Capítulo 6 - Treze dias

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― É aqui ― disse uma voz cantando do lado de fora da porta de Luce na manhã seguinte. Alguém estava batendo na porta. ― É finalmente aqui!A batida ficou mais insistente. Luce não sabia que horas eram,apenas que era muito cedo para as risadas que estava ouvindo do outro lado da porta.― Seus amigos― Shelby falou da beliche superior.Luce gemeu e deslizou para fora da cama. Ela olhou para Shelby, que estava debruçada na parte superior da beliche, já completamente vestida com jeans e um colete vermelho acolchoado, fazendo as palavras cruzadas sábado.― Você já dormiu? ― Luce murmurou, chegando ao seu armário para arrancar o manto de tartan púrpura que sua mãe tinha costurado no seu décimo terceiro aniversário. Ele ainda servia um pouco.Ela pressionou o rosto contra o olho mágico e viu um convexo de rostos sorridentes da Dawn e Jasmine. Elas estavam paradas com lenços brilhantes e bolinhos ondulados. Jasmine levantou um suporte de copo com quatro cafés e Dawn tinha um grande saco de papel marrom em sua mão. Elas bateram novamente.― Você vai dispensá-los ou devo chamar a segurança do campus? ― Shelby perguntou.Ignorando-a, Luce abriu a porta e as duas meninas passaram por ela invadindo o quarto, falando sem parar.― Finalmente― Jasmine riu, entregando a Luce uma xícara de café antes de desabar na parte inferior do beliche. ― Temos muito a discutir.Nem Dawn nem Jasmine jamais estiveram lá antes, mas Luce estava gostando do jeito que estavam agindo no quarto. Ela lembrou-se de Penn, que havia "pegado emprestado" a chave mestra para entrar no quarto de Luce quando ela precisou falar com ela e não a estava encontrando.Luce olhou para seu café e engoliu em seco. De jeito nenhum ela poderia ficar emocionada aqui, agora, na frente das três.Dawn estava no banheiro, em frente ao armário ao lado da pia.― Como membro integrante do comitê de planejamento, nós pensamos que você poderia fazer parte do discurso de boas vindas de hoje ― ela explicou, olhando para Luce com descrença. ―Como você ainda não está mesmo vestida? O iate sai em aproximadamente uma hora.Luce coçou a testa.― Hã?― Ugh― Dawn gemeu dramaticamente. ― Amy Branshaw? Minha parceira de laboratório? Aquela cujo o pai é dono de um iate monstro? Nada disso soou como um sino?Tudo estava vindo para ela. Sábado. A viagem de barco até a costa. Jasmine e Dawn tinham programado a ideia de educação à distância para a comissão de eventos da Shoreline e de alguma forma obtiveram a aprovação de Francesca. Luce havia concordado em ajudar, mas ela não tinha feito nada. Tudo que ela podia pensar agora era no rosto de Daniel quando tinha contado a ele sobre isso, que de imediato, rejeitou a ideia de ter de Luce se divertido sem ele.Agora Dawn estava vasculhando armário Luce. Ela puxou para fora um vestido de manga comprida cor de berinjela, e atirou para Luce, e enxotou-apara o banheiro.― Não se esqueça de por leggings por baixo. Está frio lá fora na água.No caminho, Luce pegou seu telefone celular do seu carregador.Ontem à noite, depois de Cam havia ido embora, ela estava com muito medo e sozinha, ela quebrou a regra número um do Sr. Cole e enviou uma mensagem para Callie. Se Sr. Cole soubesse o quanto ela precisava ouvir um amigo... ele provavelmente ficaria furioso com ela. Agora é tarde demais.Ela abriu a pasta de mensagens de texto e lembrou que seus dedos estavam tremendo quando ela escreveu a mensagem cheia de mentira:Finalmente tenho um telefone celular! A recepção é irregular, mas eu vou ligar quando eu puder. Tudo é grande aqui, mas eu sinto sua falta!Escreverei em breve!Nenhuma resposta da Callie. Ela estava doente? Ocupada? Fora da cidade? Ignorando Luce por ignorá-la?Luce olhou no espelho. Ela olhou e se sentiu um lixo. Mas concordou em ajudar Dawn e Jasmine, então pôs o vestido e torceu os cabelos loiros para trás com alguns grampos.Até o momento em que Luce saiu do banheiro, Shelby estava participando do lanche que as meninas haviam trazido com elas no saco de papel. Ele parecia realmente bom com bolinhos de cereja e maçã, pãezinhos de canela e três diferentes tipos de sucos. Jasmine entregou-lhe um enorme muffin e um pote de requeijão.― Alimento para o cérebro.― Que história é essa?― Miles enfiou a cabeça pela porta entreaberta.Luce não podia ver seus olhos sob o seu boné de beisebol puxado para baixo, mas o seu cabelo castanho estava virando para cima nas laterais e suas gigantes covinhas apareceram quando ele sorriu. Dawn imediatamente começou a rir, não por outra razão, além de que Miles era bonito e Dawn era Dawn.Mas Miles não pareceu notar. Ele era mais alegre e descontraído em um grupo de meninas do que Luce era. Talvez ele tivesse um monte de irmãs ou algo assim. Ele não era como alguns outros alunos de Shoreline, cuja frieza parecia ser uma fachada. Miles era verdadeiro, uma coisa real.― Não tem nenhum amigo do seu próprio sexo?― Shelby perguntou, fingindo estar mais irritada do que ela realmente estava.Agora que conhecia um pouco melhor sua companheira de quarto, Luce estava começando a achar que Shelby tinha um senso de humor abrasivo quase encantador.― Claro― Miles entrou no cômodo totalmente imperturbável. ― É, meus amigos homens não costumam aparecer com lanches. ― Ele deslizou um enorme pedaço de bolo de canela para fora do saco e deu uma mordida gigante. ― Você está bonita, Luce ― falou com a boca cheia.Luce corou e parou de rir, Dawn e Shelby tossiram:―Embaraço.O primeiro som do alto-falante no corredor fez Luce saltar.Todos olharam para ela como se ela fosse louca, mas Luce ainda estava habituada a ouvir punições durante os pronunciamentos. Em vez disso, voz âmbar de Francesca entrou pelo quarto:― Bom-dia, Shoreline. Se você irá se juntar a nós na viagem de hoje no iate, o ônibus da marina sai em dez minutos. Estão convocados, na entrada sul para uma contagem. E não se esqueçam de agasalhar-se!Miles pegou outro pastel para a viagem. Shelby colocou um par de botas de bolinhas. Jasmine apertou a banda de seus protetores de ouvido rosa e encolheu os ombros para Luce.― Tanto para planejar! Nós teremos faixas de boas-vindas.― Sente-se conosco no ônibus― Dawn instruíu. ―Nós vamos te guiar totalmente por Noyo Point.Noyo Point. Luce teve que forçar-se para engolir um bocado de muffin. A menina Pária com sua expressão de morta, mesmo enquanto ela estava viva, a carona terrível com Cam – a memória trouxe arrepios na pele de Luce. Não ajudava que Cam teve que salvar sua vida. Logo depois dizer-lhe para não sair do campus novamente. Uma coisa estranha para se dizer. Quase como se ele e Daniel estivessem em conluio.Luce se sentou na beirada da cama.― Então estamos indo?Ela nunca tinha quebrado uma promessa a Daniel antes. Mesmo que nunca tenha prometido não ir ao iate. A restrição foi tão dura e fora de linha, sua vontade era explodir isso para fora. Mas se ela tivesse jogado pelas regras de Daniel, talvez não tivesse visto ninguém sendo morto.Apesar de que provavelmente era apenas sua paranoia novamente. O bilhete tinha deliberadamente atraído-a para fora do campus. Uma viagem de barco na escola era algo totalmente diferente. Não era como se os Párias fossem pilotar o barco.― É claro que todos nós estamos― Miles agarrou a mão de Luce, puxando-a pelos seus pés e em direção à porta.― Por que não nós?Este era o momento de escolha: Luce poderia ficar em segurança no campus da forma como Daniel (e Cam) disse a ela. Como uma prisioneira. Ou ela poderia sair por essa porta e provar para si mesma que sua vida era sua.Meia hora depois, Luce estava, juntamente com metade do corpo estudantil da Shoreline, em um luxuoso iate branco de 130-pés Austal.O tempo em Shoreline estava claro, mas no litoral, sobre a água na marina junto ao cais, havia ainda um fino nevoeiro que restava da véspera. Quando Francesca desceu do ônibus, ela murmurou: "Já basta", e levantou as palmas das mãos no ar.Muito casualmente, como se estivesse empurrando as cortinas de uma janela, ela literalmente espantou o nevoeiro com os dedos, abrindo um céu claro diretamente sobre o barco reluzente.Foi feito tão sutilmente, nenhum dos estudantes não Nephilins ou professores poderia dizer que qualquer outra coisa a não ser a natureza estava trabalhando. Mas Luce boquiaberta, não tinha certeza do que ela tinha acabado de ver ou do que ela achava que tinha visto até Dawn começara bater palmas baixinho.― Impressionante, como de costume.Francesca sorriu levemente.― Sim, isso é melhor, não é?Luce estava começando a perceber todos os pequenos detalhes que poderiam ter sido obra de um anjo. O passeio de ônibus fretado tinha sido muito mais suave do que o ônibus público que ela tinha pego um dia antes. As ruas pareciam revigoradas, como se toda a cidade tivesse recebido uma nova camada de tinta.Os alunos faziam fila para subir no iate, que estava deslumbrante mesmo do ponto de vista luxuoso. O seu perfil era elegantemente curvo como uma concha, e cada um dos seus três níveis tinha seu próprio branco e largo deque.Do local onde eles entraram na proa, Luce podia ver através das janelas enormes três camarotes com móveis de peles. No calor, o sol ainda estava baixo na marina, as preocupações de Luce sobre Cam e os Párias pareciam ridículas. Ela ficou surpresa ao senti-las desaparecer.Luce acompanhou Miles na cabine no segundo andar do iate. As paredes eram de um cinza calmo, com longas banquetas em preto-e-branco que abraçavam as paredes curvas. Uma meia dúzia de alunos já lançaram-se sobre os bancos estofados e foram pegando uma enorme variedade de alimentos que estavam distribuídos nas mesas de café.No bar, Miles abriu uma lata de Coca-Cola, dividiu-a em dois copos de plástico, e entregou uma a Luce.― Então o demônio disse ao anjo: "Me processar? Onde você pensa que vai ter que ir para encontrar um advogado?" ― Ele a cutucou. ― "Conseguir?" "Porque supostamente todos os advogados..."Uma piada. Sua mente estava em outro lugar e ela perdeu o fato de que Miles tinha sequer contando uma piada. Ela se forçou a gargalhar, rindo alto, até batendo na parte superior da barra. Miles parecia aliviado, senão um pouco desconfiado de sua reação exagerada.― Uau ― disse Luce, sentindo-se mal com seu riso falso. ― Essa foi uma das boas.À sua esquerda, Lilith, a ruiva alta que Luce conheceu no primeiro dia de aula, parou o pedaço de atum no caminho até sua boca.― Que tipo de piada meia boca é essa?― Ela estava carrancuda principalmente com Luce, os lábios brilhantes presos em um rosnado. ― Você realmente achou isso engraçado? Você sequer foi para o submundo? Não é nenhuma matéria de riso. Esperamos que esse tipo de coisa parta de Miles, mas pensei que você tinha um gosto melhor.Luce foi pego de surpresa.― Eu não sabia que era uma questão de gosto― ela respondeu. ― Nesse caso, estou definitivamente com Miles.‖― Shhhh― as mãos cuidadas de Francesca pousaram subitamente em ambos os ombros de Luce e Lilith. ― Seja lá sobre o que isso se trata, lembrem-se: Vocês estão num navio com setenta e três alunos não-Nephilins. A palavra do dia é discrição.Essa era ainda uma das partes mais estranhas sobre Shoreline, e deixava Luce preocupada. Todo o tempo eles passavam com os alunos da escola regular, fingindo que não estavam fazendo tudo o que estavam realmente fazendo dentro da sala dos Nephilins. Luce ainda queria falar com Francesca sobre os anunciantes, para contar o que tinha feito no início da semana na floresta.Francesca deslizou afastando-se e Shelby parou ao lado de Luce e Miles.― Exatamente o quanto discreta vocês acham que devo ser para colocara cabeça de setenta e cinco estudantes na privada do banheiro da cabine?― Você é má ― Luce riu, e depois se surpreendeu quando Shelby estendeu seu prato de café-da-manhã. ― Olha quem está de partilhando― disse Luce. ― E você que se considera como filha única.Shelby pegou o prato de volta depois que Luce pegou uma azeitona.― Sim, bem, não se acostume ou algo parecido.Quando o motor roncou sob seus pés, o grupo de estudantes aplaudiu. Luce preferia momentos como este em Shoreline, quando ela realmente não sabia quem era Nephilim e quem não era. A fila de meninas que enfrentava o frio lá fora, rindo como seus cabelos balançavam com o vento. Alguns dos rapazes de sua aula de história estavam jogando poker juntos em um canto da cabine principal. De tabela foi onde Luce teria esperado encontrar Roland, mas ele estava ausente.Perto do bar, Jasmine estava tirando fotos de toda a cena, enquanto Dawn acenou para Luce, fazendo mímica com uma caneta e papel no ar que ela ainda tinha que escrever seu discurso. Luce estava indo se juntar a eles quando, pelo canto do olho, avistou Steven através das janelas.Ele estava sozinho, encostado nas grades com um longo casaco preto, um chapéu tampando seu cabelo-cor-de-pimenta. Ainda a deixava nervosa pensar nele como um demônio, especialmente porque ela realmente gostava dele, ou pelo menos, o que ela sabia dele. Seu relacionamento com Francesca confundia ainda mais. Eles eram como um tipo de unidade: Isso lembrou o que Cam havia dito na noite anterior sobre ele e Daniel não serem tão diferentes. A comparação ainda estava incomodando enquanto ela abria a porta de vidro matizado e saia para o convés.Tudo o que podia ver no lado oeste do iate foi o azul infinito do oceano e o azul claro céu. A água estava calma, mas um vento forte golpeava em torno dos lados do barco. Luce teve que segurar o parapeito, olhando na luz do sol, protegendo os olhos com a mão enquanto ela se aproximava de Steven. Ela não viu Francesca em qualquer lugar.― Olá, Luce ― ele sorriu e tirou o chapéu quando ela alcançou agrade. Seu rosto estava bronzeado para novembro. ― Está tudo bem?― Essa é a grande questão― disse ela.― Você já se sentiu sobrecarregada esta semana? Nossa demonstração com os Anunciadores a incomodou muito? Você sabe ― ele baixou a voz ― nunca fizemos isso antes.― Me chatear? Não. Eu adorei― Luce respondeu rapidamente. ―Quero dizer, foi difícil de assistir. Mas também fascinante. Eu tenho vontade de falar sobre isso com alguém....Com olhos de Steven nela, ela se lembrou da conversa que ouvira de seus dois professores tendo com Roland. Como tinha sido Steven, e não Francesca, a favor da inclusão de Anunciadores do currículo.― Eu quero aprender tudo sobre eles.― Tudo sobre eles?― Steven inclinou a cabeça, refletindo o sol em sua pele já dourada. ― Isso pode demorar um pouco. Existem trilhões de Anunciadores, um para quase todos os momentos da história. O campo é infinito. A maioria de nós nem sequer sabem por onde começar.― É por isso que não foi ensinado antes?― É polêmico. Existem anjos que não acreditam que os Anunciadores têm qualquer valor. Ou que as coisas ruins muitas vezes superam o arauto do bem. Historicamente chamam como ratos, demasiado obcecados com o passado em vez de prestar atenção aos pecados do presente.― Mas isso é como dizer... que o passado não tem qualquer valor.Se isso fosse verdade, significaria que todas as vidas anteriores Luce não somam nada, que sua história com Daniel também foi inútil. Então tudo o que ela tem era o que ela sabia de Daniel nesta vida. E era realmente o suficiente?Não. Não era.Ela tinha que acreditar que havia mais sobre o que ela sentia por Daniel: um valioso, uma história guardada que somava algo maior do que algumas noites de beijos felizes e mais algumas noites de discussões. Porque se o passado não tinha valor, era realmente tudo o que tinham.― A julgar pelo olhar no seu rosto― disse Steven― parece que eu tenho mais alguém do meu lado.― Eu espero que você não esteja enchendo a cabeça de Luce com qualquer uma das suas porcarias diabólicas ― Francesca apareceu atrás por deles.Suas mãos estavam na cintura e o rosto numa carranca. Até que ela começou a rir, Luce não sabia que ela estava brincando.― Estávamos conversando sobre as sombras, quero dizer, os Anunciadores ―Luce explicou. ― Steven me disse que ele acha que existem trilhões deles.― Steven também acha que não precisa chamar um encanador quando o cano do banheiro estoura ―Francesca sorriu calorosamente, mas houve uma tendência na voz dela que fez Luce sentir-se envergonhada, como se ela tivesse falado também com ousadia. ―Você quer testemunhar cenas mais horríveis, como aquela que vimos na classe no outro dia?― Não, não foi isso que eu quis dizer...― Há uma razão para que certas coisas seja melhor deixar nas mãos dos especialistas ― Francesca olhou Steven. ― Temo que, como um banheiro quebrado, os Anunciadores são uma janela sobre o passado, é apenas uma coisa dessas por aí.― É claro que entendo porque você em particular, poderia se interessar por eles ― Steven comentou, dando atenção integral à Luce.Então, Steven conseguiu. Suas vidas passadas.― Mas você tem que entender― acrescentou Francesca ―que vislumbrar sombras é altamente arriscado, sem o treinamento adequado. Se você está interessada, existem universidades, rigorosos programas acadêmicos, ainda, que eu ficaria feliz em falar com você sobre o ingresso. Mas, por agora, Luce, você deve perdoar o nosso erro em mostrar prematuramente a uma classe do ensino médio, e então você deve deixar por isso mesmo.Luce sentiu-se estranha e exposta. Ambos estavam olhando para ela.Inclinando-se sobre o corrimão um pouco, ela pôde ver alguns de seus amigos no convés principal da embarcação abaixo. Miles tinha um par de binóculos pressionado nos olhos e estava tentando apontar algo para Shelby, que o ignorou por trás de seu gigante Ray-Ban. Na popa, Dawn e Jasmine estavam sentadas em uma borda com Amy Branshaw. Elas estavam inclinadas sobre uma pasta de documentos, fazendo anotações apressadas.― Devo ir ajudar com o discurso de boas vindas ― Luce falou, afastando-se de Francesca e Steven.Ela podia sentir seus olhos sobre ela todo o caminho até a escada em caracol. Luce atingiu o convés principal, abaixou-se sob uma linha de velas arriadas, e se espremeu em um grupo de estudantes não-Nephilins ficando em um círculo em torno entediado Sr.Kramer, professor de biologia, que estava lecionando algo como o direito do ecossistema frágil sob seus pés.― Aí está você!― Jasmine puxou Luce. ― Um plano está finalmente tomando forma.― Legal. Como posso ajudar?― Em doze horas, vamos tocar a campainha ― Dawn apontou para um enorme sino de bronze pendurado em um feixe branco por uma roldana perto da proa do navio. ―Então eu vou dar boas-vindas a todos, Amy vai falar de como essa viagem veio a acontecer, e Jaz vai falar do programa de eventos sociais deste semestre. Tudo que precisamos é de alguém para dizer alguma coisa sobre o meio ambiente.Todas as três garotas olharam Luce.― Isso é um iate híbrido ou algo assim?― Luce perguntou.Amy deu de ombros e sacudiu a cabeça.O rosto de Dawn se iluminou com uma ideia.― Você pode dizer algo como "é importante todos nós alunos estarmos aqui, pois quem está próximo da natureza sabe lidar melhor com ela".― Você é boa em escrever poemas?― Jasmine perguntou. ―Você poderia tentar fazer isso, sabe, se divertir?Culpada por estar livre de qualquer responsabilidade real, Luce sentiu a necessidade de ser favorável.― Poesia ambiental― disse ela, pensando que a única coisa em que ela era pior do que poesia e biologia marinha era falar em público. ― Claro. Eu posso fazer isso.