Capítulo VII

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Saio da empresa às 22:00. Precisei trabalhar até mais tarde para organizar toda a documentação da fusão. Samanta me informou que o Dr. Eduardo e todos os diretores chegam amanhã pela manhã e serão conduzidos para o Hotel Gannarino e às 17:00 e assinaremos finalmente os contratos.
Acordo cedo e vou para o Forte, preciso extravasar minha frustração e vou direto para a academia. Caio na piscina e nado até meus músculos reclamarem.

Depois vou para os pesos e por fim corro na esteira por mais quarenta minutos, queria deixar meu corpo bem cansado e desanuviar minha mente. Quando estou quase terminando Enrico entra e percebo que alguma coisa está errada. Enrico é um homem com um bom caráter, mas devido a tudo o que passamos se tornou tão frio quanto eu, mas uma coisa ele tem de melhor, deixa transparecer seus sentimentos e basta olha-lo que sei que está com problemas.

- O que houve, Enrico? - falo enxugando o meu rosto com a toalha.

- Estou cansado de chegar em casa e encontrar o silêncio - fala pensativo e direto - tenho 26 anos e uma merda de vida que me faz ser um filho da puta com as mulheres, por que não consigo confiar em nenhuma delas - percebo o amargor em sua voz.

- Por que está falando disso agora? Nunca se interessou por esse assunto e sempre foi um solteirão convicto, o que mudou?

- Ontem fui a despedida de solteiro de Luca Parisi e alguns dos meus amigos já tem suas famílias e vejo que estou ficando para trás. Quero uma família também, mas quem vou colocar na minha vida? Vou trazer uma pessoa para essa vida de merda que tenho? - vejo a tristeza nos olhos de meu irmão e acabo refletindo sobre isso também, não posso trazer Isadora para essa merda de vida que tenho.

- Tudo vai se resolver, Enrico - tento parecer confiante, mas sei que esse também é o meu dilema - teremos tempos de paz novamente e poderemos pensar sobre isso, você tem cinco anos para se casar, já eu, tenho três e ainda não tenho ninguém em vista - omito sobre Isadora, não quero deixar meu irmão pior.

- Às vezes, fico pensando em tudo o que Stefano nos fez. Nos transformou em homens frios e em assassinos, mas com títulos de poder e nobreza que nada nos adianta quando queremos uma família. Tenho medo de ter que transformar um filho no que somos hoje e trazer para vida dele todos esses pesadelos que rondam a minha mente antes de dormir. Não quero isso para o meu filho, Angelo. Quero viver como todos os meus amigos. Ter um emprego e chegar em casa à noite e ser recebido por uma mulher apaixonada e beijar a cabeça dos meus filhos. Reunir a família para uma bela macarronada no domingo e envelhecer vendo os meus netos crescerem. Isso nunca acontecerá conosco. Sempre teremos receio de figlio di una cagna (filho da puta) querer ferir nossa família e destruir nossos sonhos.

- Não pode pensar assim, Enrico. Somos capazes de formar uma família e termos tudo isso que falou, a diferença é que eles terão vigilância eterna. Quanto ao treinamento de nossos filhos, nunca farei com eles o que Stefano fez conosco. Ele nunca nos amou e colocou a máfia acima da família, por isso nos causou tantos danos. Não somos como ele. Apesar dele querer nos transformar em homens frios, mamma nos deu tanto amor que sobrepujou o ódio dele. Hoje, somos sim, mafiosos, mas acima de tudo, somos filhos e irmãos que se amam e se protegem e é isso que temos que ensinar aos nossos filhos, são esses valores que temos que deixar prevalecer em nossas vidas. Agora me fala o nome da "donna" (mulher) que está mexendo com sua cabeça? - ele me olha de soslaio e percebo um leve sorriso em seus lábios.

- Antonella Vitale - vejo seus olhos brilharem ao falar dela - essa mulher é diferente, ela mexe com algo desconhecido dentro de mim e da mesma forma que gosto, me irrito e acabo a tratando mal. Não sei o que sinto e essa incerteza me deixa doido.

Don Angelo - DISPONÍVEL NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora