Capítulo 4

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          Aproximou-se, trêmulo de admiração, e ajoelhou-se junto a ela.

          Então, como o encantamento chegara  ao fim , a princesa despertou. Olhando-o  com o olhar mais terno que uma primeira vista podia permitir, perguntou :

-É  você, meu príncipe? Estive por muito tempo à  sua espera.

          Encantado com essas palavras, e mais ainda com a maneira pela qual elas foram ditas, o príncipe ficou sem saber como poderia dar uma prova de sua alegria e reconhecimento. E garantiu que a amava mais do que a si mesmo. Seu discurso podia não ser refinado, mas por isso mesmo agradou ainda mais. Pouca eloquência e muito amor.
    
         Estava ainda mais embaraçado do que ela, o que não é de espantar: ela tivera muito tempo para imaginar o que deveria dizer a ele, pois tudo indica  ( embora a história não diga nada a respeito ) que a boa fada, no decorrer de um sono tão comprido, procurara  lhe garantir o prazer  de sonhos agradáveis. 

          Enfim, os dois já tinham conversado umas quatro horas e ainda não haviam dito nem a metade  das coisas que tinham a dizer um ao outro.

           Enquanto isso, todo o palácio  havia acordado junto com a princesa. Cada um procurava cumprir suas tarefas e, como nenhum deles estava apaixonado,  morriam de fome.
A dama de honra, apressada com os outros, perdeu a paciência  e acabou dizendo a princesa, em voz alta, que a carne estava servida. Ela estava magnificamente vestida. Mas ele teve o cuidado de não lhe dizer que ela estava  com roupas parecidas com as da avó dele, com aquele tipo de gola, tão fora de moda. Nem por isso estava menos bela.

           Passaram em seguida ao Salão dos Espelhos, onde jantaram,  servidos pelos criados da princesa. Os violinistas e tocadores de oboé  executaram músicas antigas mas excelentes, embora já fizesse quase uns cem anos que ninguém tocava aquilo. Depois do jantar, sem perder o tempo, o capelão realizou  o casamento deles na capela do castelo.  E a dama de honra fechou as cortinas do leito.
            Os dois dormiram pouco. A princesa não tinha muita necessidade de sono. E o príncipe a deixou de manhã bem cedo, para voltar à  cidade, onde seu pai devia estar preocupadíssimo por sua causa.

A Bela Adormecida no bosque Onde histórias criam vida. Descubra agora