Tomei banho e com a toalha ainda no cabelo, escovei os dentes e fui em direção a porta do meu quarto para chaveá-la com cuidado para que minha mãe não ouvisse. Peguei minha mochila e dei um jeito de colocar o vestido que usaria na festa enrolado dentro do pijama, com a desculpa de que se dormisse na casa de Caio, teria de levar pijamas. No meu estojo, dei um jeito de colocar minhas maquiagens essenciais, não gosto de me maquiar no dia-a-dia, mas quando tem alguma ocasião que eu possa me maquiar, gosto de caprichar. Coloquei um short jeans, uma camisa larga branca de gola V e um tênis branco. Sequei os cabelos e eles se ondularam naturalmente como sempre.
Antes que eu pudesse terminar de arrumar a mochila, minha mãe já gritava no corredor pois Caio estava na portaria. Corri para a porta e a abri com cuidado. Minha mãe não notou que ela estava chaveada mas estranhou o volume de minha mochila.
-Se eu for dormir na casa da tia Ticiane, é bom levar pijama não mãe?
-Sim, está certo. -Ela falava um pouco desconfiada, mas me deixou passar sem mais questionamentos.
Meu pai me olhava de canto de olho sentado no sofá. Eu sabia que viriam perguntas.
-Você não vai estar sozinha com Caio não é?
Meu irmão quase cai na risada.
-PAI! Caio é como se fosse um irmão. -Minto e noto o olhar reprovador de Joca.- E não, todos nossos amigos estarão lá. Difícil vocês hein. Além de não participarem quase em NADA da minha vida, querem colocar regra em tudo que eu faço! -Esbravejei sem pensar um segundo sobre as consequências.
Eu na verdade estava farta de tanta cobrança e pouco interesse na minha vida. Era muito fácil bancar o pai e a mãe preocupados em alguns momentos, mas se afastarem por causa do trabalho em qualquer menção de um assunto mais importante.
Os dois me olhavam boquiabertos com meu atrevimento, Joca só ficou sério e baixou a cabeça.
-Caso não tenham notado, Valéria não está mais aqui por culpa de vocês!
Ouvi meu pai praguejar com muita raiva mas não dei atenção, sem olhar para trás, peguei a chave de casa e saí fechando com força a porta. Estava me sentindo muito atrevida, mas eu não aguentava essa hipocrisia de pais preocupados quando eles mal participam de nossa vida. A pessoa que mais sabe sobre nós é a Julieta, que praticamente nos criou e está de férias enquanto minha mãe está em casa. Meu pai gritou algo entre os dentes que eu mal ouvi, mas consegui escutar minha mãe chamar a atenção dele e ninguém veio atrás de mim. Ela pelo menos tem mais noção.
Ao chegar na portaria, Caio notou meu olhar marejado e sorriu sem graça, preferindo não perguntar nada e eu, agradeci com um sorriso forçado.
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Me arrumei no banheiro do quarto de Caio, enquanto ele jogava vídeo-game.
-Se você ousar rir de mim eu vou dar um jeito de você cair na piscina de Gabriel... -Disse enquanto abria a porta do banheiro.
-Para de fazer graça e vamos logo que estamos atrasados.
Era a primeira vez que meus amigos me veriam arrumada assim: vestido curto e maquiagem.... Eles estão acostumados a me verem sempre de roupa esportiva. Caio já me viu mais arrumada, nas festas de fim de ano da família que participaram, mas nada como hoje, hoje eu queria impressionar. Júlia inclusive me ajudou com a escolha desse vestido quando fomos comprar roupas uns meses atrás e eu nunca tinha reunido coragem para usá-lo.
É um vestido verde de malha, com recorte nada sofisticado, de malha e com molde grego. Me sinto um pouco mal nele por ser tão curto, mas como a Júlia mesma disse: "Você precisa ousar às vezes". Decidi ousar hoje.
Caio não tirou o os olhos da televisão quando saí do banheiro e precisei tocar um travesseiro na cabeça dele para que ele me olhasse.
-Tá louc.... –Ele fez uma cara de espanto. Eu queria me enfiar em um buraco, morta de vergonha.
-Tá tão horrível assim Caio? –Meu coração parecia ter se apertado.
-NÃO. –Ele arregalou os olhos quando notou que falou mais alto do que deveria. -Não. Tá legal...
-Legal é mais ou menos né Caio?! –Reviro os olhos e me aproximo dele, um braço para baixo enquanto a outra mão abraçava o cotovelo.
-Já falei pra parar com isso. Eu só não sei outro adjetivo pra usar ué.
Revirei os olhos e bufei. Peguei minha bolsa e desliguei a TV enquanto ele ainda jogava.
-Você não tava me apressando até agora? Vamos logo.
Ele assentiu revirando os olhos e fomos para sala. Tia Ticiane dormia no sofá. Tinha pego no sono enquanto assistia a novela. Tio Gustavo nos esperava na cozinha.
-Conversou com ela pai? –Caio olhava fico para o pai.
-Sim, ela disse que vai fazer o máximo para não entregar vocês, mas se Mônica ligar ela acha que não consegue esconder, principalmente se vocês não tiverem voltado ainda.
Senti um frio na barriga tão grande que quase desisti de ir a essa festa. Se minha mãe acabasse ligando para cá para saber como eu estava, ou como estavam os estudos, seria meu fim. Uma festa sem avisar? Eu estaria morta.
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UM AMOR AO ENTARDECER
RomanceHistória da querida Elisa, que se vê apaixonada pelo melhor amigo logo no último ano do ensino médio. Antes que ela possa fazer algo em relação aos seus sentimentos, uma onda de maus acontecimentos assola a vida da adolescente e faz com que seu mund...