Voltando à estrada

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       Permanecemos unidos ainda por um bom tempo, até que a paz e o relaxamento  total trazidos pelo gozo pleno, essa satisfação não só da necessidade do corpo mas também da alma, nos envolvesse completamente.
      Com muito cuidado, ele se afastou, deitou de costas, mas se manteve ao meu lado. Uma das suas mãos pairou sobre seu peito, acompanhando o ritmo de subida e descida da sua respiração que aos poucos normalizava, e a outra repousou sobre a minha mão com um leve aperto. Olhou-me carinhosamente, sorriu com um ar de contentamento e gratidão, fechou os olhos e adormeceu.
Eu não pude, consciente como estava de cada parte do seu  corpo  próximo  ao  meu... Minha vontade era de abraçá-lo e mantê-lo junto a mim o maior tempo que eu conseguisse. Mas eu não ousava me mexer sob o risco de quebrar o encanto desse momento e perder qualquer coisa que eu pudesse captar e gravar na memória: O tamborilar da chuva na folhagem lá fora; o uivo incessante do vento; o creptar baixinho da fogueira , que ardia com menos intensidade agora, e seu calor envolvente que nos aquecia; o tremular das sombras dos nossos corpos refletidas na parede; os admiráveis contornos bem definidos do seu corpo; os diversos tons de cores do seu cabelo, que variavam do louro-dourado a um vermeho intenso sob a luz do fogo; os movimentos lânguidos e involuntários que fazia durante o sono; o cheiro do seu suor misturado ao odor do nosso sexo; sua respiração soando como uma música me embalando e querendo me levar para as profundezas de deliciosos sonhos...

Permaneci ao seu lado o máximo que pude. Mas não queria que quando ele despertasse me visse ainda ali... a prova da sua fraqueza, da pequena falha da sua masculinidade, a dolorosa lembrança de um desejo incontido... E eu não alimentava a ilusão de que tudo seria diferente ao amanhecer. Ele ainda a amaria. E eu ainda seria apenas seu amigo. Ou não.

A noite, essa eterna protetora dos amantes, estava se esvaindo, adquirindo um bonito tom de violeta, enquanto delicados raios alaranjados despontavam preguiçosamente no horizonte quando levantei. Vesti-me  e, antes de sair, dei uma última olhada no corpo do homem que me propiciou uma das maiores alegrias da minha vida. "Obrigada!" Disse baixinho, sem saber se proferia essa palavra para ele ou para Deus. Talvez para ambos... E saí da gruta.

                             ***

Quando ele  voltou  para  estrada, ao alvorecer, eu estava olhando para a longo caminho  que  se  descortinava à nossa frente, estimando  o  tempo  que  faltava para  chegarmos ao nosso destino.

     - Talvez mais umas 2 horas. Estamos perto! Ele disse, acompanhando a direção do meu olhar e respondendo à minha pergunta silenciosa.

     - Bem... então vamos! Temos pouco tempo antes que os policiais da prisão de Athlone estejam nos meus calcanhares. E iniciei a caminhada.

      - John ?

Virei-me para olhá-lo. Ele ainda estava parado no mesmo lugar.

- Sim?

      - Eu não me arrependo de nada que já fiz nessa vida! — Ele disse com um olhar pensativo no horizonte.

Depois, olhou fixamente para mim, e com um pequeno vislumbre de um sorriso nos lábios, completou:
– De nada mesmo! E começou a caminhar.

    Lado a lado na caminhada, olhei para ele pelo canto do olho. Ele estava sério, mas com um semblante sereno, em paz. E eu, estava radiante!

                         **** Fim ****

Apenas uma noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora