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Capítulo III

Oplano de Allanon de impedir uma discussão não funcionou. Ele deixou os irmãos sentados conversando em murmúrios nos fundos da hospedaria e voltou para o quarto. Shea e Flick finalmente retomaram seus afazeres e logo depois foram enviados pelo pai para cumprir uma tarefa na fronteira ao norte do vale. Já estava escuro quando retornaram; apressaram-se para o salão esperando fazer mais perguntas para o historiador, mas ele não apareceu. Os dois jantaram com pressa, sem poder conversar sobre os acontecimentos da tarde na presença do pai. Após comerem, esperaram durante quase uma hora, mas ainda assim ele não apareceu e, por fim, muito depois do pai sair da cozinha, decidiram ir até o quarto de Allanon. Flick estava relutante em procurar pelo estranho sombrio, especialmente depois do encontro no vale na noite anterior. Mas Shea insistiu tanto que o irmão enfim concordou em acompanhá-lo, esperando que ficassem mais seguros em dupla.

Quando chegaram ao quarto, encontraram a porta destrancada e nenhum sinal do andarilho. Parecia inclusive que ninguém usara o quarto recentemente. Fizeram uma busca rápida na hospedaria e nas propriedades ao redor, mas não encontraram Allanon. Por fim, foram obrigados a concluir que o estranho homem tivera de abandonar o Vale Sombrio por alguma razão desconhecida. Shea ficou claramente zangado por Allanon ir embora sem se despedir, mas, ao mesmo tempo, começou a sentir uma preocupação crescente de que talvez não estivesse mais sob a proteção do historiador. Flick, por outro lado, estava muito contente com a partida do homem. Ao se sentar com Shea nas cadeiras de encosto alto diante da fogueira no salão da hospedaria, tentou garantir ao irmão que o que aconteceu foi o melhor para ele. Flick nunca acreditou inteiramente na história bárbara do historiador sobre as guerras nas Terras do Norte e sobre a Espada de Shannara, argumentou, e mesmo que alguma parte daquilo fosse verdade, certamente a parte sobre a linhagem de Shea e a ameaça de Brona era exagerada — um conto de fadas ridículo.

Shea escutou em silêncio a racionalização atrapalhada de Flick sobre as possibilidades, oferecendo somente um aceno ocasional em concordância, com os próprios pensamentos concentrados em decidir o que deveria fazer em seguida. Tinha sérias dúvidas sobre a credibilidade da história de Allanon. Afinal de contas, qual o motivo do historiador vir procurá-lo, para início de conversa? Ele aparecera convenientemente, pelo que parecia, para contar a Shea sobre seu estranho passado e alertá-lo de que estava em perigo, e então desaparecera sem dizer uma palavra sobre o próprio interesse no assunto. Como ele poderia ter certeza de que Allanon não viera com algum motivo obscuro, esperando usar o homem do vale como marionete? Havia perguntas demais para as quais ele não tinha respostas.

Depois de um tempo, Flick se cansou de dar conselhos para um silencioso Shea e parou de falar sobre o assunto, afundando na cadeira e olhando de maneira resignada para o fogo crepitante. Shea continuou a refletir sobre os detalhes da história de Allanon, tentando decidir o que faria. Entretanto, após uma hora de calma deliberação, jogou as mãos para o alto em desespero, tão confuso quanto antes. Saiu do salão e foi para seu quarto com o leal Flick logo atrás. Nenhum dos dois se sentia inclinado a continuar a conversa. Quando chegaram ao pequeno quarto na ala leste, Shea caiu sobre uma cadeira com um silêncio mal-humorado. Flick se jogou na cama e ficou olhando desinteressadamente para o teto.

As velas na mesinha de cabeceira lançavam um brilho suave sobre o aposento, e Flick logo ficou sonolento. Ele se sacudiu rapidamente para acordar e, esticando as mãos sobre a cabeça, encontrou um comprido pedaço de papel dobrado que escorregara entre o colchão e a cabeceira. Curioso, ele o levou até os olhos e descobriu que estava endereçado a Shea.

— O que é isso? — resmungou, jogando o papel para o abatido irmão.

Shea rasgou o selo e inspecionou o papel com pressa. Ele mal começara a ler quando deixou escapar um assobio baixo e se levantou de um pulo. Flick logo se sentou também, percebendo de quem deveria ser o bilhete.

A espada de shannaraOnde histórias criam vida. Descubra agora