Thwap.Luce recuou e esfregou seu rosto. Seu nariz doía.Thwap. Thwap.Agora eram suas bochechas. Suas pálpebras se abriram e, quase imediatamente, ela enrugou seu rosto em surpresa. Uma garota atarracada com cabelo loiro-cor-de-água-suja, aspecto carrancudo e sobrancelhas enormes inclinava-se sobre ela. Seu cabelo estava amontoado bagunçadamente no topo de sua cabeça.Ela usava calça de ioga e uma regata de camuflagem com suportes que combinavam com seus olhos avelã com manchinhas verdes. Ela segurava uma bola de ping-pong entre seus dedos, preparada para arremessar.Luce arrastou-se para trás com seu lençol e escondeu seu rosto. Seu coração já doía pela falta de Daniel. Ela não precisava de mais dores. Ela olhou para baixo, ainda tentando se orientar, e se lembrou da cama onde tinha indiscriminadamente caído na noite anterior.A mulher de branco que tinha aparecido assim que Daniel partira tinha se apresentado como sendo Francesca, uma das professoras em Shoreline. Mesmo em seu estupor de surpresa, Luce podia afirmar que a mulher era linda. Ela estava nos seus trinta e pouco anos, com cabelo loiro roçando seus ombros, bochechas redondas, e traços amplos e suaves.Anjo, Luce decidira quase instantaneamente.Francesca não fizera nenhuma pergunta a caminho do quarto de Luce. Ela deveria estar esperando a entrega de fim de noite, e deveria ter sentido a suprema exaustão de Luce.Agora essa estranha que havia jogado Luce de volta à consciência parecia pronta para atirar outra bola.― Que bom ― ela disse numa voz dura. ― Você está acordada.― Quem é você? ―Luce perguntou sonolentamente.― Quem é você, isso sim. Tirando a estranha intrometendo-se no meu quarto, que eu encontro ao acordar. Tirando a menina interrompendo o meu mantra matinal com seu papo pessoal sonâmbulo estranho. Sou Shelby. Enchantée.Não é anjo, Luce supôs. Apenas uma californiana com uma forte noção de que algo lhe pertence.Luce sentou-se na cama e olhou ao redor. O quarto era um pouco apertado, mas era bem mobiliado, com piso de madeira clara; uma lareira que funcionava; um micro-ondas; duas escrivaninhas profundas e largas; e prateleiras de livros embutidas que também serviam de escada para o que, Luce percebera agora, era o beliche de cima.Ela conseguia ver um banheiro particular depois de uma porta corrediça de madeira. E – ela teve que piscar algumas vezes para ter certeza – uma vista do oceano pela janela. Nada mal para uma garota que tinha passado o último mês espiando um velho cemitério enfileirado num quarto mais apropriado para um hospital do que para uma escola. Mas também, pelo menos aquele cemitério enfileirado e aquele quarto significavam que ela estava com Daniel. Ela mal tinha começado a ficar confortável na Sword&Cross. E agora estava de novo começando do zero.― Francesca não mencionou nada sobre eu ter uma colega de quarto.Luce soube instantaneamente, pela expressão no rosto de Shelby, que essa era a coisa errada para se dizer.― Está bem ― Shelby tomou um longo fôlego. ― Frankie não mencionou na noite passada que você tinha uma colega de quarto porque ela teria que ter ou notado – ou, se ela já tivesse notado, revelado – que eu não estava na cama quando você chegou. Eu entrei pela janela‖― ela apontou ― por volta das três.Pela janela, Luce conseguia ver um amplo peitoril conectando-se a uma porção angular do telhado. Ela imaginou Shelby lançando-se sobre toda uma rede de peitoris no telhado para voltar aqui no meio da noite.Shelby bocejou.― Veja bem, quando se trata dos Nephilins na Shoreline, a única coisa sobre a qual os professores são rígidos é o fingimento de disciplina. Disciplina, por si só, não existe muito. É claro que,contudo, Frankie não vai propagandear isso para a novata. Especialmente não para Lucinda Price.Ali estava, de novo. Aquela aspereza na voz de Shelby quando ela disse o nome de Luce. Luce queria saber o que significava. E onde Shelby estivera até as três. E como ela tinha entrado pela janela, no escuro, sem derrubar todas aquelas plantas. E quem eram os Nephilins?Luce teve flashbacks vívidos e súbitos da selva mental do ginásio por onde Ariane tinha levado-a quando se conheceram. O exterior duro de sua colega de quarto na Shoreline era muito parecido com o de Ariane, e Luce lembrou-se de uma sensação similar de como-eu-poderei-ser-sua-amiga em seu primeiro dia.Mas apesar de Ariane ter parecido intimidadora e até mesmo um pouco perigosa, havia algo encantadoramente excêntrico nela desde o começo. A nova colega de quarto de Luce, pelo contrário, simplesmente parecia irritante.Shelby saiu da cama e movimentou-se pesadamente até o banheiro para escovar seus dentes. Após caçar em sua mochila de tecido para achar sua escova de dentes, Luce seguiu-a e gesticulou timidamente para a pasta de dentes.― Esqueci de trazer a minha.― Sem dúvida o brilho da sua fama te cegou para as pequenas necessidades da vida ―Shelby retrucou, mas pegou o tubo e estendeu-o na direção de Luce.Elas escovaram em silêncio por cerca de dez segundos até que Luce não conseguiu mais aguentar. Ela cuspiu um bocado de espuma.― Shelby?Com sua cabeça perto da pia de porcelana, Shelby cuspiu e disse:― O quê?Ao invés de fazer qualquer uma das perguntas que estiveram correndo por sua cabeça um minuto atrás, Luce se surpreendeu e perguntou:―O que eu estava dizendo enquanto dormia?Esta manhã fora a primeira de pelo menos um mês de sonhos vívidos, complicados e governados por Daniel em que acordara incapaz de se lembrar de uma única coisa de seu sonho. Nada. Nem um roçar da asa de um anjo. Nem um beijo dos lábiosdele.Ela encarou o rosto irritado de Shelby no espelho. Luce precisava da garota para ajudá-la a refrescar sua memória. Ela devia ter sonhado com Daniel. Se ela não sonhara... o que isso poderia significar?―Não faço a menor ideia ― Shelby disse finalmente. ―Você dizia só coisas abafadas e incoerentes. Da próxima vez, tente enunciar ―ela deixou o banheiro e calçou um par de chinelos laranja. ― É hora do café da manhã. Você vem ou não?‖Luce apressou-se para fora do banheiro.― O que eu visto?Ela ainda estava de pijamas.Francesca não dissera nada na noite passada sobre um código de vestimenta. Mas, também, ela falhara em mencionar o negócio sobre a colega de quarto.Shelby deu de ombros.― O que, sou a polícia da moda? O que quer que leve o menor tempo possível. Estou com fome.Luce entrou rapidamente numa calça jeans skinny e num suéter preto com botões. Ela gostaria de passar mais alguns minutos no seu visual do primeiro dia de escola, mas simplesmente agarrou sua mochila e seguiu Shelby porta afora.O corredor do dormitório era diferente à luz do dia. Em todo lugar onde olhava havia janelas claras e excessivamente grandes com vistas para o oceano, ou estantes de livros embutidas estufadas com livros de capa dura grossos e coloridos.Os pisos, as paredes, os tetos rebaixados e as escadarias íngremes e curvadas eram todos feitos da mesma madeira de bordo usada para construir a mobília de dentro do quarto de Luce. Isso deveria ter dado ao lugar todo uma sensação calorosa de uma cabana rústica, exceto que a estrutura da escola era tão intrincada e bizarra quanto o dormitório da Sword&Cross fora tedioso e simples. A cada poucos passos,o corredor parecia se dividir em pequenos corredores afluentes, com escadas em espiral levando mais adiante para o labirinto pobremente iluminado.Dois lances de escadas e o que parecia ser uma porta secreta depois, Luce e Shelby passaram por um par de janelas de batente duplamente reforçadas e foram para a luz do dia. O sol estava incrivelmente claro, mas o ar estava frio o bastante para Luce ficar feliz de ter usado um suéter. Cheirava ao oceano, mas não como em casa. Menos salgado que as praias da costa leste.―O café da manhã é servido no terraço ― Shelby gesticulou para uma ampla expansão verde de terra.Esse gramado era limitado em três lados por espessos arbustos de hortênsias azuis, e no quarto lado, pela descida íngreme e direta até o oceano. Era difícil para Luce acreditar em como o ambiente da escola era tão bonito. Ela não conseguia imaginar ser capaz de ficar dentro tempo o bastante para aturar uma aula.Enquanto se aproximavam do terraço, Luce viu outro prédio, uma estrutura longa e retangular com telhas de madeira e vidraças adornadas por um amarelo vibrante. Uma ampla placa escrita a mão pendia sobre a entrada: "REFEITÓRIO",‖ lia-se em aspas, como se estivesse tentando ser irônico. Era certamente a bagunça mais bonita que Luce já vira.O terraço estava cheio de mobília de jardim feita de ferro pintado de branco e cerca de cem dos alunos mais despreocupados que Luce já havia visto. A maioria deles estava sem os sapatos, seus pés apoiados nas mesas enquanto se alimentavam de pratos detalhes no café da manhã. Ovos Benedict, waffles belgas com frutas em cima, quiches deliciosas em formato triangular de folhados cobertos de espinafre. Garotos liam o jornal,tagarelando em seus celulares, jogando croquet no gramado. Luce conhecia os riquinhos da Dover, mas os riquinhos da costa leste eram mesquinhos e esnobes, não bronzeados e despreocupados. O cenário todo parecia mais com o primeiro dia do verão do que com uma terça do começo de novembro. Era tudo tão agradável, era quase difícil se ressentir dos olhares de satisfação nos rostos desses garotos. Quase.Luce tentou imaginar Ariane aqui, o que ela acharia de Shelby ou dessa comida servida ao lado do mar, como ela provavelmente não saberia do que tirar sarro primeiro. Luce desejou poder contar com Ariane agora. Seria bom ser capaz de rir.Olhando ao redor, ela acidentalmente fez contato visual com um casal de estudantes. Uma garota bonita com pele azeitonada, um vestido de bolinhas e um lenço verde amarrado em seu lustroso cabelo preto. Um garoto com cabelo cor de areia e ombros largos devorando uma pilha enorme de panquecas.O instinto de Luce era desviar seu rosto assim que fez contato visual – sempre a melhor opção. Mas... nenhum dos dois olhou feio para ela. A maior surpresa em Shoreline não era a luz do sol cristalina ou o terraço confortável do café da manhã ou da aura de rios de dinheiro pairando sobre todos. Era que os estudantes aqui sorriam.Bem, a maior parte deles sorria. Quando Shelby e Luce alcançaram uma mesa desocupada, Shelby pegou um pequeno letreiro e o atirou no chão. Luce inclinou-se para o lado para ver a palavra RESERVADO escrito nele bem quando um garoto da idade delas com um traje de garçom completo aproximou-se delas com uma bandeja de prata.― Hm, essa mesa está re... ―ele começou a dizer sua voz quebrando inoportunamente.― Café, preto― Shelby disse, então abruptamente perguntou a Luce ― O que você quer?― Hm, o mesmo ― Luce respondeu, desconfortável por estar sendo servida.― Talvez um pouco de leite.― Garotos com bolsa de estudos. Tem que se escravizar para sobreviver. ‖Shelby girou seus olhos para Luce enquanto o garçom corria para longe para conseguir o café delas. Ela pegou o San Francisco Chronicle do meio da mesa e desdobrou a página principal com um bocejo.Foi bem por aí que Luce teve o bastante.― Ei― ela empurrou o braço de Shelby para que pudesse ver o rosto dela atrás do jornal.As pesadas sobrancelhas de Shelby se levantaram em surpresa.― Eu costumava ter uma bolsa de estudos ― Luce disse a ela.―Não na minha última escola, mas na antes dessa...Shelby retirou a mão de Luce.― Deveria ficar impressionada por essa parte do seu currículo, também?Luce estava prestes a perguntar o que Shelby tinha ouvido falar sobre ela quando ela sentiu uma mão quente em seu ombro.Francesca, a professora que encontrara Luce na porta na noite passada, estava sorrindo para ela.Ela era alta, com uma atitude imperiosa, e estava arrumada comum estilo que parecia não requer esforço algum. O macio cabelo loiro de Francesca estava voltado para um lado com simplicidade. Seus lábios eram de um rosa brilhoso. Ela usava um vestido preto apertado, um cinto azul e salto alto peep-toe combinando. Era o tipo de roupa que faria qualquer um se sentir desleixado em comparação. Luce desejou que pelo menos tivesse passado rímel. E talvez não usado seu All-star encrostado de lama.―Ah, que bom, vocês duas se deram bem ― Francesca sorriu. ― Sabia que ficariam amigas rápido!Shelby estava quieta, mas farfalhou seu jornal. Luce simplesmente limpou sua garganta.― Acredito que achará Shoreline bem simples de se ajustar, Luce. Foi programada dessa maneira. A maior parte dos nossos estudantes dotados se encaixa sem problemas.―Dotados?―É claro, você pode vir até mim com qualquer pergunta. Ou simplesmente depender da Shelby.Pela primeira vez na manhã, Shelby riu. Sua risada era algo grosseiro e empedrado, o tipo de gargalhada que Luce teria esperado de um homem mais velho, um fumante por toda sua vida, não uma adolescente entusiasta de ioga.Luce conseguia sentir seu rosto retorcendo-se em uma carranca. A última coisa que ela queria era se encaixar sem problemas‖ em Shoreline. Ela não pertencia a um monte de garotos dotados e mimados num penhasco com vista para o oceano. Ela pertencia a pessoas de verdade, pessoas com alma invés de raquetes de squash, que sabiam como era a vida.Ela pertencia a Daniel. Ela ainda não fazia ideia do que estava fazendo aqui, fora se escondendo por um tempo muito temporário enquanto Daniel lidava com sua... guerra. Depois disso, ele iria levá-la de volta para casa. Ou algo assim.―Bem, vejo vocês duas na aula. Desfrutem do café da manhã!Francesca anunciou sobre os ombros enquanto deslizava para longe.― Provem a quiche!Ela acenou com sua mão, sinalizando para o garçom trazer para cada uma das garotas um prato.Quando ela se fora, Shelby tomou um gole de seu café, fazendo barulho, e limpou sua boca com as costas da mão.― Hm, Shelby...― Já ouviu falar em comer em silêncio?Luce bateu sua xícara de café de volta em seu pires e esperou impacientemente para que o garçom agitado servisse suas quiches e desaparecesse novamente. Parte dela queria achar outra mesa. Havia zumbidos felizes de conversas ao redor dela. E se ela não pudesse se juntar a um deles, mesmo sentar-se sozinha seria melhor que isso. Mas ela estava confusa sobre o que Francesca havia dito. Por que fazer propaganda de que Shelby era uma ótima colega de quarto, quando estava claro que a menina odiava tudo? Luce triturou uma mordida de quiche em sua boca, sabendo que não seria capaz de comer até que falasse.― Está bem, sei que sou nova aqui, e por algum motivo, isso te irrita. Acho que você tinha um quarto só para você antes de mim, sei lá.Shelby abaixou o jornal logo abaixo de seus olhos. Ela levantou uma sobrancelha gigantesca.― Mas não sou tão mal assim. E daí que tenho algumas perguntas? Me desculpe por não chegar na escola sabendo que diabos são Nephermans...― Nephilins.― Que seja. Não ligo. Não tenho interesse nenhum em fazer de você minha inimiga,o que significa que parte disso ―Luce disse, gesticulando para o espaço entre as duas ―vem de você. Então qual o seu problema, afinal?A lateral da boca de Shelby contorceu-se. Ela dobrou e abaixou o jornal e inclinou-se para trás em sua cadeira.― Você deveria ligar para os Nephilins. Seremos seus colegas de classe― ela fez um gesto com sua mão, acenando para o terraço. ―Olhe para o lindo e privilegiado corpo estudantil do Colégio Shoreline. Você nunca verá novamente metade desses idiotas, exceto como objeto das nossas pegadinhas.― Nossas?― Sim, você está no "programa de honra" com os Nephilins. Mas não se preocupe; caso não seja muito inteligente― Luce bufou ―o registro de dons por aqui é quase que só um meio de encobertar, um lugar para armazenar os Nephs sem que ninguém tenha muitas suspeitas. De fato, a única pessoa que já teve suspeitas é Beaker Brady.― Quem é Beaker Brady? ―Luce perguntou, inclinando-se para que não tivesse que gritar sobre a estática áspera das ondas batendo na praia abaixo.―Aquele nerdinho que só tira A, duas mesas daqui.Shelby assentiu para um gordinho vestido de xadrez que tinha acabado de derramar iogurte sobre seu enorme livro.― Os pais dele odeiam o fato que ele nunca foi aceito nas aulas de honra. A cada semestre, eles travam uma campanha. Ele traz notas da Mensa International, resultados de feiras de ciência, ganhadores famosos do prêmio Nobel que ele impressionou, esse negócio todo. E todo semestre, Francesca tem que inventar alguma besteira de teste impossível de passar para impedi-lo de entrar ―ela bufou. ―Tipo, "Hey, Beaker, resolva esse cubo mágico em menos de trinta segundos" ―Shelby estalou sua língua contra seus dentes. ―Só que o retardado passou nesse.― Mas se é para encobertar ― Luce perguntou, sentindo-se meio mal por Beaker ― é para encobertar o quê?― Pessoas como eu. Sou uma Nephilim. N-E-P-H-I-L-I-M. Isso quer dizer qualquer coisa com algo de anjo em seu DNA. Mortais, imortais, transeternos. Tentamos não discriminar.― O singular não deveria ser, sabe, nephil?Shelby fez carranca.― Sério? Você iria querer ser chamada de nephil? Soa como uma sacola onde você carrega o seu vexame dentro. Não,valeu. É Nephilim, não importa sobre quantos de nós você esteja falando.Então Shelby era um tipo de anjo. Estranho. Ela não parecia ou agia como um. Ela não era linda como Daniel, Cam ou Francesca. Não possuía o magnetismo de alguém como Roland ou Ariane. Ela simplesmente parecia meio grosseira e mal-humorada.― Então, é como uma escola particular para anjos― Luce disse. ― Mas por quê? Vocês vão pra faculdade para anjos depois?― Depende do que o mundo precisa. Muitos tiram um ano de folga e vão para a Unidade Militar Nephilim. Você pode viajar, ter um casinho com um estrangeiro, etcetera. Mas isso é em tempos de, sabe, paz relativa. Neste momento, bem...― Neste momento o quê?― Que seja― Shelby parecia estar mastigando a palavra. ― Simplesmente depende de quem você é. Todos aqui têm, sabe, níveis variáveis de poder ― ela continuou, parecendo ler a mente de Luce. ― Uma escala deslizante que depende da sua árvore genealógica. Mas no seu caso...Isso Luce sabia.― Só estou aqui por causa do Daniel.Shelby jogou seu guardanapo em seu prato vazio e levantou-se.― É um jeito realmente impressionante de se ver, Luce. A garota cujo namorado figurão puxou alguns pauzinhos.Era isso o que todos pensavam dela aqui? Era essa... a verdade?Shelby esticou a mão e roubou o último pedaço de quiche do prato de Luce.― Se quiser um fã-clube da Lucinda Price, tenho certeza deque poderá achar aqui. Só me deixe fora dessa, está bem?― Do que você está falando? ―Luce se levantou. Talvez ela e Shelby precisassem rebobinar novamente. ― Não quero um fã-clube...― Está vendo, eu te disse― ela escutou uma voz aguda, mas bonita,dizer.De repente, a garota com o lenço verde estava perante ela,sorrindo e cutucando outra garota para que fosse em frente. Luce espiou além delas, mas Shelby já estava bem longe – e provavelmente não valia apena alcançá-la. De perto, a garota do lenço verde parecia meio que uma Salma Hayek jovem, com lábios cheios e um peito ainda maior. A outra garota, com sua cor pálida, olhos avelã e cabelo preto curto, parecia meio com a Luce.― Espera, então você realmente é a Lucinda Price?― A garota pálida perguntou.Ela tinha dentes brancos muito pequenos e usava-os para segurar um par de grampos de cabelo revestidos de lantejoula enquanto retorcia algumas mechas escuras em pequenos nós.― Luce de Luce-e-Daniel? ―A garota que acabou de chegar daquela escola horrível no Alabama - Georgia?Luce meio que assentiu.― Mesma coisa. Aimeudeus, como era o Cam? Eu o vi uma vez num show de death metal... é claro, eu fiquei nervosa demais para me apresentar. Não que você fosse ficar interessada no Cam, porque, obviamente, Daniel!―Ela riu com a garganta. ―Sou a Dawn, a propósito. Esta é Jasmine.― Oi ―Luce disse lentamente. Isso era inédito. ― Hm...― Não ligue para ela, ela só bebeu, tipo, onze cafés― Jasmine falava cerca de três vezes mais lentamente que Dawn. ― O que ela quis dizer é que estamos empolgadas em te conhecer. Sempre dizemos como você e Daniel tem, tipo, a maior história de amor. De todos os tempos.― Sério?―Luce estalou os dedos.― Está brincando? ― Dawn perguntou, apesar de Luce esperar que fossem elas que estivessem fazendo algum tipo de piada. ―Todo aquele negócio de morrer uma vez após outra? Está bem, isso faz você querê-lo ainda mais? Aposto que sim! E ohhh, quando aquele fogo que te queima‖― ela fechou seus olhos, colocou uma mão sobre seu estômago, então roçou-a corpo acima, fechando um punho sobre seu coração. ―Minha mãe costumava me contar a história quando eu era uma garotinha.Luce ficou chocada. Ela espiou o terraço lotado, se perguntando se alguém podia ouvi-las. Falando em queimar, suas bochechas deviam estar vermelhas como uma beterraba agoraUm sino de ferro tocou do telhado do refeitório para sinalizar o fim do café da manhã, e Luce ficou feliz por ver que todos tinham outras coisas nas quais se focar. Como ir para aula― Sua mãe costumava lhe contar que história? ― Luce perguntou lentamente. ― Sobre eu e o Daniel?― Só alguns pontos principais― Dawn respondeu, abrindo seus olhos.― Parece com uma onda de calor? Com um tipo de coisa da menopausa, não que você fosse saber...Jasmine bateu no braço de Dawn.― Você acabou de comparar a paixão desenfreada de Luce com uma onda de calor?― Desculpa― Dawn deu risada. ―Eu só estou fascinada. Parece tão totalmente romântico e incrível. Estou com inveja – de um jeito bom!― Com inveja por eu morrer toda vez que tento conseguir o cara dos meus sonhos? ―Luce curvou seus ombros. ― Na verdade é meio estraga-prazeres.― Diga isso à garota cujo único beijo até hoje foi com Ira Frank, que sofre de síndrome do cólon irritável ―Jasmine gesticulou implicantemente para Dawn.Quando Luce não riu, Dawn e Jasmine encheram o silêncio com uma risada apaziguadora, como se achassem que ela estava apenas sendo modesta. Luce nunca recebera uma dessas risadas antes.― O que exatamente a sua mãe disse? ―Luce perguntou.― Ah, só o de sempre: A guerra começou, foi merda pra todo lado, e quando traçaram uma linha nas nuvens, Daniel ficou todo "Nada pode nos separar", e isso irritou todo mundo. É claro que é a minha parte favorita da história. Então agora seu amor tem que sofrer essa punição eterna onde vocês querem um ao outro desesperadoramente mas não podem, tipo, sabe...― Mas em algumas vidas eles podem― Jasmine corrigiu Dawn,então piscou travessamente para Luce, que quase não conseguia se mover devido ao choque de escutar tudo isso.― De jeito nenhum!―Dawn atirou uma mão depreciativamente. ―O objetivo disso tudo é que ela explode em chamas quando... ―vendo a expressão horrorizada de Luce, Dawn recuou. ―Desculpa. Não é o que você gostaria de ouvir.Jasmine limpou a garganta e se inclinou.― Minha irmã mais velha estava me contando uma história do seu passado que eu juro que iria...― Oooh!Dawn interligou seu braço pelo de Luce, como se esse conhecimento – conhecimento ao qual Luce não tinha acesso – fizesse dela uma amiga mais desejável. Isso era enlouquecedor. Luce estava impetuosamente envergonhada. E, tudo bem, um pouco animada. E absolutamente incerta se algo disso era verdade. Uma coisa era certa: Luce era, de repente, meio... famosa. Mas parecia estranho. Como se ela fosse uma dessas peruas sem nome do lado do astro de um filme numa foto dos paparazzi.― Gente!―Jasmine apontava exageradamente para o relógio em seu telefone.―Estamos tão superatrasadas! Temos que ir correndo para aula.Luce fez caretas, rapidamente agarrando sua mochila. Ela não fazia ideia quais aulas tinha primeiro, ou onde achá-las, ou como assimilar o entusiasmo de Jasmine e Dawn. Ela não vira sorrisos tão prolongados e ávidos desde – bem, desde sempre.― Alguma de vocês sabe como eu descubro onde a minha primeira aula é? Não acho que eu tenho um horário.― Dãh― Dawn disse. ― Siga-nos. Estamos todas juntas. O tempo todo! É tão divertido.As duas garotas andaram com Luce, uma em cada lado, e levaram-na numa excursão em espiral entre as mesas dos outros que terminavam seus cafés da manhã. Apesar de estarem "tão superatrasadas",‖tanto Jasmine quanto Dawn praticamente vagavam pela grama recém-cortada.Luce pensou em perguntar a essas garotas qual era o problema de Shelby, mas ela não queria começar já parecendo uma fofoqueira. Além domais, as garotas pareciam legais e tudo, mas não era como se Luce precisasse fazer nenhuma melhor amiga. Ela tinha que ficar se lembrando: Isso era apenas temporário.Temporário, mas ainda assim impressionantemente lindo. As três andaram pelo caminho de hortênsias, que curvava pelo refeitório. Dawn tagarelava sobre alguma coisa, mas Luce não conseguia tirar seus olhos da dramática beirada do penhasco, como o terreno caía abruptamente centenas de metros até o oceano cintilante. As ondas iam na direção do pequeno trecho de praia marrom-avermelhada no pé do penhasco quase tão casualmente quanto o corpo estudantil da Shoreline ia para aula.― Aqui estamos― Jasmine anunciou.Uma cabana impressionante de dois andares e em formato de A pairava sozinha no fim do caminho. Tinha sido construída no meio de uma bolsa arborizada de sequóias canadenses, então seu telhado íngreme e triangular e o vasto gramado aberto na frente dele estavam cobertos com um cobertor de folhas caídas. Havia um belo caminho relvado com algumas mesas de piquenique, mas a principal atração era a própria cabana: Mais da metade dela parecia ser feita de vidro, toda ampla, as janelas escurecidas e as portas deslizantes abertas. Como algo que Frank Lloyd Wright poderia ter projetado.Diversos estudantes relaxavam num convés de dois andares com vista para o oceano, e mais diversos garotos subiam pelas escadarias duplas que acabavam no caminho.― Bem vinda ao alojamento-Nephi ― Jasmine disse.― É aqui que vocês tem aula? ― Luce ficou boquiaberta.Parecia mais como uma casa de férias do que um prédio escolar.Próxima a ela, Dawn gritou e apertou o pulso de Luce.