― Ok, ufa!― Dawn limpou a testa.― Então, aqui vai a minha visão.Ela pulou na borda de onde estava sentada e começou a fazer uma lista das coisas em seus dedos. Luce sabia que ela deveria estar prestando atenção aos pedidos de Dawn ("Não seria fantástico se nós alinhássemos do menor até o mais alto?"), especialmente por que, em um tempo muito curto, ela tinha sido solicitada para dizer alguma coisa inteligente em rimas, sobre o ambiente na frente de uma centena de colegas. Mas sua mente ainda estava obscurecida por essa conversa bizarra com Francesca e Steven.Deixe os Anunciadores para os especialistas. Se Steven estivesse certo, e realmente existia um Anunciador para cada momento da história, bem, isso era como dizer a ela para deixar todo o passado para os especialistas.Luce não estava tentando reivindicar conhecimentos sobre Sodoma e Gomorra, era apenas o seu próprio passado, dela e de Daniel, que estava interessada. Se alguém era um especialista nisso, Luce pensou que deveria ser ela.Mas Steven tinha dito a pouco no convés: Havia um trilhão de sombras lá fora. Seria quase impossível apenas para localizar aqueles que tinham alguma coisa a ver com ela e Daniel, muito menos saber o que fazer com as certas.Ela olhou para o convés do segundo andar. Podia ver apenas o alto das cabeças de Francesca e Steven. Se Luce deixasse sua imaginação correr livremente, ela poderia imaginar uma conversa afiada entre eles.Sobre Luce. E sobre os Anunciadores. Provavelmente um acordo para não trazê-los novamente.Ela tinha certeza que quando encontrasse suas vidas passadas, ia ficar sozinha.Espere um minuto.O primeiro dia de aula. Durante as apresentações. Shelby disse...Luce levantou-se, esquecendo completamente que estava no meio de uma reunião, e já estava atravessando o convés quando um grito agudo soou atrás dela.Quando ela virou de costas em direção ao som, Luce viu um lampejo de algo negro mergulhando em curva para fora do barco. Um segundo depois, ele tinha ido embora.Em seguida, um esguicho.― Oh meu Deus! Dawn!Tanto Jasmine e Amy estavam inclinados a meio caminho ao longo da proa, olhando para baixo na água. Elas estavam gritando.― Vou pegar o barco salva-vidas!― Amy gritou, correndo para dentro da cabine.Luce pulou na borda ao lado de Jasmine e engoliu com o que viu. Dawn tinha caído ao mar e estava se debatendo na água. No início, a cabeça com cabelos escuros e os braços batendo eram tudo o que era visível, mas então ela olhou para cima e Luce viu o terror em seu rosto branco.Um horrível segundo depois, uma grande onda ultrapassou o pequeno corpo de Dawn. O barco ainda estava em movimento, ficando ainda mais longe dela. As meninas tremeram, esperando que ela ressurgisse.―O que aconteceu?― Steven questionou, de repente ao seu lado.Francesca estava soltando um barco salva-vidas de suas amarras. Os lábios de Jasmine tremeram.― Ela estava tentando tocar o sino para chamar a atenção de todos para o discurso. Ela m-m-mal se inclinou para fora, eu não sei como ela perdeu o equilíbrio.Luce lançou um outro olhar doloroso sobre a proa do navio. A queda na água gelada era provavelmente trinta pés. Ainda não havia sinal de Dawn.― Onde ela está?― Luce chorou. ― Ela pode nadar?Sem esperar por uma resposta, ela pegou o colete salva-vidas fora das mãos de Francesca, passou os braços braço por ele, e subiu ao topo da proa.― Luce, pare!Ela ouviu o grito atrás dela, mas já era tarde demais. Ela mergulhou na água, segurando a respiração, pensando em seu último mergulho no lago com Daniel.Ela sentiu o frio em suas costelas em primeiro lugar, um aperto duro em torno de seus pulmões com o choque da temperatura.Ela esperou até que sua descida abrandasse, em seguida, seguiu para a superfície. As ondas derramado sobre sua cabeça, enchendo de sal sua boca e no nariz, mas ela segurou o colete apertado. Era pesado para nadar com ele, mas se ela encontrasse Dawn –quando ela encontrasse Dawn– ela precisaria dele para mantê-la na superfície enquanto aguardavam o resgate.Ela podia sentir vagamente um clamor em cima do iate, as pessoas gritando e correndo ao redor do deque, chamando por ela. Mas se Luce ia ser de alguma ajuda para Dawn, ela tinha que manter todos os sons para fora.Luce pensou ter visto o ponto preto da cabeça de Dawn na água gelada. Ela nadou em frente, contra a as ondas, em direção a ela. Seu pé estava preso a algo – uma mão? Mas depois desapareceu e ela não tinha certeza se tinha visto mesmo Dawn.Luce não podia submergir enquanto estava segurando o colete salva-vidas, e ela teve um mau pressentimento de que Dawn estava embaixo da água. Ela sabia que não deveria largar o colete salva-vidas. Mas ela não poderia salvar Dawn, a menos que fizesse isso.Atirando-o de lado, Luce encheu os pulmões com o ar, depois mergulhou no fundo, o calor da superfície desapareceu e a água tornou-se tão fria que doía. Ela não conseguia ver nada, apenas tentando captar em todos os lugares que podia, esperando chegar a Dawn antes que fosse tarde demais.Foi o cabelo de Dawn que Luce sentiu em primeiro lugar, o choque de finas, curtas e escuras ondas. Continuou a sondar com as mãos. Então, sentiu rosto da amiga, depois o pescoço dela, então seu ombro.Dawn tinha afundado muito longe num tempo curto. Luce deslizou seus braços sob as axilas de Dawn, e depois usou toda sua força para puxá-la para cima, chutando poderosamente para a superfície.Elas estavam muito debaixo d'água, a luz do dia era um brilho distante. E Dawn estava mais pesada do que ela poderia ser, como se um grande peso estivesse ligado a ela, arrastando ambas para baixo.No último momento, Luce quebrou a superfície. Dawn tossiu, cuspindo água para fora da boca. Seus olhos estavam vermelhos e seu cabelo estava emaranhado na sua testa. Com um braço enrolado no peito de Dawn,Luce delicadamente remou as duas para o salva-vidas.― Luce ― sussurrou Dawn. Nas ondas quebrando, Luce não podia ouvi-la, mas ela poderia ler os seus lábios. ― O que está acontecendo?― Eu não sei― Luce sacudiu a cabeça, esforçando-se muito para mantê-las boiando.― Nade para o salva-vidas!O convite veio de trás. Mas nadar em qualquer lugar era impossível. Elas mal conseguiam manter a cabeça para fora da água.A tripulação estava baixando um bote salva-vidas infláveis. Steven estava dentro dele. Assim que o barco encontrou o oceano, ele começou a remar rapidamente na direção delas. Luce fechou os olhos aliviada e deixou a próxima onda levá-la. Se ela pudesse apenas segurar um pouco mais, elas iam ficar bem.― Pegue minha mão ― Steven gritou para as meninas.Luce sentiu como se suas pernas tivessem nadado por uma hora. Ela empurrou Dawn na direção dele, de modo que Dawn fosse a primeira a sair.Steven estava só com a camisa oxford branca, que estava molhada agora e grudada ao seu peito. Seus braços musculosos eram enormes e ele chegou até Dawn. O rosto estava vermelho com o esforço, ele resmungou e puxou-a. Quando Dawn foi estendida sobre o barco, segura o suficiente para que ela não caísse de volta, Steven voltou e rapidamente e segurou os braços de Luce.Ela sentia-se leve, subindo praticamente para fora da água com a sua ajuda. Foi só quando sentiu que seu corpo estava deslizando o resto do caminho para o barco que ela percebeu o quão encharcada e congelada ela estava. Exceto onde os dedos Steven estavam.As gotas de água sobre sua pele estavam cozinhando.Ela sentou-se, movendo-se para ajudar Steven a puxar Dawn tremendo o resto do caminho até a balsa. Exausta, Dawn mal podia arrastar-se ereta. Luce e Steven tinham que levá-la entre eles. Ela estava quase saindo de dentro do barco, quando Luce sentiu um empurrão chocante puxar Dawn para trás na água.Os olhos escuros Dawn incharam e ela gritou quando escorregou para trás. Luce não estava preparada: Dawn escorregou no piso molhado e Luce caiu contra a lateral da balsa.― Segure!Steven pegou de cintura Dawn a tempo. Levantou-se, quase virando o bote. Se esforçando para levantar Dawn para fora da água. Luce viu o mais breve flash de ouro se estender a sua volta. Suas asas.A maneira como elas se projetavam instantaneamente, no momento em que Steven necessitava de mais força, parecia acontecer quase que contra a sua vontade. Elas estavam brilhando, a cor do tipo de jóias caras que Luce só tinha visto por trás de caixas de vidro em lojas de departamento. Eles não eram como asas de Daniel. As de Daniel eram quentes e acolhedoras, maravilhosas e sexy, Steven eram esfoladas e intimidantes, irregulares e aterrorizantes.Steven grunhiu, os músculos de seus braços esticados, e suas asas bateram apenas uma vez, dando-lhe o suficiente impulso para cima para trazer Dawn para fora da água. O vento das asas foi o suficiente para manter Luce contra o outro lado do bote.Quando Dawn estava segura, Steven tocou seus pés novamente no chão do barco. Suas asas deslizaram imediatamente de volta em sua pele. Dois pequenos rasgos estavam na parte traseira de sua camisa,a única prova de que o que Luce vira tinha sido real. Seu rosto estava lavado e suas mãos tremiam.Os três estavam recolhidos no interior do bote. Dawn não tinha percebido nada, e Luce queria saber se mais alguém do iate havia assistido também. Steven olhou para Luce como se ela tivesse acabado de vê-lo nu.Ela queria dizer-lhe que tinha sido impressionante ver as suas asas, ela não sabia até então, que mesmo o lado escuro dos anjos caídos poderia ser tão deslumbrante.Ela estendeu a mão para Dawn, em parte com a expectativa de ver sangue em algum lugar em sua pele. Realmente sentia-se como se algo tivesse acertado em sua mandíbula. Mas não havia nenhum sinal deferimento.― Você está bem?― Luce finalmente sussurrou.Dawn sacudiu a cabeça, enviando gotículas de água que voam fora de seu cabelo.― Eu sei nadar, Luce. Eu sou uma boa nadadora. Alguma coisa me pegou... alguma coisa.― Ainda está lá embaixo ― Steven terminou, pegando o remo para nos levar de volta para o iate.― Qual foi a sensação?― Luce perguntou. ― Um tubarão ou...Dawn estremeceu.― Mãos.― Mãos?― Luce!― Steven gritou.Ela se virou para ele: Ele parecia um ser diferente daquele que com quem ela tinha conversado minutos mais cedo no convés. Houve uma dureza em seus olhos que ela nunca tinha visto antes.― O que você fez hoje foi... ― Ele parou.Seu rosto escorrendo parecia selvagem. Luce prendeu a respiração, esperando. Imprudente. Estúpido. Perigoso.― Muito corajoso― ele finalmente disse, suas bochechas e testa repousando em sua expressão habitual.Luce expirou, tendo dificuldade até para encontrar a voz para dizer obrigado. Ela não pode deixar de ver as pernas tremendo Dawn. E as finas marcas vermelhas que estavam em seu torno de seus tornozelos. Marcas que pareciam ter sido deixados pelos dedos.― Tenho certeza de que as meninas estão com medo ― Steven falou calmamente.― Mas não há razão para levar uma histeria geral em toda a escola. Deixe-me ter uma conversa com Francesca. Até que eu fale, nenhuma palavra sobre isso com ninguém. Dawn?A menina acenou com a cabeça, olhando aterrorizada.― Luce?Seu rosto se contorceu. Ela não tinha certeza sobre como manter este segredo. Dawn tinha quase morrido.― Luce.Steven segurou os ombros dela, tirou os óculos quadrados emoldurados, e olhou nos olhos castanhos de Luce com seus próprios olhos marrons. À medida que o bote salva-vidas foi chegando até o deque principal, onde o resto da escola esperava, a respiração dele estava quente em sua orelha.― Nem uma palavra. Para ninguém. É para sua própria proteção.

TormentaWhere stories live. Discover now