É um mistério, do jeito que está destinado a ser

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- Quantas vezes eu já pedi que não deixe que se aproveitem da senhora? E eu só estava pedindo que essa... moça se retire, antes que sofra as consequências. - o ar de deboche ao referir-se a mim era evidente, irônico até já que era um mistério o fato de ele me irritar e me encantar ao mesmo tempo, associei o último a beleza dele, afinal não sou cega.
- Felipe! - ralhou a doce senhora - E eu já não lhe ensinei a não tirar conclusões precipitadas, além de respeitar as pessoas, independente de quem sejam?
- Mas vó eu...
- Calado rapaz! - espontaneamente um riso de deboche saiu de meus lábios, fazendo com que a atenção fosse voltada a mim - Você também mocinha, os dois agiram errado, agora quero que peçam desculpas.
Era engraçado o fato de dois adultos estarem levando sermão como duas criancinhas, mas isso não me deixava menos envergonhada, muito pelo contrário, o rubor tomava conta do meu rosto.
- Vamos! Estão esperando o quê? - indagou nos fitando com olhos rigorosos.
- Desculpa - dissemos em uníssono, sem nem ao menos nos encararmos.
- Façam direito crianças ou juro que faço vocês se abraçarem.
Em um único instante nos desculpamos e apertamos as mãos, em um gesto de paz, mas o que aconteceu foi o contrário, o calor da mão e a intensidade do olhar dele fizeram com que uma nova guerra se iniciasse dentro de mim e as lagartas começassem a tecer seus casulos.

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Por Felipe:

Aquele dia foi um caos no escritório, perdemos o contrato com um colaborador muito importante, um dos chefes de setor havia sofrido um acidente e seus subordinados não encontravam uns papeis muito importantes para a reunião que haveria no fim da tarde e para piorar tudo aquele calor estava me matando. Quando faltava pouco mais de uma hora para a reunião os papeis ainda não tinham aparecido, me fazendo desconfiar de traição, já que eram de grande valor não só para nossa empresa, como para todas do ramo. O mau humor que aquele dia nefasto me trouxe era óbvio, o que grande parte dos funcionários notaram e tomavam cuidado para estar o mais distante possível de mim, até hoje não sei o porquê de ter fama de mau humorado, isso ocorre apenas em dias exaustivos como o de hoje, talvez, seja apenas o fato de eu ser um cara muito focado no que faz, não tenho tempo para fazer brincadeiras e sorrir para todos, assim como meu parceiro, Nicolas.
Quando cheguei no carro notei que o sol forte e quente tinha sido trocado por cumulus nimbus ainda distantes, mas que avisavam sua chegada a partir de ventos muito fortes, se aqui não fosse o Brasil eu diria que um furacão estava se aproximando, e os trovejos eram notáveis mesmo longe, corretamente uma tempestade estava vindo aí. Após divagar sobre como o tempo pode nos surpreender lembrei-me que minha avó tinha pedido que eu arrumasse sua janela, que abria com um vento um pouco mais forte, portanto resolvi ir visitá-la antes que algo ruim viesse a acontecer e tomei meu rumo.
Quando estacionei em frente a casa da Dona Augusta percebi que teria pouco mais de meia hora até ter que ir buscar Nathan na creche, decidindo assim que traria meu moleque para ver a bisavó, o que sempre me fazia sorrir com o amor que um sente pelo outro. Meu sorriso desapareceu quando notei um ser sentado na varanda da minha avó, aquilo não poderia estar acontecendo outra vez, saí do carro as pressas, sem tirar o olhar daquela mulher que parecia uma protituta que tinha recém saindo do trabalho com aquela maquiagem borrada e cabelo duro por causa da água, com certeza não era boa pessoa. Ao me aproximar reparei que os seus olhos castanhos eram como a tempestade que chegava, faiscavam sentimentos que eu não podia defenir, como se fossem nebulos, mas límpidos e fascinantes, se isso é possível é essa a definição que aquele olhar merece,  mesmo sem a conhecer percebi que ela seria um incrível mistério. Ela não demonstrou se assustar ou acovardar com minha presença, pelo contrário ela me desafiou, como há muito tempo ninguém fazia, discutimos como crianças, admito, mas eu não poderia deixar que minha avó fosse ferida novamente. Dona Augusta fez com que pedissemos desculpas, mesmo que para mim fosse apenas da boca para fora, mas quando toquei aquela mão gélida senti um choque, foi como se meu coração tivesse parado por alguns instantes e cheguei a conclusão que esse era um mistério interessante de se resolver, mas o felizardo não seria eu, pilantras não terão mais espaço em nada que diga respeito a mim.

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Nota da autora: Sorry pelo erros. Beijos de luz.

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