― Bom dia, Steven! ― Dawn chamou do outro lado do gramado,acenando para um homem mais velho que estava ao pé da escada. Ele tinha um rosto fino, óculos retangulares elegantes, cabelo grisalho grosso e ondulado. ―Eu simplesmente amo quando ele veste o terno de três peças ―ela sussurrou.―Bom dia, garotas.O homem sorriu para elas e acenou. Ele olhou para Luce tempo o suficiente para fazê-la começar a ficar nervosa, mas o sorriso permaneceu no rosto dele.―Vejo-as em um instante ―falou, e começou a subir as escadas.―Steven Filmore ― Jasmine sussurrou, informando Luce enquanto se arrastavam atrás dele pela escada. ―Também conhecido como S. F., ou seja, Silver Fox. Ele é um dos nossos professores, e sim, Dawn é verdadeiramente, loucamente, profundamente apaixonada por ele. Mesmo ele já tendo dona. Ela não tem vergonha.― Mas eu amo a Francesca, também ― Dawn deu um tapa em Jasmine, então virou-se para Luce, seus olhos escuros sorrindo.―Eu desafio você a não ter uma quedinha de casal por eles.― Espera― Luce fez uma pausa. ―O Silver Fox e a Francesca são nossos professores? E você os chama pelo primeiro nome? E eles estão juntos? Quem ensina o quê?― Chamamos o bloco inteiro da manhã de humanas― Jasmine disse ―embora angelicais fosse mais adequado. Frankie e Steven lecionam juntos.Parte do acordo aqui, uma espécie de yin e yang. Sabe, para que nenhum dos alunos fique... balançado.Luce mordeu seu lábio. Elas tinham chegado no topo das escadas e estavam em uma multidão de estudantes. Todos os outros estavam começando a caminhar vagarosamente pelas portas deslizantes de vidro.― O que você quer dizer com "balançado"?― Ambos caíram, é claro, mas escolheram lados diferentes. Ela é um anjo, e é mais tipo um demônio ―Dawn falou despreocupadamente, como se estivesse falando sobre a diferença entre os sabores de iogurte congelado. Vendo os olhos de Luce salientarem, ela acrescentou: ―Não é como se eles pudessem se casar ou qualquer coisa – apesar que esse seria o casamento mais quente do mundo. Eles meio que simplesmente... vivem no pecado.― Um demônio leciona a nossa aula de humanas?― Luce perguntou.― E isso não tem problema?Dawn e Jasmine se entreolharam e riram.― Problema nenhum ―Dawn respondeu. ― Você vai aprender a gostar do Steven. Vamos, temos que ir.Seguindo o fluxo dos outros, Luce entrou na sala de aula. Era ampla e tinha três plataformas baixas, com mesas em cima, que davam em duas mesas longas. A maior parte da luz vinha pelas clarabóias. A iluminação natural e o teto alto faziam o cômodo parecer ainda maior do que era. Uma brisa do oceano soprava pelas portas abertas e mantinha o ar confortável e fresco. Não poderia ser mais diferente da Sword&Cross.Luce achou que podia quase gostar de Shoreline, se não fosse pelo fato de que sua verdadeira razão para estar aqui – a pessoa mais importante em sua vida – estar faltando. Ela se perguntou se Daniel estava pensando nela. Ele sentia falta dela do jeito que ela sentia falta dele?Luce escolheu uma mesa perto das janelas, entre Jasmine e um menino comum e bonitinho que usava bermudas cortadas, um boné dos Dodgers e um suéter marinho. Algumas garotas estavam agrupadas perto da porta do banheiro. Uma delas tinha o cabelo encaracolado e óculos roxos quadrados. Quando Luce viu o perfil da menina, ela quase caiu de seu assento.Penn.Mas quando a menina virou-se para Luce, seu rosto era um pouco mais quadrado, suas roupas, um pouco mais apertadas e sua risada era um pouco mais alta. Luce quase sentiu que seu coração estava murchando.Claro que não era a Penn. Nunca seria ela, nunca mais.Luce podia sentir os outros olhando para ela – alguns encarando abertamente. A única que não olhou foi Shelby, que deu um aceno de reconhecimento para Luce.Não era uma sala grande, apenas vinte mesas dispostas nas plataformas, de frente para as duas mesas longas de mogno na frente. Havia dois quadros-brancos com pincel atômico atrás das mesas. Duas estantes de livros em cada lado. Duas latas de lixo. Duas lâmpadas de mesa. Dois laptops, um em cada mesa. E os dois professores,Steven e Francesca, reunidos perto da frente da sala, sussurrando.Num movimento que Luce não esperava, eles se viraram e encararam-na também, então deslizaram para as mesas. Francesca sentou-seno alto de uma, com uma perna dobrada abaixo dela e um dos seus saltos altos tocando o chão de madeira. Steven inclinou-se contra a outra mesa, abriu uma pasta de couro marrom pesada e descansou sua caneta entre seus lábios. Para um homem mais velho, ele era bonito, com certeza, mas Luce quase desejou que ele não fosse. Ele lhe lembrava de Cam, e de como o charme de um demônio podia ser enganador.Ela esperou que o resto da turma pegasse os livros didáticos que ela não tinha, que mergulhassem em alguma tarefa de leitura em que ela estivesse atrasada, para que pudesse se render a sentir-se sobrecarregada e simplesmente sonhar acordada com Daniel.Mas nada disso aconteceu. E a maioria dos alunos ainda roubava olhadelas para ela.― A esta altura, todos já devem ter notado que estamos acolhendo uma nova aluna.A voz de Francesca era baixa e cheia de mel, como uma cantora de jazz.Steven sorriu, mostrando um relampejo de dentes brancos brilhantes.