Os nós dos meus dedos começaram a ficar dormentes, e a carne debaixo das minhas unhas está azul.
Eu gosto do frio. De verdade.
Mas apenas quando estou preparada para ele. Fecho e abro as mãos com firmeza, e esfrego as palmas uma na outra, buscando calor. Fui idiota em não pegar uma blusa e luvas. Olho para as janelas da sala de aula, e a chuva não deu sinal de que vai parar tão cedo.
Eu amo a chuva.
Para ir embora, vou ter que ir correndo debaixo da chuva. Quanto menos tempo eu passar sob ela, melhor.
A segunda aula ainda não começou, então me concentro em ficar aquecida. Espero não estar parecendo tão desesperada quanto acho que estou. Olho em volta, e os meus colegas de classe estão conversando entre si. Desde o primeiro ano do ensino médio, os grupos são sempre os mesmos. Algumas vezes, chegam alunos novos, e eles logo são absorvidos por esses grupos. Eu tenho o meu grupo. Somos aqueles de quem nunca se lembram na hora de fazer atividades em grupo. Não somos o centro das atenções, e gosto disso. Somos esquecíveis.
- Astrid! - Ouço alguém me chamar na porta.
Levanto o olhar e vejo o mesmo rosto que vejo todo dia. Ela se senta na minha frente, coloca a bolsa do lado da carteira, e se vira para mim. Cabelos azuis como o céu chicoteiam o ar, olhos castanhos me têm sob sua mira. Ela parece animada.
- Para que essa algazarra toda tão cedo, Cassie? - pergunto.
Ela recua um pouco, parecendo ofendida.
- Nossa, que cara é essa?
- É a única que eu tenho. O que você quer? - Não estou muito no clima para papo furado com Cassie. Eu amo minha amiga, mas tem dias que eu poderia jogá-la de uma ponte e não me arrependeria.
- Tão rabugenta tão cedo. - Ela se inclina para perto de mim, suas mãos pegando as minhas. - Eu quero saber o que minha amiga fez ontem! Você matou aula e não me convidou! Quero saber o que aconteceu.
Eu suspiro, ao mesmo tempo que bocejo. Ontem.
Parece que ontem foi a muito tempo. Mas a lembrança ainda queima em minha memória. Cassie levanta uma sobrancelha, e seus olhos são confusos.
- O que foi? - Pergunto.
- Eu que te pergunto. Você começou a sorrir feito uma boba, do nada! - Um sorriso taciturno se forma nos lábios dela. - Você foi se encontrar com o Jaime, não é?
- O quê? Não! Não fui me encontrar com Jaime - eu nem mesmo fui trabalhar ontem. Isso vai ser descontado do meu salário, mas não vou contar isso para Cassie. - Eu fui ver um amigo.
Sam. O nome dele pipoca imediatamente em minha cabeça. Lembranças e pensamentos sobre Sam, vão surgindo e se amontoando sem controle. Me sinto nervosa. Passo os dedos entre os meus cabelos, jogando-os para trás.
Cassie percebe meu nervosismo. Ela não vai deixar barato.
- Amigo, hein. - Consigo imaginar os tipos de pensamentos que Cassie está tendo agora. - Conheço este amigo?
Eu apoio minha cabeça sobre meu punho, e bocejo de novo. Quero dormir, mas o frio e nem Cassie vão deixar que eu faça isso.
- Não, você não o conhece, Cassie. Eu o conheci tem pouco tempo.
Percebo na mesma hora, que cometi um erro. Cassie e eu temos um acordo de nunca namorar um conhecido em comum. Mas eu estou com Jaime, então a regra está suspensa. Os olhos de Cassie brilham com a chance. Ela tem uma presa em potencial.
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Estou aqui
Ficción GeneralTodos esperam ser notados em algum momento. Sam esperava que alguém o notasse. Mas essa tarefa parece impossível, por um único motivo: ele é invisível. Incapaz de se relacionar e conectar a uma pessoa, ele passa seus dias viajando de trem, sem um de...