Capítulo 2 - A jovem e a professora.

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– Estão na escuta? – a voz de Lance, de repente, se fez presente no comunicador do capacete e Keith sentiu Red dar um solavanco com o susto.

– Lance! Você não consegue abaixar o tom? Mais cuidado da próxima vez... – Keith resmungou envergonhado pelo susto, quase se esquecendo de que Lance os abordou pelo comunicador. Ele perguntou: – O que houve?

O silêncio diante a pergunta permaneceu por um tempo, apenas a respiração de Lance fazendo-se presente. Keith podia não admitir em voz alta, mas todas as vezes que Lance fazia isso, sua preocupação chegava à borda do estômago, fazendo-o ter a impressão de que poderia vomitar.

– Apenas você e Pidge estão ouvindo. Confirmado, Pidgeon?

– Afirmativo, Alejandro.

Keith revirou os olhos, nada surpreso com os apelidos: – Pidgeon, eu não sei você, mas eu posso sentir que Keith está revirando os olhos. Amigo, você também quer um apelido?

O coreano lamentou em voz alta: – Não começa com isso, Lance...

– Mullet está bom pra mim. Pidgeon?

– Afirmativo! Mullet, o que achou?

– Além de desnecessário? – em sua voz era possível ouvir o tom brincalhão e ele ficou aliviado por Pidge e Lance rirem com ele. A última coisa que ele queria era mais vergonha por uma piada mal sucedida – Você não ia nos contar uma história, Alejandro? – Keith testou o espanhol na língua.

– A curiosidade matou o gato, Keith, a curiosidade matou o gato... - a voz de Lance terminou misteriosa – Mas... eu não deixarei que nenhum gato morra hoje – Keith segurou a respiração.

Lance começou a narrar, os seus leões navegavam lentamente ao redor do Castelo em uma guarda contra os galra, as estrelas como únicas testemunhas.

*** 

A garotinha, agora, era uma jovem. Com catorze anos e já no Ensino Médio, ela pensava que nada poderia dar muito errado em sua vida. Ela e sua família haviam se mudado, ela era uma garota nova e conhecida na escola, não necessariamente popular, mas respeitada. Os professores não a odiavam tanto, e havia uma em especial que a adorava.

Andressa. A jovem gostava de como o som enrolava-se na língua como gelatina espessa, sorvete derretido, um chiclete com cristais de açúcar; ela era a sua primeira paixonite e apesar da garota não contar isso para ninguém, sua própria professora parecia saber mais do que si mesma.

Havia toques singelos na sala de aula e sorrisos suaves entre as explicações, muitas dúvidas depois da aula e pequenas trocas de beijo após os treinos de lacrosse da garota. Aquela relação parecia estável e pura, maravilhosa e aparentemente para sempre, uma bagunça incrível de sentimentos que esgueirava-se em seu estômago e causava um arrepio tremendo em seu corpo antes de adormecer e ao acordar; todos os dias.

Ela apenas achou.

Tudo desabou em uma tarde de aulas de verão, em que a garota terminou um teste de recuperação em química e Andressa aplicou a prova. Ambas ficaram sozinhas em um dos prédios da instituição, e depois de estender o papel na direção das mãos de Andressa, a jovem desejou mais beijos, palavras de amor, carícias.

Mas a professora não queria apenas aquilo, e deslizou o corpo da garota sobre a grande mesa do professor que posicionava-se perto do quadro negro. O coração da jovem bateu assustado contra suas costelas, ela tentou livrar-se do aperto que era as mãos de Andressa em sua cintura, mas não conseguiu.

Ela se lembrou da praia e quando não conseguiu chamar por ajuda enquanto ainda era cedo o suficiente para aquela mulher. Ela conseguiria dessa vez, ela era forte o suficiente: - Profes- Andressa, eu não quero fazer isso.

Os olhos avelã da mulher levantaram-se, os lábios desgrudando do zíper dos shorts jeans que a garota usava e sussurrou: – Mas é assim que nós mostramos o quanto amamos as pessoas. Você não me ama? – sua voz era magoada.

A jovem se sentiu tão culpada naquele momento. Um golpe baixo, ela sabia que havia tomado, mas nada a impediu de sentir um aperto no intestino.

Ela se sentiu ainda mais culpada pelo prazer involuntário do estímulo, as cascatas de lágrimas manchado o rosto e molhando os cabelos. Tudo aquilo era tão errado... 

Sua mãe teria tanta vergonha de si, que vomitaria. Seus irmãos teriam tanta vergonha de si, que não a olhariam mais nos olhos. A mudança era para ser um suposto recomeço na vida de todos, o alívio de um grande mal do passado deixado em uma cidade litorânea distante, deixando a água do mar lavar as feridas, o luto por seu pai.

Ela estava estragando as esperanças de alguém, como sempre faria.

mas ela não queria aquilo, ela não queria aquela sensação entre as pernas mas ao mesmo tempo era tão difícil empurrá-la e ela sabia que andressa gostaria que ela abrisse mais as suas pernas e ela fez. ela chegou tão rápido, com tanta culpa e chorando tanto e o seu corpo parecia convulsionar em soluços e gemidos e lamentos, guinchos como um animal ferido, um boi marcado para o abate, sabendo que o seu destino estava a fadado a ser assim para sempre.

- Você não gostou? – Andressa perguntou, lambendo os lábios.

Ela assentiu assustada, a hipersensibilidade e a pulsação ainda presentes nas extremidades do seu corpo, zunindo como abelhas, machucando como seus ferrões.

No final do dia ela contou para a mãe o que aconteceu, culpada e chorando. Sua mamá disse que estava tudo bem e que a culpa não era sua, e antes de dormir ela recitou dezoito orações.

Talvez ela parasse de pagar pelos pecados aos dezoito anos.

*** 

Keith ouviu a voz de Lance morrer atrás da comunicação. Seu corpo vibrava alarmado pela história, seu estômago inquieto, sua mente rodeada de imagens, e Red tentando acalmá-lo em seu inconsciente, com seu ronronar suave:

– Andressa, na verdade, parou o que fazia, mas a garota se sentia tão culpada pela moça na praia que desejou que aquilo lhe tivesse acontecido para ela pagar pelos "pecados" – Pidge disparou subitamente, fazendo Keith levar outro susto, e ele sentia as aspas que ela fazia com os dedos, a voz muito frisada.

– E você, Mullet? Qual é o seu chute? – a voz de Lance era baixa e cuidadosa. Como se implorasse pelo correto, pela mentira verdadeira.

O paladino vermelho sentia-se cada vez mais preocupado com as histórias e com o rumo que elas o estavam levando, mas se ele estivesse certo...

Ele gostaria de saber se aquilo acabaria.

– Ela, na verdade, não contou para ninguém o que aconteceu.

Keith fechou os olhos. Assim ele passara toda a sua vida, até a emancipação, em abrigos. Surras, brigas e torturas psicológicas – todas empurradas para um lugar escuro dentro da sua memória, desviadas em todas as sessões de terapia e visitas de assistentes sociais ao seu abrigo. A sensação de estabilidade era mais segura que a de contar toda a verdade e, como consequência, arriscar o pouco que havia conquistado em tanto tempo.

O suspiro de Lance foi alto do outro lado da comunicação, e Keith pensou que, por um momento, ele estava muito errado.

– Sinto muito, Pidgeon. Ela com certeza queria uma punição e ela com certeza considerou aquilo como uma, mas Andressa não parou. Amanhã eu encontrarei Keith sozinho no meu quarto.

Pidge protestou um pouco, e Keith sabia que a curiosidade deveria estar mexendo com o cérebro rápido da paladino, mas os três voltaram para o Castelo em silêncio depois de alguns minutos, e apenas quatro horas depois da chegada foi que Lance deixou o hangar dos leões, voltando silenciosamente para o seu quarto e passando por Keith tão absorto em pensamentos que ele não o ouviu chamar o seu nome.

Keith esperaria pela terceira história.

a grande mentira ¤ klanceOnde histórias criam vida. Descubra agora