Já era alvorada em Firesgard, porém, diferentemente daqueles últimos dias de primavera, o sol se encolhia numa manhã de nuvens e de um frio e preguiçoso vento vindo do norte. Eram raras as vezes em que o tempo mudava de maneira rápida e passageira. Muitos afirmavam que o fato do frio fora de época surgir em meio aos dias que antecediam o verão se dava devido às peripécias dos intelectuais de Grindehar, que cada vez mais enterravam suas mentes em páginas abarrotadas de escritos e cavavam o subsolo do reino além do limite proposto ao homem, alterando, assim, o tempo em toda Arlamelah. Os mais conservadores chegavam a jurar que a cidade das nuvens ainda viria abaixo por causa da curiosidade de seu povo.
Rufus chegara à frente de sua casa. Estava parado ali por cerca de longos minutos, parecendo buscar uma coragem que até então desconhecia. Não era fácil para ele abrir a porta de seu habitat tendo que, em seguida, prestar reverência para uma Princesa Thermann. Ainda não havia caído naquela fatídica realidade. Havia muitas famílias com uma boa base financeira e devidamente estruturada em Firesgard, e, com certeza, os Sewwing sequer entravam nessa estatística. Os mais diversos pensamentos passavam por sua cabeça. Deveria ele levar Meredith até o conselho da cidade? Ou seria melhor procurar os Downhild? Afinal, são os donos da terra onde se mantém a pequena, porém rígida, agricultura do leste. Havia também os nobres das altas terras de Firesgard, descendentes de Djurval e donos de uma rica herança em ouro e bronze, Meredith de fato se sentiria em casa.
Todas essas dúvidas se enfrentavam na cabeça de Rufus. Decidiu por seguir em frente. Pensou que nenhuma dessas pessoas se preocupou em manter a ordem e a segurança do principal nome presente naquela triste noite. Aliás, não recordava de ter visto ao menos um filho de Djurval ou algum magricela dos Downhild presentes quando ainda havia o que comemorar. De um fato ele estava certo, os velhos e oportunistas conselheiros de Firesgard só trariam ainda mais pesar a Meredith. Deixou de pensar por um instante e adentrou seu lar.
Um forte aroma de café fresco e amargo estava por toda a parte da casa. Aquela era considerada uma das grandes iguarias do leste, talvez a principal. Por ser uma bebida escura e quente, não era costumeira a sua presença nos outros reinos de Arlamelah. O prazer em sentir aquele cheiro de lar logo deu lugar à preocupação, pois Rufus não notava nenhuma presença no local. Agachou-se próximo a mesa da cozinha, levando uma das mãos no interior da mesma, logo tomando posse de uma flecha.
- Não se preocupe, guerreiro do fogo, elas acabaram por adormecer após algumas risadas em meio a tantas especiarias - disse o cavaleiro de Meredith, acalmando Rufus com o ar sereno de sua voz. - Antes suas bocas mais pereciam um túmulo, porém uma comitiva da capital subia a rua quando os parei. Disseram que a confusão já tinha sido controlada com a chegada de nosso reforço. Disseram também que grande parte da horda de imensos homens estava caída, com sérias contusões. Uma espécie de cavaleiro das sombras fez questão de pará-los. Será a ressurreição da grande Armada de Cintreyn nos dias atuais?
- Parece-me ser um singelo entusiasta por história, nobre cavaleiro.
Os dois se cumprimentaram apertando suas mãos e o cavaleiro fez questão de tocar no ombro esquerdo de Rufus, mostrando respeito por toda atitude antes prestada.
- Sou Stur Loriél, da Eterna Fonte, Cavaleiro Leal das Forças do Príncipe Mérian. Protetor oficial da princesa - apresentou-se.
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Crônicas de Arlamelah: Submissos
FantasiUma poderosa e mística sacerdotisa adquiriu conhecimento e poder sobre os quatro elementos da natureza, criando através de suas forças e da benção de uma grande Deusa, um vasto e rico continente num lugar inóspito que em outra Era abrigou tribos sel...