As Memórias

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Com o término do período de literatura/português, eu decidi tirar um tempo livre para organizar ideias e rebobinar até o início da festa. Tenho poucos flashbacks, algumas lembranças de sair junto com Otávio do nosso dormitório, deixando Ana se arrumando e sem saber de Laura. Entro na festa, tiro selfies, tomo o primeiro gole de tequila, o sexto gole de tequila...

Decido que será melhor para mim pedir ajuda para meus amigos que estavam comigo na festa, Otávio e Ana. Tinha certeza que eles viram pelo menos alguma coisa que eu não vi. Procuro e procuro por eles, mas não os encontro. Ué, eles são namorados... era para estarem meio que grudados o tempo todo. Resolvo ir até Alina, uma amiga do casal que fazia a matéria de literatura moderna comigo. Ela saberia onde eles estavam. E talvez algo da festa.

Chego na área de Alina, ela está rodeada de amigas, mas nenhuma delas está falando, estão todas mexendo no celular:
- Ally, você viu o Ota e a Ana? Tô tentando encontrá-los já faz um século e não acho!- pergunto para a garota, sem deixar claro qual era o assunto.
- Você não sabe da nova notícia? Todos que estavam na festa ficaram sabendo! Ana deu um tapa na cara do Otávio e saiu de lá sem olhar para trás. Até agora os dois estão "separados", gato! E nenhum deles explicou o que aconteceu. - contou Alina de um jeito pretencioso. Ela tinha jeito daquelas patricinhas que não se acostumaram com a vida adulta e preferiram dar uma de Peter Pan e permanecer com as mesmas atitudes e modo de se vestir infantis.
- Sério mesmo?! Mas onde eles estão, você não sabe?! - insisti na pergunta, precisava lembrar dos acontecimentos.
- Otávio tá no restaurante universitário, mas não vai lá, a comida é R$1,90. E Ana... ela tá por aí... - disse Alina.
- Obrigado!- ia saindo mas pensei no jeito que Alina falou e resolvi perguntar - Você sabe onde Ana está, mas não quer falar né?
- Ah, Fernando, você é bonito, mas não me arruma encrenca, por favor... Sim eu sei, ela tá no armazém. Disseram que ela tava comprando alguma coisa a ver com tira-manchas... ela deve ter sujado sua roupa.
- Obrigado mesmo, Alina. Se você não tivesse me ajudado eu nem sei o que eu faria... - na verdade eu sabia, mas falei mesmo assim.
● ● ●
Decido ir até Otávio primeiro, já que ele é mais simpático e está mais perto. Vou andando e no caminho esbarro em Ana:
- Ah... Oi, Ana! Desculpa incomodar... sei que você deve estar meio mal, mas eu precisava falar com você... o que eu fiz ontem? Não lembro de nada. Nadinha. - cumprimentei Ana.
- Fernando, agora não dá...
- Ana, por favor, não te fiz nada... preciso saber. - insisti.
- Fernando, eu estou procurando o Otávio, pra devolver as coisas dele. - disse Ana.
- Não é mais fácil esperar ele no dormitório? A gente é colega de quarto. - ajudei Ana.
- Verdade, vem comigo. Vamos esperar aquele escroto chegar e aí conversamos sobre tudo o que aconteceu. - fala Ana.

Chegando no dormitório, percebemos que as janelas estavam abertas e o vento da chuva tinha entrado com tudo, deixando o apê frio e bagunçado. Mas não ligamos para isso no momento. Sentamos no sofá e esperamos por Otávio.

Otávio chega, meia hora depois, mas chega. Ao ver ele agradeço. Nao pela informação que vou receber, mas sim por ele ser o que ia quebrar o silêncio que estava na sala durante o aguardo da chegada dele.

- Ota e Ana, queria saber o que aconteceu ontem. Tudo. Não lembro de nada. Tenho alguns flashbacks mas não sei de muita coisa. - expliquei minha situação a eles.
- Cara, sabe, melhor deixar baixo isso da festa, a gente não quer relembrar mais coisa. - diz Otávio.
- É! A última coisa que queremos é relembrar... - concorda Ana.
- DO QUE VOCÊS ESTÃO FALANDO? É SOBRE O TÉRMINO DE VOCÊS?- pergunto para saber o real motivo, sabendo que eles não iam ficar muito tempo longe um do outro.
- É.. é que aconteceu uma coisa. - diz Ana, sem olhar nos olhos.
- Ana, FICA QUIETA! - ordenou Otávio.
- Fala meu, eu quero saber... sério, não culpo vocês.
- Tem a ver com a Laura... você e ela... durante a festa... você não vai lembrar, você estava mal. - disse Ana, interrompendo a si mesma.
- A real é que... VOCÊ FICOU COM LAURA E DEPOIS TENTOU PEGAR OUTRA MENINA, ela ficou muito mal e saiu da festa... não foi vista desde então... - disse Otávio, de um jeito que fez eu me arrepiar.

Então quer dizer que eu fui a última pessoa a ver ela, e o bilhete dela foram suas últimas palavras para mim? Só tinha uma coisa a fazer: entender o que estava escrito no bilhete.

Onde Está Laura?Onde histórias criam vida. Descubra agora