Ele ligou o carro e começamos a nos movimentar, confesso que o frio na barriga aumentou.
Henrique: É... você é muito gostoso... quer dizer...
Bruno: Sei, você é fofo também cara.
Henrique: Não é que, as fotos são uma coisa, mas você é muito gostoso, desculpa a ousadia.
O carro começou a apitar e ele me olhou duas vezes, eu não me liguei, foi quando ele falou.
Bruno: Coloque o cinto.
Me senti um pouco idiota e desconcertado, coloquei o sinto.
Bruno: Então aonde vamos?
Henrique: Nós não vamos para sua casa?
Bruno: Não podemos tem gente lá agora.
Henrique: Ah sim. O que você faz?
Ele me olhou não respondeu, pareceu não querer dar detalhes sobre sua vida.
Henrique: Desculpe, não deveria ter perguntado isso.
Bruno: Desculpe.
Henrique: Não tudo bem, eu entendo. Você tem que ser discreto. Legal
Mentira eu não estou entendendo nada, não é assim que funciona sair com alguém, saber um pouco mais da pessoa pessoalmente? Eu realmente não sei como me comportar nesses encontros de pegação.
Bruno: Então vamos para algum lugar né.
Henrique: Sim, mas para onde?
Bruno: Conhece algum lugar calmo aqui perto de sua vizinhança cara?
Henrique: É... Bem tem um lugar calmo depois daquela quarta rua ali a frente.
Bruno: Contanto que a gente não seja visto...
Ele começou me olhar, e notou que eu estava usando roupas de corrida.
Bruno: Você estava correndo?
Henrique: Sai de casa falando que faria isso.
Sorri e olhei para ele, que continua sério e atento à estrada.
Bruno: Então você está saindo escondido, interessante.
Henrique: Sim.
Comecei a me sentir um pouco mais confortável e abaixei um pouco a poltrona do carro dele e fiquei calado também.
Bruno: Então você tem 18 anos certo?
Henrique: Sim, infelizmente ainda estou no ensino médio.
Bruno: De verdade você tem 18 anos mesmo?
Henrique: Sim, eu tenho 18 anos. Eu juro por Deus.
Bruno: Ata, porque falando sério você parece muito novo e ainda teve que sair escondido, então...
Henrique: O que tem?
Bruno: Quero dizer, você não disse para ninguém que você estava indo dar uma volta com um rapaz.
Henrique: Eu não quis dizer. E quanto a você falou com alguém que estava indo sair comigo?
Bruno: Nem pensar.
Soou grosseiro, olhei para ele, mas novamente ele estava olhando para frente.
Henrique: Eu nem sei o que te perguntar.
Bruno: Então você não faz isso com frequência.
Henrique: Quando foi a última vez que você ficou com alguém do aplicativo?
Bruno: O que você quer com esse tanto de perguntas cara?
Henrique: Eu só quero saber um pouco com quem eu estou saindo.
Droga o clima ficou péssimo, e o Bruno é grosseiro, infelizmente fazendo jus ao meu pensamento de achar que a maioria das pessoas que usam esses aplicativos, são vazias.
Henrique: Eu supostamente não posso fazer pergunta alguma, sei lá?!
Bruno: Não, normalmente não é assim que acontece. O que você usualmente pergunta os outros?
Henrique: Na verdade essa é minha primeira vez.
Bruno: Essa é a sua primeira vez saindo com um cara?
Henrique: Não, eu já coisas antes, mas encontro por esse aplicativo é a primeira vez. Eu já tinha baixado esse aplicativo antes, mas fiquei dois dias e desinstalei e hoje baixei de novo.
Bruno: Então é por isso que eu nunca tinha te visto lá, não que eu use o aplicativo frequentemente. Só quando estou entediado.
Pelo menos temos isso em comum, recorremos ao mesmo aplicativo para matar o tédio.
Bruno: Eu não sou gay ou qualquer coisa, isso é totalmente não homossexual. É mais o dia, hoje no caso.
Fiquei um pouco perdido olhando para ele falando, como assim não é gay? E que isso não é homo? Quê?!
Henrique: Espera aí, você está falando sério?
Ele balançou a cabeça confirmando e continuou super sério.
Henrique: Tipo você não é mesmo gay?
Bruno: Não, eu não sou.
Henrique: Mas você está no aplicativo, quer dizer esse aplicativo é para gays.
Bruno: E para garotos em geral, garotos que querem conhecer um pouco outros caras.
Henrique: Sim, e depois fazer sexo com eles. E isso não te faz gay? Você acha mesmo isso?
Bruno: Não me torna nada.
Minha cabeça deu um nó, eu estou totalmente perdido, deveria ter desconfiado desde o apelido dele no aplicativo.
Henrique: Certo, mas fazer sexo com uma garota te torna hétero certo?
Bruno: Não. Ter uma namorada me torna hétero.
Fiquei perplexo e deitei no banco de novo, coloquei a mão na cabeça como quem estivesse
se perguntando "Que merda que eu fui me meter?"
Bruno: Bem chegamos, não tem ninguém aqui.
Henrique: Espera... Estou processando.
Bruno: O quê?
Henrique: O que você quis dizer com namorada, você tem uma namorada?
Bruno: Sim, e daí?
Henrique: E daí? Quer dizer, você não acha que isso está bagunçado? Você "pega" garotos, fode por aí com eles, mas, ainda assim, tem uma namorada...
Bruno: Você não acha que é bagunçado mentir para seus pais e sair por aí pegando mais velhos?
Henrique: Essa é a minha primeira vez.
Bruno: Certo.
Henrique: Sim.
Bruno: Então você acha que você é melhor que eu?
Henrique: Não. Não é isso que eu estou dizendo.
Bruno: Tudo bem, escuta aqui você tem que começar a ficar de boa e levar na normalidade.
Henrique: Sei... Talvez toda essa coisa de pegação sim, talvez, mas porra eu sou assumido para meus pais desde quando eu estava na oitava série, entende..
Ele me interrompeu.
Bruno: Bom para você.
Henrique: Mas você contou para os seus pais?
Bruno: Contá-los o quê?
Henrique: Que você é bissexual. É isso que significa foder com garotos e garotas, você é bi.
Bruno: Eu sei o que significa, mas eu não sou bi, eu sou hétero.
CONTINUA
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O Sangue-Frio
Short StoryUm jovem de 18 anos encontra-se bastante entediado numa noite e decide dar novamente uma chance ao aplicativo de pegação para gays e acaba se vendo num drama um tanto quanto intrigante.