2017
Subitamente desperto. Desperto e, guiada pela memória das paredes largas e claras, dos desenhos coloridos feitos em grafite e do contraste apenas existente ali, do ônibus amarelo, desço. Ando pela calçada e vejo os mesmos postes, fios e prédios, ambulantes, produtos e pressa, mas por alguma razão tudo me parece estranho. Observo na correria das formas "civilizadas" humanas, entre o compilado de peles, rostos, roupas e relógios, uma multidão conectada pela linha invisível das falsas obrigações. De repente, sou atingida por uma náusea e deparo-me com uma ausência de sentido, a invalidez das minhas crenças. E então tudo que sabia agora já não sei. Sigo. Arrastando-me pela cidade, vezes monocromática e colorida, vezes barulhenta e silenciosa. Subo para novos e pesados passos, pela antiga escadaria de ferro, pareço carregar o horror que é estar no mundo.
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Diários de uma passageira qualquer
CasualeHavia algo naquela estação que sempre me fazia divagar. Nunca soube ao certo. Talvez fosse o vai e vem de pessoas, mercadorias e trens; talvez fosse a lembrança de todos os filmes dramáticos que assisti. Ou, talvez, eu apenas gostasse de me imaginar...