Ela deixou escapar um gemido rouco quando a amordaçada foi removida.
- Água - sussurrou, desesperada para se livrar do gosto horrível do trapo sujo.
O que o homem lhe deu foi uma caneca de cerveja fraca, mas Penélope achou que talvez fosse melhor tomar aquilo mesmo. Se houvesse água naquele lugar, sem dúvida seria perigoso beber. Ela tentou não respirar muito profundamente enquanto era amparada para que pudesse beber. Penélope tomou a cerveja o mais rápido que pôde, pois queria que o homem ficasse o mais distante possível. Qualquer pessoa que cheirasse tão mal quanto ele certamente teria uma data tropa de criaturas compartilhando a sua podridão, cuja visita ela não ansiava por receber.
Quando a caneca ficou vazia, ele deixou que ela caísse de costas sobre a cama e disse:
- Agora, nem pense em fazer barulho, gritar por socorro ou coisa do tipo. Pois ninguém aqui vai lhe dar ouvidos.
Penélope abriu a boca para dar uma resposta atravessada e então franziu a testa. A cama podia estar limpa e ser confortável, mas não era nova. Um calafrio familiar perpassou seu corpo. Mesmo enquanto ela pensava que aquele era um péssimo momento para o seu dom se apresentar, sua mente se encheu de lembranças violentas que não eram suas.
- Alguém morreu nesta cama e ela não partiu em paz. - ela disse com a voz um pouco trêmula por causa das recordações arrepiantes do passado.
- O que diabos você está falando? - interrompeu Jud.
- Alguém morreu nesta cama e ela não partiu em paz. - Penélope sentiu uma certa satisfação ao perceber o quanto suas palavras perturbavam seus raptores.
- Você está falando bobagens, mulher.
- Consegue ver espíritos? - perguntou Mac, olhando nervoso ao redor.
- Às vezes. Quando eles querem que eu os veja. Desta vez foram apenas as lembranças do que aconteceu aqui - ela mentiu.
Os dois homens se entreolharam com uma mistura de medo, curiosidade e desconfiança. Pensaram que ela estava tentando engana-los de algum modo para que acabassem libertando-a. Penélope desconfiou que eles, provavelmente, estavam imaginando que ela fosse capaz de ver. Certamente não tinham nem notado o espírito horrível parado ao lado da cama. Pois se tivessem já teriam saído correndo do quarto. Apesar de tudo que ela tinha visto e experienciado ao longo dos últimos anos, a visão da adorável jovem, com o vestido branco ensopado de sangue, causou um friozinho na espinha. Penélope se perguntou por que as aparições mais horríveis eram as mais nítidas.
A porta se abriu e, antes que Penélope se virasse para olhar, ela viu uma expressão no rosto do fantasma que quase a fez sair correndo do quarto. Fúria e repugnância pura contorceram o belo rosto do espírito até ele parceria demoníaco. Penélope olhou para as pessoas que entravam no quarto. Tom retornava acompanhado de uma mulher de meia-idade e duas novinhas seminuas. Penélope olhou para o fantasma à direita e notou que toda aquela raiva e todo aquele ódio estavam voltados diretamente para a senhora.
- Tome cuidado - disse o fantasma.
Penélope quase deixou escapar um palavrão quando as palavras ecoaram na sua mente. Por que os espíritos sempre sussurravam palavras tão agourentas sem adicionar nenhuma informação pertinente, como com que ela deveria "tomar cuidado", ou com quem? Além do mais, o momento era extremamente inoportuno para este tipo de distração. Ela era prisioneira em uma casa de má reputação e estava encarando a morte ou qualquer outro eufemismo que pudesse ser usado para um destino pior que esse. Não havia nem um pouco de tempo para lidar com um destino pior que esse. Não havia nem um pouco de tempo para lidar com espectros lúgubres ensopados de sangue sussurrando avisos misteriosos. Além disso, precisava contar com toda a sua consciência e todas as suas forças para não se deixar levar pela histeria que se inscrevia dentro do seu peito apertado.
- Isto vai causar uma grande encrenca - Penélope falou para a mulher mais velha, e não se surpreendeu quando todos a ignoraram.- Aí está ela - disse Jud. - Agora, dê nosso dinheiro.
- A dama está com o dinheiro de vocês- respondeu a mulher.
- Não é nada esperto tentar me enganar, Cratchitt. A dama disse que você estava com o nosso dinheiro. Agora, se ela não quis pagar para você isso não é problema meu. Fiz o que me mandaram e fiz rápido e certo. Peguei a vadia, trouxe para cá e agora quero o meu dinheiro. Missão cumprida. Agora, o pagamento.
Cratchitt o entregou descontente. Penélope observou Jud contar cuidadosamente o dinheiro. O homem sabia contar o suficiente para ter certeza de que não estava sendo enganado. Após olhar desconfiado para ela, ele guardou o dinheiro no bolso e então franziu a testa para a mulher a quem ele chamava de Cratchitt.- Agora ela é toda sua - Jud disse. - , apesar de eu não saber o que você vai fazer com ela. A moça nem é isso tudo.
Penelope estava cansando de ser menosprezada por este bandido piolhento.
- Falou o bonitão do pedaço - Penélope murmurou e o encarou com um leve sorriso.
- Ela é limpa e nova - disse Cratchitt, ignorando a cena fixando seus olhos frios em Penélope. - Tenho vários cavalheiros querendo pagar uma boa quantia para ser o primeiro. Há um homem esperando especialmente por esta, mas ele só chegará amanhã. Para esta noite, tenho outros planos para ela. Acabaram de chegar uns cavalheiros muito ricos e estão à procura de algo especial. Diferente, como eles disseram. Eles têm um amigo que está prestes a se casar e desejam dar a ele uma festa de despedida de solteiro. Ela vai servir direitinho para isso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Sensitiva
Roman d'amourUm cético, uma mística, opostos em quase tudo... Mas a química parecia irresistível...