A Vingança

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Matias chegou na esperança de conversar comigo. Ele era obcecado por mim - não sei como nunca percebi - e falaria tudo comigo. Abro a porta.
- Oi, sor! - cumprimento num tom de sedução para iludí-lo.
- Oi, Nando. - "Nando"? Ele me chamou de Nando? Nojento!.
Deixo ele se sentar no sofá e vou para o meu quarto, dizendo que voltaria em instantes. Passos no chão, mas não meus. Laura vem vindo com uma cara de ódio, enquanto Matias olha de boca aberta, ficando pálido e talvez, só talvez, se mijando nas calças. Carlos e Otávio vêm logo atrás, eles estão prontos para defender Laura, enquanto eu e Ana ficamos no quarto monitorando e gerenciando o áudio que começou a ser gravado.

- A única pergunta que eu te faço é por quê?! - grita - POR QUÊ? Eu não fiz nada pra ti. E tu não teve vergonha na cara pra me levar para um hospital! Eu fiquei jogada no mato por uma hora meia, e poderia ter morrido ali, se não fosse por Carlos.
- Foi um acidente! Foi um acidente! - disse Matias chorando desestruturado.
- ACIDENTE? ACIDENTE?? Você me empurrou! Eu desmaiei e você me deixou lá!
- Eu não estava em mim naquele dia. Fui ver o Fernando na festa, e ele tava na situação perfeita para liberar, mas daí você chegou e tirou ele de mim! Eu não sabia o que fazer!
Nesse momento já houve uma confissão, mas Laura está puta da cara. Ela não quer libertar aquele monstro. Então, chuta a cara dele, que cai desmaiado.

- Acorda, filho da puta! ACORDA! - gritou Laura, jogando um balde de água na cara de Matias. Ele estava praticamente amarrado ao sofá, mas as amarras não eram as melhores.
Ele abre os olhos, meio tonto com o barulho que a chuva fazia no vidro da janela.
- Gente, vocês estão passando dos limites. - Entrei, para impedir que algo pior acontecesse - Já temos a confissão!
- Por favor, Fernando. Me ajuda. - implorou Matias, se soltando das cordas discretamente, convencendo a me aproximar dele.
Ao chegar perto, Matias se solta, e pula em mim numa tentativa de fugir. Ele era forte, sua sexualidade não influenciava. Ele tinha um corpo e passava respeito - mesmo sendo baixinho -, mas por sempre ser animado comigo, eu nunca me senti em risco perto dele. Carlos interfere e segura o professor. Otávio estava com uma vontade imensa de socar a cara dele. Feito. Socou. O soco irritou o professor, que devolveu. Otávio e Matias entraram numa briga. Carlos tentou apartar, mas os dois eram muito fortes para serem simplesmente parados. Resolvo entrar. Penso somente no que devia fazer: ajudar Laura. E para isso, todos tinham que sair vivos dali. Laura e Ana não tinham a intenção de entrar na briga, ainda que comemoravam cada golpe que Otávio dava em Matias. O professor não queria lutar conosco, e sim, sair pela porta. Matias estava ganhando a luta, e eu tive de intervir. Nós dois estávamos perdendo, então Laura e Ana decidiram se envolver. Elas estavam próximas da janela, que era toda de vidro, e ficava molhada cada vez mais com a chuva. Ana pegou um vaso que tinha numa mesinha para decorar. O vaso era muito feio, com seus tons de azul que mesmo assim não combinavam. O vaso foi lançado e quebrou nas costas de Matias, provando que vaso ruim quebra sim. Matias se virou na direção de Laura e correu, praticamente pulou cima dela. Ele ia atacá-la. Laura esquiva para o lado. Matias vai em direção da janela, que quebra. Matias não consegue mais impedir seu destino.
Diferentemente do meu sonho, era Matias quem caía como a chuva. A gravidade é traiçoeira. Levou Matias até o chão. Ele havia morrido. E Laura teve sua vingança.

Todos do campus pararam para observar o corpo de Matias estatelado no chão. Enquanto o IML levava seu corpo, os policiais finalmente investigavam o assunto. Faziam perguntas que induziam uma resposta verdadeira. Os repórteres do jornal da faculdade caíram matando com perguntas "privilegiadas" - eles nos ajudaram, e agora era a nossa parte. Laura havia renascido. Ninguém entendia como podia acontecer tanta coisa em sete dias. Como Laura renasceu. Os cinco "sobreviventes" de um ataque.

Em meio a entrevistas e investigações, os policiais queriam acusar Laura de homicídio culposo.
- O quê? A gente tem testemunhas de que ele se jogou. - disse Ana, fazendo de tudo para ajudar a amiga, que agora havia voltado publicamente - Assim.. o que vocês preferem na manchete, porque a gente pode falar com o jornal: "Policiais Negligentes Prendem Vítima de Tentativa de Homicídio" ou "Policiais Heróis Salvam Garota Desaparecida"?
Os policiais nem responderam, só saíram. Laura ficou livre e teve sua vingança.

Ana e Otávio ficaram felizes juntos, ninguém sabe o que pode acontecer com eles. Carlos sumiu de novo, como um fantasma... depois de um tempo, descobrimos que a casa onde ele estava nunca foi dele, era uma casa abandonada longe do campus, penso que "Carlos" pode nem ser seu nome. A família de Matias não se pronunciou, os pais não o aceitavam e nem souberam da notícia. Alina continua a patricinha infantil, que é até legal de andar junto. E eu?. Eu me encaixei nessa história. Pela primeira vez eu não tenho dúvidas sobre os próximos dias, quero vivê-los como se fossem os últimos, para aproveitar o máximo. Minha relação com Laura evoluiu, é muito bom poder dizer que ela é minha namorada. Aquela menina que chegou do nada e em tão pouco tempo se tornou meu tudo. E Laura. Bom, Laura renasceu. Mas, como num sonho que tive um dia, Laura já havia morrido dias antes de tudo isso. Uma nova Laura existia, mais presente e corajosa. Uma mulher. Bom, é isso. Estamos em Setembro, logo logo o ano acaba... ano que vem será meu último ano cursando letras, gosto de escrever. E depois? O que o futuro tem reservado para nós? Mais mistérios? Só resta esperar.

Onde Está Laura?Onde histórias criam vida. Descubra agora