Minha charada é o evento da estação

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Por Aurora:

O encanto do "boto cor-de-rosa" não durou muito tempo já que ele afastou a mão com tanta pressa que parecia que se ele mantesse o contato físico comigo por mais alguns segundo seria contaminado por um vírus letal. Vencido pela avó, Felipe suspirou como se ela não tivesse mais solução, então, olhou para o relógio e falou:
-Vó é um pouco cedo, mas eu tenho que ir buscar a pessoa mais importante da minha vida - ele me encarava como se desafiasse a contrariá-lo - Espero que quando eu voltar a senhora já tenha dispensado essa daí.
Quando abri a boca pra responder ele já estava saindo do portão, logo só pude ficar olhando aquele homem se dirigir ao carro, me deixando abismada comigo mesma. Quando dei por mim Dona Augusta me encarava com um olhar de malícia que me lembrava muito o emoji de luazinha.
-Vejo que você e o Lipe se deram bem -disse me fazendo encará-la como se ela estivesse beirando a insanidade.
-Não mesmo-falei em tom de urgência-Me desculpe, mas seu neto é um arrogante. Vejo que a chuva calmou, vou seguir meu rumo, senão chegarei tarde em casa. Muito obrigada por tudo Dona Gusta - disse a abraçando e beijando sua bochecha, a mesma corou com tamanha demonstração de afeto de minha parte. Quando eu estava saindo pelo portão ela me chama.
-Aurora, venha almoçar conosco no domingo, não aceito nenhuma negativa vinda de você.
Apenas sorri, concordei com a cabeça e continuei o que estava fazendo. Quando cheguei em casa a tempestade voltou a rugir nos céus e as gotas caiam pesadas como pequenas pedras. Naquela noite eu teria muito o que refletir, mas o sono não demorou a chegar e o cansaço me venceu, me deixando apenas pensar em como aquele cara era estranho, ao mesmo tempo que me fascinava me causava repulsa.
Aquela semana passou rápido, deixei currículo em quase todas as empresas da cidade, a qual não era grande, mas com certeza deveria possuir um lugar onde eu pudesse trabalhar com as qualificações que adquiri ao longo da vida, elas não eram poucas, o que, inclusive, incluía uma graduação em administração. Na sexta feira a empresa de engenharia mais famosa e rica da cidade me chamou para uma entrevista, a qual ocorreu com grade sucesso. Meu diploma finalmente serviria para alguma coisa e eu teria dinheiro para me sustentar, logo agora que o qual eu tinha estava por acabar. Eu seria a secretária de um dos dois presidente da empresa: Nicolas Sanmuey, eu começaria na segunda-feira as 9h e sairia as 16h com pausa para o almoço de uma hora, o salaria seria um pouco mais de R$1300,00, mais vale alimentação de R$200,00 e vale transporte, mas para a carga horaria e função estava de bom tamanho.
No domingo, mesmo sem muita animação, pois eu poderia acabar me deparando com o Sr. Arrogância, me encaminhei para casa de Dona Augusta. Fui o caminho todo perdida em pensamentos que iam desde meu novo emprego no dia seguinte até a possibilidade de ver aquele cara, meus medos se cumpriram quando dei por mim já estava parada rm frente a casa da idosa e para ao lado do carro de Felipe, os quais vim a conhecer naquele dia tempestuoso. Pensei em sair dali sem que ninguém me visse e depois me desculpar com Dona Augusta, inventando algum compromisso de última hora, mas já era tarde, ela já acenava freneticamente da janela, fazendo um sinal para que eu entrasse. Não me restavam escolhas, a não ser sugar toda a coragem e paciência possível em um suspiro e seguir em frente.
Abri o portão e segui até a porta, na qual uma criança me esperava.
-Você deve ser a Aurora, a moça bonita que a vovó falou, ela disse também que você e o papai são quentes, não sei o que significa, mas vocês estão com febre? Papai sempre usa o termômetro embaixo do meu suvaco pra ver, você já usou? - Aquele carinha me pegou de surpresa, mas eu não sabia do que ele estava falando tanto quanto ele, afinal quem era o pai dele?
- Acho que ela não quis dizer isso, meu bem, veja não estou tão quente assim não é? - falei colocando a pequena mãozinha na minha testa.
- Verdade, o que a vovó quis...
-Nathan! Com quem você ta falando? Quantas vezes já disse pra você não inventar esses amigos imaginários? - gritou uma voz, que infelizmente eu já conhecia.
-Mas papai...
-Sem mas... Você - disse ele entre dentes me encarando - o que faz aqui?
-Papai, essa é a Aurora, vovó disse que ela vinha.
-Pra dentro Nathan, vá assistir televisão!
-Olha aqui precisamos esclarecer algumas coisas Sr. Arrogância - eu disse encarando aqueles olhos que hoje se encontravam mais acizentados.
-Meu nome é Felipe, sua...
-E eu perguntei? -infantil? Sim, mas quem liga? Eu não deixaria essa briga com uma derrota - Quem tu é não me interessa! Eu to aqui a convite da Dona Gusta, eu poderia ir embora por sua causa, mas agora, graças a esse seu ego, eu não saio, se quiser tu que saia.
-Agora mesmo que não saio, nem ao menos deixarei você passar dessa porta - cruzou os braços no batente da porta, impedindo minha passagem.
-Então vamos passar o dia todo aqui, querido.- cruzei os braços como ele- Já que temos bastante tempo aqui, deixa eu te avisar uma coisa, se tu continuar sendo esse babaca que tu é com o garoto ele vai se tornar alguém que vai se rebaixar pra todo mundo, se ele quer ter amigos imaginários deve ser que graças a um pai como tu, que não deixa o garoto ser ele mesmo, faz com que as crianças não se aproximem dele, já que ele não deve ter coragem de encarar as outras crianças, uma pena ele parece uma criança tão doce.
-NÃO FALE O QUE NÃO SABE! VOCÊ NÃO É NINGUÉM, PARA FICAR ME DIZENDO COMO DEVO CRIAR MEU FILHO. - gritou e eu percebi que tinha ido longe demais, afinal ninguém tem direito de se meter na criação de seus filhos, mas senti que eu precisava, eu gostei daquele menininho - VOCÊ É SÓ UMA VAGABUNDA QUE QUER TIRAR COISAS DA MINHA AVÓ.
-É TU TEM RAZÃO! EU QUERO TIRAR COISAS DA TUA AVÓ E ISSO SE CHAMA AMIZADE E CARINHO - ele nem me conhecia e dizia essas coisas e não era a primeira vez, então a raiva me dominou - VOCÊ NÃO SABE O QUE É SE SENTIR BEM-VINDA EM UM LUGAR EM ANOS, O QUE É SENTIR CARINHO E COMPAIXÃO EM MUITO TEMPO!
-EU NÃO TENHO CULPA SE NENHUM HOMEM TE QUER, A NÃO SER PRA TE COMER!-Ele tocou num ponto que me machucava e nesse momento começaram a correr lagrimas pelas minhas bochechas e ele mostrou um olhar vitorioso.
-Não diz o que tu não sabe. - sussurrei em tom de derrota ao mesmo tempo que Dona Augusta apareceu com as mãos na cintura, nos olhando com cara de poucos amigos.
-Me expliquem o que aconteceu! Felipe, diga! - ordeu ela mas ele apenas disse que nada, então o olhar dela se voltou para mim - Aurora, diga você! - mas eu apenas queria secar minhas lagrimas e fingir que aquilo não foi nada, logo apenas dei de ombros, sinalizando que não comentaria o ocorrido, mesmo que ela ficasse irritada comigo. - Que assim seja! Mas não quero ouvir mais uma palavra dita de maneira rude de um para o outro hoje, vocês vão ter que se aguentar, porque ninguém sai daqui. Entendido?- falou quando ameacei sair.
- Sim - dissemos juntos a seguindo, como duas crianças que tinham acabado de aprontar a pior arte de suas vidas.

Por Felipe:

No momento que eu vi aqueles olhos lacrimejarem, senti meu peito apertar e eu não entendia o porquê já que ela também havia sido rude comigo, dessa forma, descobri que naquele verão meu coração avisou que ela seria uma charada interessante de desvendar, ao mesmo tempo que o cérebro disse para me manter longe, pois além de uma charada ela era um furacão.

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Nota da autora: Mais uma vez, o capítulo não foi revisado, então continuo a pedir que quaisquer erros sejam avisados. Beijos de luz.

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