Capítulo 6

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          Dessa vez ele nem respondeu, pois já resolvera repetir o que tinha feito para enganá -lá antes. Foi pegar o pequeno Dia e o encontrou de florete não mão, brincando de lutar espada com um macaquinho. Só tinha três anos.O homem o levou para sua mulher, que o escondeu em casa com a pequena Aurora. No lugar do menino, o mordomo serviu um cabritinho bem macio, que a ogresa achou admiravelmente bom.

          Até aí tudo estava dando certo. Mas, uma noite, a rainha malvada anunciou ao chefe dos mordomos:

- Vou querer comer a rainha, preparada nesse mesmo molho gostoso em que você fez os filhos dela.

          Então o homem ficou desesperado, vendo que dessa vez ia ser muito difícil enganar a rainha - mãe. A jovem rainha já tinha passado dos vinte anos, sem contar os cem anos que tinha dormido. Sua carne era um pouco dura, apesar de bonita e clara. Como é que ele ia encontrar entre os animais de criação do quintal um bichp com a carne tão dura?
Para salvar a própria vida, então resolveu que ia mesmo cortar a garganta da rainha e subiu até os aposentos dela, com a intenção de não errar e não precisar dar dois golpes. Com o punhal na mão, entrou no quarto da jovem. Mas não queria surpreendê-la e nem fazer nada à traição e, com muito respeito, transmitiu a ela a ordem que havia recebido da Rainha-mãe.

-Cumpra seu dever- disse ela, esticando o pescoço - e execute a ordem que recebeu. Assim irei rever meus filhos, meus filhinhos queridos que eu sempre amei tanto

         Ela achava que eles estavam mortos, porque tinha sido levados de junto dela sem que ninguém lhe dissesse nada.

-Não, não, minha senhora - respondeu o pobre mordomo enternecido - A senhora não vai morrer. Também não vai deixar de ver seus filhinhos, mas vai encontrá-los em minha casa, onde eles estão escondidos. Vou enganar a rainha de novo, dando uma corça para ela comer em seu lugar.

          Em seguida, conduziu a jovem rainha até seu quarto, onde a deixou, abraçada aos filhos chorando com eles. Depois tratou de caçar uma corça, que a rainha comeu no jantar, com o molho de sempre e o mesmo apetite que teria devorado a nora. Toda contente com sua crueldade, ela pretendia dizer ao rei, quando ele voltasse, que os lobos enraivecidos tinham comido a mulher dele e seus dois filhos.

        Mas uma tarde, quando ela caminhava pelos jardins e quintais do castelo, como costumava fazer, para escolher algum animal cuja carne fresca pudesse comer, ouviu que de dentro de uma sala baixa vinha a voz do pequeno Dia, chorando porque a mãe queria bater nele, que se comportara mal.

A Bela Adormecida no bosque Onde histórias criam vida. Descubra agora