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Ameniza, ameniza,
Liberta-me, liberta-me,
Minha dor.
(Ameno - ERA)

Will

— Williams, sua mãe ligou e pediu pra você comer alguma coisa. — o Marcus avisou por volta da sexta hora de espera. Estava falando comigo, apesar do discurso.

Dor, mãe. Estou me alimentando de dor.

— Não quero.

— Garoto, Deus sabe o quanto eu queria te sacudir por você ferir a minha menininha pelas minhas costas. E só descobrir isso em um momento onde ela pode nunca mais voltar pra mim foi a gota d'água. Mas ainda assim... — ele fungou — ainda assim eu me preocupo com você. Com vocês todos. Minha esposa só me deixou uma filha e um enteado, mas este tem tantos problemas que preferiu seguir a vida longe. Vocês são como meus filhos. Então não me machuque mais morrendo você também.

Por respeito a ele, comi. Resolvi arriscar minha cabeça com uma pergunta:

— A Heaven não parece temer o Peter, por quê?

— Não sei. Por que ele é o irmão dela talvez? Ou porque ela sabe atirar e eu tenho uma arma em casa, pode ser isso também.

Ri um pouco ao imagina-la atirando em alguém.

— A Talita não confia em mim, e eu sou o único irmão que ela tem. — contestei.

Eu estava tentando aceitar isso. A Pam não pode ser sua âncora que te prende na dor se era sua maior alegria, minha mãe me disse alguns meses atrás e demorei para colocar em prática, mas antes tarde do que nunca, Tive meu tempo pra vivenciar as outras quatro fases do luto do meu modo, uma hora a aceitação terá que chegar. A depressão foi de longe a mais difícil, e pensar em reviver tudo isso novamente com a Heaven assusta a merda fora de mim.

Não, não amo ela. Mas ela foi quem mais me ajudou com as matérias nesses últimos meses, e mantive a burrada que é abaixar a auto-estima de alguém que não merece isso pelo simples fato de eu não querer ninguém próximo de mim. Ela só queria ajudar, matar alguém que estende a mão pra você pode ser muito doloroso.

— Marcus, o que aconteceu com a Heaven? — o Peter entrou na sala de espera com uma samba-canção de bichinhos e uma camiseta branca. Fingi engasgar para não demonstrar a risada. — Tá rindo do quê, babaca? Nunca viu um homem de cueca?

— Não rebata, Williams. — o Marcus resmungou — Ela precisou trocar o desfibrilador, algum fio arrebentado talvez, os médicos não disseram muito.

— Droga. Quem é esse cara, afinal? Ele é muito pálido pra ser o idiota da Califórnia. Eu te conheço?

— Will Bradbury, mas você me conhece como o cara que chutou sua bunda na final estadual.

— Bradbury como aquela família do incêndio na rua Fletcher?

— Era a minha família, obrigado.

— Oh, eu sinto muito. O que você está fazendo aqui? — ele era mais transparente que uma porta de vidro, nunca escondia a desconfiança ou o medo.

Isso em campo era uma maravilha... quando ele sentia alguma coisa. O que acontecia quase nunca.

— Eu fui o responsável por ela estar aqui. — falei com pesar.

Amor Falso - Série Endzone - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora