou brincalhão, sua voz enferrujada.

– Você vai perder por conta própria. E Coran vai desistir quando se tornar intenso demais.

Lance riu de seus amigos e perguntou: – E então? Vamos jogar?

Shiro recostou-se no sofá, abriu o braço para acolher os ombros de Allura e suspirou: – Conte-nos sobre essa garota.

***

Ela tinha cabelos castanhos, nove anos e adorava correr pela areia da praia. Não importava quantas lições de casa ela tinha, quantos copos na pia ela deveria lavar e se sua cama estava desarrumada; a garotinha não pensava em nada a não ser na areia da praia fazendo cócegas em sua pele, no sol que queimava seus ombros e nas dezoito ondas que ela tinha que pular todos os dias.

a grande mentira ¤ klanceOnde histórias criam vida. Descubra agora