Uma gota em um imenso oceano

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A muito tempo eu não sabia o que era desfrutar de tamanha generosidade, nem mesmo era capaz de lembrar-me do conceito dessa palavra. O sentimento que o ato da idosa causou em mim era estranho, trazia-me paz, mas ao mesmo tempo fazia com que meu peito se apertasse em agonia, fazendo com que minha mente permanecesse vazia de pensamentos, obrigando-me a mirar as nuvens rebeldes que bailavam no céu, o qual agora se encontrava ainda mais escuro, enquanto aquela toalha, que continha um leve perfume de jasmim, me aquecia.  Após um longo suspiro sinto a presença da doce senhora se aproximando, deixo de encarar o céu e passo a admirá-la. Era incrível como uma senhora que aparentava ter mais de 70 anos tivesse tanta disposição, ainda mais para ajudar uma estranha ou, talvez, ela não fosse tão velha, apenas aparentava ser devido aos seus cabelos brancos como as roupas que compunham seu look impecável, um vestido e um xale, quem me derás ser capaz de manter minhas roupas tão brancas quanto essa mulher mantém as suas. Ao notar meu olhar ela sorri e me alcança uma xícara com  um chá fumegante dentro dela, assim, trato de agradece-la e inspiro o aroma suave da bebida, o qual reconheço em seguida:
-Esse chá é de capim limão?- pergunto
-É sim, vejo que a mocinha entende de chá. - brinca ao ver meu sorriso de satisfação.
-Não entendo, mas esse chá fez parte da minha infância e fico feliz que a senhora mesmo sem saber da minha preferência o tenha preparado para mim.
-E eu fico feliz por ter acertado, esse chá é muito bom para se esquentar depois de um banho de chuva, eu sempre preparava para meu neto, quando ele era pequeno, depois disso passou a não gostar mais dos chás que eu fazia, agora bebe apenas café. -faou com um ar de desdém que me fez sorrir - Eu já disse que ele vai acabar com gastrite, mas ele não me ouve. Mas enfim, minha querida, eu coloquei açúcar, espere que não se importe, é que o açúcar acalma a alma quando estamos com problemas.
Tal pensamento me surpreendeu, é incrível ouvir sobre as crenças dos anciãos, mas eu não esperava que ela fosse adivinhar o que eu precisava naquele momento, então agradeci pelo feito e lembrei que nem ao menos sabia o nome dela.
-Obrigada por tudo, mas ainda não sei seu nome. - perguntei um pouco encabulada.
-Meu nome é Augusta e o seu meu anjo?- era incrível como aquele ser podia ser tão amoroso com uma desconhecida.
-Me chamo Aurora e me desculpe por ser tão indiscreta, mas por que a senhora acolheu a mim, uma desconhecida?
-Olha Aurora, minha filha - disse pegando em minhas mãos e me fazendo sentar ao seu lado - nós somos apenas uma gota nesse imenso oceano, se não ajudarmos uns aos outros quem ajudará? - ao perceber que não receberia nenhuma resposta continuou- além do mais se fosse comigo eu gostaria que você me acolhesse.
-Mas a senhora deveria saber que eu não o faria, não por maldade, apenas não confio na humanidade, são todos lobos em pele de cordeiro, querem apenas o mal dos demais.
-Minha querida, não sei pelo que você passou, porém ainda há pessoas boas e haverá mais uma se você também for, veja sempre o copo como meio cheio. Assim, quem sabe você posso acabar fazendo amizade com uma desconhecida, como estou fazendo agora com você - enquanto falava aquele sorriso doce não saia de seus lábios e sua sábias palavras me antingiram como flechas - Mas mudando de assunto, fiz uns pães cadeiros maravilhosos, aceita experimentar?
- É claro, adoro pães caseiros, mas espere - eu disse fingindo pressa, fazendo com que ela me olhe assustada - a senhora não é uma bruxa má que quer me engordar e me comer depois, não é?
- Ora, sua boba, quem sabe eu seja - disse fazendo com que nós duas caíssemos na gargalhada.
Ao mesmo tempo que ela buscava os pães um carro preto estacionou na frente do portão e dele desceu um homem, arrisco a dizer que é um dos mais belos que já conheci, sua beleza não era física, não sei explicar de onde vinha isso, ele era apenas belo e único. Quando me notou eu pude perceber o verde de seus olhos, uma esmeralda se envergonharia diante deles, mas era uma pena que olhos tão lindos estivessem em um olhar tão raivoso, antes que eu pudesse perceber que tal raiva era direcionada a mim ele já se mostrava parado na minha frente, me encarando com um ar de superioridade, claro que eu estava com o cabelo molhado e desgranhado, o rímel escorrido e encolhida em uma varanda de uma idosa que acabo de conhecer, porém ele não era melhor que eu só por isso, dessa maneira tratei de encara-lo da mesma maneira, até ouvir sua voz grossa soar ríspida:
- O que uma...va... - o homem aparentava perdido em várias palavras que para ele poderiam me definir e eu começava a me irritar, uma dica: não irrite uma escorpiana - uma qualquer, como você pensa que está fazendo aqui? Você acha que só porque minha avó é idosa é fácil estorquí-la? Vá embora daqui e nunca mais volte, vadia.
- Opa, opa! Tu me chamou de quê? -eu estava verdadeiramente irritada, ninguém me chama de vadia e sai impune - Querido, nem sei quem tu é, mas já vai baixando tua bola que tu nem é tudo isso. - quando me irrito meu sotaque sulista fica evidente, me fazendo parecer uma idiota -  Antes de sair ofendendo as pessoas tu deveria olhar pra sí mesmo, um qualquer que acha que sabe mais que os outros, mas daí sim né. Só pra ti saber tua vó que me convidou, eu tava pingando água e ela me ofereceu abrigo até a chuva passar, mas agora que tu chegou eu já vou, cuida bem dela ela é uma jóia rara. - Antes de tirar a toalha em que eu estava enrolada bati o dedo no peito dele e completei - Espero que aprenda algo com tua vó, ta precisando.
- Olha aqui caipira, respeito é pra quem merece não pra quem quer.
- Ah claro! E eu não mereço! Cheguei do nada te ofendendo por isso não mereço, entendi - ironizei
-O que está acontecendo aqui? - no momento que Dona Augusta chegou nós já pareciamos dois lutadores de UFC se encarando - Exijo explicações! Você começa Felipe! - ordenou a idosa.
°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°° Nota da autora: capítulo sem revisão, se possível avisem sobre os erros, deste ou de qualquer outro capítulo. Beijos de luz.

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