5

14.1K 1.5K 237
                                    

"E você diz 'eu sinto muito', como o anjo,
O céu me fez pensar que era você,
Mas eu temo."
(Apologize - One Republic)

2016 - Fevereiro
Heaven

No penúltimo ano do ensino médio, conheci o termo "descendo ladeira abaixo" da forma mais esclarecedora possível. A professora de física troca as duplas a cada três meses, e dessa vez caí na dupla com o maior stalker do colégio. O Zack até tentou trocar de lugar comigo, já que a fama do cara ia além de só perseguir as pessoas, mas foi em vão, já que aparentemente a dupla dele ficou bem irritada com a sugestão de ficar com o meu parceiro.

Eu te entendo, Noelle. Pra caramba.

Sem saída, peguei minha mochila e levantei pra ir até a nova mesa, mas então algo inesperado aconteceu.

— Pode deixar, eu aguento esse cara. Fica com a Cassie. — o Williams apontou a menina pequena, que suspirou ao vê-lo partir.

— Por que você fez isso? — perguntei discretamente, enquanto pegava o livro na bolsa.

— Porque você não queria ficar aqui. Eu não ligo. — deu de ombros.

Ele tem um coração afinal. Sorri ao vê-lo pegar a câmera do fotógrafo da escola e colocá-la no chão, assim evitando que ele fotografasse as saias que tanto adora durante a aula. Um olhar do Williams e o cara parou de lutar pela câmera. Abri a bolsa pra tirar o livro de física, e vi o pendrive de coisas da escola, com a pesquisa sobre o incêndio na casa do Will ali. O escondi rapidamente. Sabia que a escola tinha todos os jornais do distrito dos últimos oito anos, e esperava encontrar alguma informação adicional sobre o incêndio.

Eu só queria entender o que aconteceu para aquele cara ser tão fechado, era uma coisa que, depois de pronta, seria destruída. Não esperava em momento algum ter minha bolsa roubada durante o almoço, após esquecê-la na sala de física. Quando voltei, atrás de um livro que devolveria na biblioteca e não achei a bolsa, surtei um pouco, mas mantive a calma pelo meu coração. Tudo que eu menos precisava agora era de um choque do desfibrilador que uso desde os onze anos de idade.

É isso mesmo. Nascer com uma cardiopatia congênita te traz alguns presentinhos ao longo da vida. Os meus foram o desfibrilador, um pai paranoico com a minha saúde, e um irmão mais velho que ameaça matar meu namorado, já que sabe o que uma montanha-russa de emoções, proveniente de um término existente apenas na cabeça dele, pode fazer comigo. Não há nada de especial na parte da vida em que eu ganhei essa maquininha, exceto pelo irmão preocupado com cada passo que dou. Sorrio ao lembrar do Pete, mas logo volto a realidade com alguém dizendo...

— Procurando isso? — o cara que deveria ser minha dupla levanta a bolsa.

— Ei, o que você está fazendo com ela?

— Você sabe Heaven, é jornalista também. Somos sagazes. Percebemos quando algo não se encaixa. Eu vi o modo como você olhou pra minha câmera e pra sua bolsa quando a senhora Dayton disse que seríamos uma dupla. Medo. Alguma coisa de especial estava aqui dentro. E eu descobri seu ouro! Por quanto tempo você ia esconder suas suspeitas de que o Williams é todo esquisitão assim porque fuma, e uma tentativa de apagar o cigarro na cortina incendiou a casa dele? A inclusão de testemunhas, como o seu irmão, foi muito útil.

Arregalei os olhos, apavorada.

— Robert, eu não escrevi nada disso.

Amor Falso - Série Endzone - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora