-Não, devo ter surtado, isso é mentira!- falei num susurro. Fiquei sem acreditar no que estava em minha frente.
Até três horas atrás, meu rato grande e gordo, não emitia nada da boca, exceto barulho implorando por minha pizza ou hambúrguer.
-Não...não surtou, ainda- Tinto tinha uma voz grave e tranquila- Ande, pegues o punhal, antes que ela perceba.
-Velho, você fala!- susurrei de maneira incrédula.
-Sim...
-Mas Tinto, ratos não falam- não era possível acreditar.
-No seu mundo, ratos comuns não falam. Meu nome não é Tinto, me chamo Godah, o filho da água.- respondeu o ex Tinto.- Pegue o punhal. Sairemos daqui ou morreremos.
Na minha mão esquerda, agora estava o punhal dourado. Sua lâmina era tão ameaçadora, que parecia desejar me liquidar.
-Ande, chame-a para um duelo- falou o rato.
-Ela vai me matar...
-Não se for tão veloz quanto ela- respondeu calmamente o rato.
-Não seria viável pegar ela enquanto está desatenta?- perguntei por impulso.
-Não- agora a voz de Tin...Godah estava séria e rígida- Um covarde não é digno de vitória. Morra, morra com honra, covardia se torna a pior das fraquezas de um ser vivo.
Suas palavras me deixaram contra o chão. Imaginei: nunca esperei levar sermão de um animal, até porque não são inteligentes quanto o homem.
-Animais são tão inteligentes, quanto alguns homens, meu caro; se por um lado, vocês matam os outros que pertencem a mesma espécie, nós pensamos em ampliar nossa família. Compartilhamos o pão com os que necessitam e não destruímos o nosso lar- Godah deu uma risada, mostrando seus dentes engraçados.
Olhei para ele, tentei imaginar como ele soube o que eu havia pensado.
-Se esconda, vou fazer o meu papel- Godah se distanciou e foi na direção da mulher.
O gato branco estava retornando, era uma ida direto para a morte. O silêncio tomava o lugar, a temperatura estava fria, lá fora o vento era fraco e o cheiro da cidadezinha entrava pelas janelas.
Pensei por um momento, em fugir, ir para longe, só que uma pontada aguda invadiu minha cabeça."Estás me escutando?"- uma voz se propagou dentro da minha cabeça. Fiquei em dúvida se responderia em voz alta, usei um pouco de lógica, fechei os meus olhos e respondi.
-Mensagem recebida.
-Não se incomodes. Apesar de ter invadido sem pedir permissão, é necessário"- a voz grave do rato novamente-No meu comando, saia daí e se desloque para o centro do salão.
Ok, certo, mas eu vou morrer- o tom de súplica saiu, sem que pudesse ter controle dele.
O ex Tinto, com seus pelos brilhantes, se aproximava cautelosamente da mulher e do bichano.
Miau
O bicho despertou e soltando um berro, avançou para atacar Godah. Aquele momento, foi o mais fantástico que pude presenciar ainda abaixado para que a canibal cega, não me visse. O roedor saltou, girou três vezes no ar, montou sobre o gato, segurou nas orelhas sujas do felino e cravou seus tornozelos nas costelas do mesmo.-Quem está matando meu gato?!- berrou a canibal.
Nesse momento ouvi algo: -no centro do salão, desafie ela para um duelo.
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O Diário de Zoran-Ergástulo
Fantasía"A vida transforma, assim como a água que caiu sobre a rocha, e a rocha que foi perfurada, originando um pequeno espaço, onde reside o amor, e o amor que lá habita, não é comum, uma vez que, somente uma única pessoa pode sentir, e sim, se ele fosse...