― Diga-nos, Luce, está gostando de Shoreline até agora?A cor se esvaiu do rosto de Luce enquanto as mesas dos outros alunos fizeram sons raspando no chão. Eles realmente estavam se virando em seus lugares para se concentrar nela.Ela podia sentir seu coração acelerar e suas palmas ficarem úmidas. Ela se encolheu em seu assento, desejando que fosse apenas uma garota normal numa escola normal lá em casa, na normal Thunderbolt, Georgia. Por vezes, ao longo dos últimos dias, ela desejara nunca ter visto uma sombra, nunca ter se metido no tipo de problemas que faz seus amigos queridos morrerem, ou se envolver com Cam, ou tornar impossível para Daniel estar perto dela. Mas era aí que sua mente ansiosa e baderneira sempre chegava ao ponto final: Como ser normal e ainda ter Daniel? Que estava muito longe de ser normal. Era impossível. Então aqui estava ela, engolindo isso.― Acho que ainda estou me acostumando à Shoreline ― sua voz tremeu, traindo-a, ecoando pelo teto inclinado. ― Mas parece boa até agora.Steven riu.― Bem, Francesca e eu pensamos que para ajudar você a se acostumar, nós mudaríamos as engrenagens das nossas apresentações estudantis habituais de terça de manhã...Do outro lado da sala, Shelby piou:― Sim!E Luce notou que ela tinha uma pilha de cartões em sua mesa e um grande cartaz em seus pés onde se lia APARIÇÕES NÃO SÃO TÃO RUINS. Então Luce tinha acabado de livrá-la de uma apresentação. Isso tinha que valer algo no sistema de colega de quarto.― O que Steven quer dizer― Francesca opinou― é que vamos jogar um jogo, para quebrar o gelo.Ela deslizou de sua mesa e andou ao redor da sala, os saltos estalando enquanto distribuía uma folha de papel para cada estudante.Luce esperou o coro de gemidos que essas palavras geralmente evocavam de uma turma de adolescentes. Mas eles todos pareciam tão agradáveis e bem ajustados. Eles estavam, na verdade, apenas seguindo o fluxo.Quando ela deitou a folha na mesa de Luce, Francesca disse:― Isso deve lhe dar uma ideia sobre quem são alguns dos seus colegas de classe, e que objetivos planejamos alcançar nesta sala.Luce olhou para o papel. Linhas tinham sido desenhadas na página, dividindo-o em vinte quadros. Cada quadro continha uma frase. Era um jogo que ela tinha jogado antes, uma vez no acampamento de verão no oeste da Georgia quando criança, e novamente duas vezes em suas aulas na Dover. O objetivo era ir ao redor da sala e combinar um aluno diferente com cada frase. Principalmente, ela estava aliviada; havia maneiras de se quebrar o gelo definitivamente mais embaraçoso por aí. Mas quando ela olhou com mais atenção as frases – esperando coisas normais como "Tem uma tartaruga de estimação" ou "Quero saltar sem para quedas algum dia" –ela ficou um pouco assustada ao ver coisas como "Fala mais de dezoito línguas" e "Já visitou o mundo exterior".Estava prestes a ficar dolorosamente óbvio que Luce era a única não-Nephilim da sala.Ela se lembrou do garçom nervoso que tinha trazido o seu café da manhã e o de Shelby. Talvez Luce ficasse mais confortável entre os alunos com bolsa de estudo. Beaker Brady nem sabia que tinha escapado de uma enrascada.― Se ninguém tiver perguntas― Steven disse da frente da sala ―vocês estão livres para começar.― Vão para fora, divirtam-se― Francesca acrescentou. ― Levem o tempo que precisar.Luce seguiu o resto dos alunos para o pátio. Enquanto caminhavam ao corrimão, Jasmine se inclinou sobre o ombro de Luce,apontando uma unha envernizada de verde para um dos quadros.―Eu tenho um parente que é um querubim puro-sangue ― ela disse. ―O louco e velho do tio Carlos.Luce assentiu, como se soubesse o que aquilo significava, e anotou o nome de Jasmine.― Ooh, e eu posso levitar― Dawn gorjeou, apontando para o canto superior esquerdo da página de Luce.― Não, tipo, cem por cento do tempo, mas geralmente depois que eu tomei meu café.― Uau― Luce tentou não encarar – não parecia que Dawn estava fazendo piada. Ela podia levitar?Tentando não mostrar que estava se sentindo cada vez mais inadequada, Luce procurou na página por algo, qualquer coisa que ela soubesse alguma coisa sobre.Tem experiência em convocar os Anunciantes.As sombras. Daniel havia dito que o nome correto para elas naquela última noite. Apesar de ela nunca ter realmente "convocado" elas – elas sempre simplesmente apareciam – Luce tinha um pouco de experiência.― Você pode me escrever ali ― ela apontou para o canto inferior esquerdo do papel.Tanto Jasmine quanto Dawn olharam para ela, um pouco espantadas, mas não descrentes, antes de continuarem a preencher o resto de suas folhas. O coração de Luce desacelerou um pouco. Talvez isso não fosse ser tão ruim.Nos próximos minutos, ela conheceu Lilith, uma ruiva delicada que era uma dos trigêmeos Nephilins ("Você pode nos diferenciar pelas nossas caudas vestigiais," ela explicou. "A minha é curvada"); Oliver, um garoto de voz profunda e atarracado que havia visitado o mundo exterior nas férias de verão ano passado ("Tão totalmente superestimado que não consigo nem começar a te contar"); e Jack, que sentia que estava na iminência de ser capaz de ler mentes e achava que não teria problema se Luce escrevesse seu nome por isso. ("Sinto que você não tem problema com isso, estou certo?" Ele fez uma arma com seus dedos e estalou a língua.)Ela tinha três quadros sobrando quando Shelby puxou o papel de suas mãos.― Posso fazer essas duas ― ela disse, apontando para dois dos quadros. ― Qual deles você quer?Fala mais de dezoito línguas ou Vislumbrou uma vida passada.― Espere um minuto ― Luce sussurrou. ―Você... você pode vislumbrar vidas passadas?Shelby balançou suas sobrancelhas para Luce e correu sua assinatura no quadro, acrescentando seu nome no quadro "dezoito línguas"como bônus. Luce encarou o papel, pensando em suas próprias vidas passadas e como elas eram frustrantemente fora dos limites para ela. Ela havia subestimado Shelby.Mas sua colega de quarto já tinha ido. Parado no lugar de Shelby estava o garoto que havia sentado ao lado dela na sala de aula. Ele era uns bons quinze centímetros mais alto que Luce, com um sorriso brilhante e simpático, um respingo de sardas no nariz e olhos azuis claros. Algo nele,até a maneira como ele estava mastigando sua caneta, parecia... vigoroso.Luce percebeu que esta era uma palavra estranha para descrever alguém com quem nunca tinha falado, mas não pôde evitar.― Oh, graças a Deus― ele riu, batendo na testa. ― A única coisa que posso fazer é a única coisa que lhe resta.― "Pode refletir uma imagem de espelho de si ou de outros"?―Luce leu devagar.Ele jogou a cabeça de um lado para o outro e escreveu seu nome no quadro. Miles Fisher.― Realmente impressionante para alguém como você, tenho certeza.― Hm. É.Luce virou-se. Alguém como ela, que nem sabia o que isso significava.― Espere, ei, onde você está indo?― Ele puxou a manga dela. ―Uh-oh. Você não entendeu a piada modesta? ― Quando ela balançou sua cabeça, o rosto de Miles ficou desapontado. ―Eu só quis dizer que, em comparação com todos os outros da sala, eu mal estou aguentando. A única outra pessoa que já fui capaz de refletir além de mim foi a minha mãe. Enlouqueceu o meu pai por cerca de dez segundos, mas depois desapareceu.― Espera― Luce piscou para Miles. ―Você fez uma imagem espelho da sua mãe?― Por acaso. Dizem que é fácil de fazer com as pessoas que você, tipo, ama ―ele corou, o mais fraco e rosado rosa em suas bochechas. ―Agora você vai achar que sou algum tipo de filhinho da mamãe. Eu só quis dizer que "fácil" é onde meus poderes acabam. Enquanto que você – você é a famosa Lucinda Price.― Eu queria que todos parassem de dizer isso ― ela disparou.Então, sentindo rude, ela suspirou e encostou-se contra o corrimão do convés para olhar para a água. Era simplesmente tão difícil processar todos aqueles indícios que as outras pessoas aqui sabiam mais sobre ela do que ela sabia sobre si mesma. Ela não quis descontar no cara.― Sinto muito, é só que, eu pensei que era a única que mal estava aguentando. Qual é a sua história?― Ah, eu sou o que chamam de "diluído" ― ele explicou, fazendo aspas exageradas no ar. ― Mamãe tem anjo em seu sangue de algumas gerações atrás, mas todos os meus outros parentes são mortais. Meus poderes são vergonhosamente de nível baixo. Mas estou aqui porque os meus pais providenciaram a escola com, hum, este pátio onde você está parada.― Uau.―Não é realmente impressionante. Minha família é obcecada em estar na Shoreline. Você devia ouvir a pressão que recebo em casa para namorar uma "garota Nephilim agradável para variar".Luce riu – uma das primeiras risadas verdadeiras que ela tivera em dia. Miles revirou os olhos afavelmente.― Então, te vi tomando café da manhã com a Shelby esta manhã. Ela é a sua colega de quarto?Luce assentiu.― Falando de garotas Nephilins agradáveis ― ela brincou.― Bem, eu sei que ela é meio, hum...― Miles assobiou e fez um movimento de arranhar com uma mão, fazendo com que Luce soltasse gargalhada de novo.― De qualquer forma, não sou o aluno exemplar aqui nem nada, mas estou por aqui há algum tempo, e metade do tempo eu ainda acho que este lugar é muito louco. Então se você quiser alguma vez ter um café da manhã bem normal ou algo assim...Luce se pegou balançando sua cabeça. Normal. Música para os seus ouvidos mortais.― Tipo... amanhã? ― Miles perguntou.― Está ótimo.Miles sorriu e acenou adeus, e Luce percebeu que todos os outros alunos já tinham voltado para dentro. Sozinha pela primeira vez durante toda a manhã, ela olhou para a folha de papel em sua mão, sem saber sobre como se sentir sobre os outros da Shoreline. Ela sentia falta de Daniel, que podia ter decodificado uma porção disso para ela se simplesmente não estivesse – onde ele estava, afinal? Ela nem sabia.Longe demais.Ela pressionou um dedo nos lábios, lembrando o seu último beijo.O incrível abraço de suas asas. Ela sentiu tanto frio sem ele, mesmo sob o sol da Califórnia. Mas ela estava aqui por causa dele, aceita nesta classe de anjos ou o que quer que eles sejam, completa com sua nova reputação bizarra, tudo graças a ele. De uma forma estranha se sentiu bem de estar ligado a Daniel tão inexplicavelmente. Até que ele volte para ela, isso era tudo que ela tinha que se agarrar
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Tormenta
RomanceEnquanto Daniel está caçando os anjos que querem matar Luce, ela começa a aprender a utilizar as sombras como janelas para suas vidas passadas em Shoreline, sua nova escola. Lá estão alunos com talentos únicos: nephilins, filhos ou descendentes de r...