capítulo 1

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Capítulo 1

Limestone, Maine
05 de fevereiro de 2017
Melina

    Julian e Mary continuaram em Nova York depois das férias de verão, enquanto eu estava me mudando para Maine, em Portland.  Eu havia ansiado por aquilo durante meses, ser aprovada na MSSM, em Limestone. Lucas, Peace, Miles e Ava também haviam sido aprovados e estavam se mudando juntamente á mim.

  O último dia de aula antes do nos mudarmos foi o evento mais depressivo que já havia presenciado. Todos choravam demais, se abraçavam, tiravam fotos e juravam uns para os outros como a amizade deles iriam durar para sempre. Eu mesma fiz isso e jurei á Mary, Julian e meus outros amigos, mesmo não acreditando que poderia cumprir essa promessa.

  Quero dizer, é claro que hoje em dia a Internet está aí para suprir muitas de nossas necessidades com pessoas que não podemos ver diariamente, mas não posso comparar o contato humano com mensagens de texto e marcações em vídeos engraçados do facebook.

  Eu estava há sete horas e meia no ônibus ainda faltaria mais uma hora até finalmente chegar em Limestone. Lucas, Peace e Miles estavam comigo nos bancos de trás, enquanto tinham mais uma dúzia de crianças nos bancos de frente, todas surpreendentemente agitadas, conversando animadamente e levando bronca de uma mulher gorducha e baixinha que se intitulava como Srta.Poem a cada vez que desafivelavam seus cintos para bater em um colega ou irritá-lo.

  Srta.Poem corre até o banco do motorista, onde Srta.Satan dirigia. Ela era alta, um pouco gorducha, seus cabelos estavam bagunçados e batiam no ombro, provavelmente jogou tinta roxa por cima dos cabelos pretos e seu olhar me trazia medo, seu tom de voz, nem me fale. Ela tinha um jeito debochado de falar conosco, que nem mesmo quando se esforçava para deixar suave e gentil, ela conseguia.

- Pelos céus, Satan! Que tipo de prova essas crianças fizeram? Elas não são padrão do nosso colégio, nem de longe! – Srta.Poem diz, ofegante. Satan Saíram para em um posto de gasolina, levanta-se do banco do motorista e começa á andar pelo ônibus. Todas as crianças correram para afivelar seus cintos, com a postura ereta.

- É o seguinte, senhores. Iremos chegar no nosso destino em menos de uma hora, e peço para que se comportem. Vocês passaram por uma seleção, uma seleção pela qual muitas crianças como vocês queriam ter passado – ela nos encara de forma intimidante e eu engulo em seco. – Tem muitas, mas muitas pessoas na lista de espera, só esperando um simples deslize de um de vocês para conseguirem tomar seus lugares. Então, amores, aconselho que vocês pensem e repensem um pouco antes de estragarem tudo de fato. Tenho certeza absoluta que ninguém quer sair do nosso colégio com uma expulsão no histórico, estou errada? – Ninguém diz uma palavra sequer, então ela esboça um belo sorriso diabólico no rosto. Me vem a imagem da Srta.Satan em sua casa numa noite de sexta-feira, entediada, de repente indo para o banheiro treinar seu sorriso mais assustador e sua risada mais diabólica, apenas para não perder o costume. – Ótimo, senhores. Fico feliz que tenham captado a mensagem. – E então ela se vira para nós, caminhando em passos lentos e tortuosos até o banco do motorista.
 
  No resto da viagem ninguém profere uma palavra sequer, todos com medo de que da próxima vez que Srta.Satan ficasse irritada, ao invés de dizer um monte de baboseiras para amedrontar um bando de adolescentes descontrolados, ela acabar causando um acidente de trânsito de propósito.


  Quando finalmente chegamos em Limestone, o céu que antes estava azul anil, livre de um resquício de chuva sequer, agora estava cinza, com imensas nuvens e trovões e trovões que clareavam o céu de vez em quando. Algumas gotas de água começavam á gotejar sobre o gramado da MSSM, e várias garotas corriam pelo gramado direto para os portões do colégio, onde pilastras de mármore sustentavam as janelas do andar de cima, que formava uma espécie de toldo, onde as garotas protegiam seus cabelos da chuva.

  Logo após nossa chegada, outros cinco ônibus chegam, e de lá mais adolescentes desesperados descem, pegam sua bagagem e se juntam as garotas desesperadas nos portões do colégio, esperando os seguranças permitirem seu acesso.

  Sou uma das últimas á descer do ônibus, vou até o pequeno compartimento que se assemelha á um porta-malas e de lá tiro minha bagagem.

- Ai, cacete! – escuto alguém reclamar no terceiro ônibus depois do meu e caminho vagarosamente até lá.

  Uma menina tenta desesperadamente puxar sua mochila que está presa. Ela é alta, tem cabelos cacheados, a pele morena e talvez uma voz fina demais para o seu tamanho. Ela veste um short jeans que tem dois aliens envolta de um arco-íris nas duas nádegas, um all star preto muito sujo e uma blusa da Miley Cyrus.

- Precisa de ajuda? – pergunto, colocando minha bagagem no chão. Ela olha pra mim com cara de nojo e balança a cabeça.

- Acho que consigo fazer isso sozinha – Ela tenta puxar a mala de novo, sem muito sucesso.

- Eu te ajudo. Espera aí, solta a mala – Relutantemente ela solta a mala. Eu entro dentro do compartimento e desengancho um pedaço da bagagem que havia prendido na porta do compartimento. – Acho que desenganchou. Puxa a mala de novo. – Ela a puxa e a bagagem saí sem nenhum esforço.

  Ela sorri, sem graça, e põe a mala no chão.
- Hm, obrigado. – Ela diz e começa á se afastar. Quando ela está prestes á correr até os portões, eu estendo minha mão.

- Meu nome é Melina. Melina Bolder. – Ela encara minha mão por alguns segundos até apertá-la.

- Sou Hope. Hope Stewart. – Ela apoia sua mala no chão. – Olha, me desculpa se pareci meio nojenta ou mal agradecida, é que eu não gosto muito do... – Ela olha pra tudo á sua volta. – Contato humano.

- Ah, sem problemas, não te achei nojenta.

  Começamos á andar juntas até o portão, onde grande parte dos alunos já adentraram o colégio sobrando as poucas pessoas que conversam com os motoristas dos ônibus.

- Que bom, as pessoas costumam á achar que eu sou, pelo menos a primeira impressão delas é essa. Eu acho né, é o que me dizem., mas as vezes faço de propósito quando não quero que alguém fale comigo. Também dizem que eu falo demais, estou falando demais? Me desculpa, eu sou de gêmeos – Sim, você está.

- Não se preocupa, também falo mais do que deveria.

- Mas falam que é por isso que faço amizade muito rápido. Acha que vamos virar amigas? Ou será que vamos ser que nem aqueles personagens de filme que são melhores amigos nas primeiras duas semanas até que uma das duas personagens começa a namorar o menino mais gostoso do time de futebol e começa a ficar popular, então consequentemente para de falar com a outra amiga porque ela não é popular o bastante pra continuar fazendo parte do seu círculo social? Eu não faria isso, mas se fosse um negão talvez eu fizesse. Ah não, to falando demais de novo. Foi mal, vou parar a partir de agora.

  Mas Hope ficou falando pelas próximas três horas seguidas, que foi quando ela disse que finalmente ia tomar banho e acabou dormindo. Mas não adiantou muita coisa, já que ela falava dormindo e passou o resto da noite falando do quão gostoso Josh Hutcherson é.


Talvez um diaOnde histórias criam vida. Descubra agora