O ano era 2017. Naquela época eu já tinha chegado aos 18. Estava voltando da casa do meu namorado, e, como sempre, fazia o mesmo caminho. Descia na UERJ, atravessava a faculdade e saía em direção à rampa que me levaria até a estação Maracanã. Era sempre a mesma coisa. Em algum momento eu prestava atenção no modo que eu caminhava, olhava para as pessoas descendo, tentava adivinhar quem estava indo pras aulas e que curso elas faziam — Essa menina tem cara de quê? — e seguia subindo, ajeitando a blusa e procurando pelo Cristo Redentor. Só naqueles momentos eu percebia que eu já tinha chegado no "quando eu crescer", pensava na desigualdade social, no preço da passagem do trem, e também que agora eu andava pelo Rio sozinha.
Lembro-me de ter visto uma foto no dia anterior, e nela uma versão de sete anos sorridente minha. No dia eu estava visitando o Cristo pela primeira vez, e na foto eu tinha os braços abertos igual ao daquela estátua gigante. Estava tão curiosa que subi as escadas correndo porque queria chegar logo no topo, li as placas imitando os adultos, e depois estava dentro de um elevador panorâmico. Ao chegar lá em cima alguém me disse que do alto dava pra ver o Rio de Janeiro todo. Eu olhava pra todos os lados, tudo era bem pequenininho visto de lá. A cidade parecia se estender até onde minha cabeça de criança pensava ser o infinito. Senti-me grande e pequena.
Fazia tempo que já não pensava sobre aquilo. Estava ali, no lugar de sempre, com a memória de dias distantes. Mas ao relembrar aqueles momentos da minha infância, percebi que tudo era novo. A nostalgia cedeu lugar para o que agora era meu presente, uma realidade onde o mundo e todas as coisas pareciam menores, menos desconhecidas pros meus olhos já não mais infantis. Era uma sensação estranha. Estranho, como quando a gente acorda sem nem mesmo perceber que tinha dormido. Era isso. Eu tinha acordado pela 2° vez naquele dia.
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Diários de uma passageira qualquer
RandomHavia algo naquela estação que sempre me fazia divagar. Nunca soube ao certo. Talvez fosse o vai e vem de pessoas, mercadorias e trens; talvez fosse a lembrança de todos os filmes dramáticos que assisti. Ou, talvez, eu apenas gostasse de me imaginar...