Os Colegas de Quarto

22 2 0
                                    

Saí da casa do Matias e voltei para o meu apê. Chegando lá, me deparo com Ana e Otávio abraçados no sofá. Entro e eles saem um do lado do outro como se nada estivesse acontecendo. Então, conversam comigo:
- Fernando, você voltou! Onde tava? - disse Ana, fingindo um ânimo que ela não tinha.
- Tava conversando com um amigo... nada de mais. - mudei o assunto rápido.
- Então... a gente tava preparando um filme, não fala nada sobre nós, a gente tá tentando se resolver. - Disse Otávio - quer assistir com a gente?
- Bah, pior que eu tô precisando me distraír um pouquinho, já faz três dias que eu estou na mesma função. - aceitei o convite.
- Então assiste com a gente... faz um tempo que a gente não fica junto como colegas de quarto, né? - Concordou Ana. Parecia mais honesta agora.

E foi isso. Assistimos um filme, eu fiquei de vela. Por um momento pude perceber que Ana e Otávio não ficaram me pressionando a falar o que eu sabia sobre Laura. Eles estavam só sendo meus amigos. Amigos. Bom, colegas de quarto. Os colegas de quarto. Laura era minha colega de quarto também, bom, é ainda. Senti saudades de quando a gente fazia as reuniões dos colegas de quarto para beber e conversar sobre as matérias que aprendíamos. Ana falava horas e horas de como os cabelos dela tinham que ser mais curtos. E hoje são. Otávio ficava mais calado, mas sempre abraçava Ana. E era ele quem me passava as cervejas mais geladas. Eu ficava rindo das baboseiras que eles jogavam na rodinha. E Laura, ela sempre foi muito quieta na dela, mas com a gente ela se soltava. Seus cabelos ruivos e seus olhos azuis são o que mais deixa ela fofa. Mas mesmo assim, durante todo esse tempo, eu nunca me liguei muito na sua beleza. Pronto. Os colegas de quarto. A gente era muito unido. E toda essa história de sumiço nos afastou. Talvez Ana e Otávio tenham brigado por causa de alguma menina. Ou talvez até por causa de Laura. Não entendia por que eles tentavam esquecer a amiga deles. Fingir que nada aconteceu. Os colegas de quarto eram pra ser pessoas unidas, que falavam seus problemas uns aos outros. Eu não estava sendo um bom colega de quarto também. Guardei tudo aquilo deles. Fui dormir, afinal, minha cabeça só pensaria se estivesse descansada.
● ● ●
- Laura! VOLTA AQUI! Sua vadiazinha! Você se engraçou pro Otávio que eu sei! PUTA! - Ana grita bem alto na floresta.
- Ana eu não tô te entendendo. Eu só falei pra ele que o Fernando me beijou e trovou outra bem na minha frente. Fiquei mal. Todos viram. - respondeu Laura, indo em direção da ponte perto da casa da festa.
- PARA DE MENTIR SUA VAGABUNDA! - gritou Ana, bêbada, puxando os cabelos de Laura até o meio da ponte.
- Sai de mim! EU NÃO FIZ NADA! SÉRIO! Fica calma e me respeita! - começa a devolver as agressões.
As duas começam a brigar. Puxam cabelo, trocam vários socos. Está frio na noite da festa e a ponte é frágil. Ana começa puxar Laura até a borda da ponte. E joga. Laura cai como uma folha cai de uma árvore no inverno. Laura bate a cabeça nas pedras do riacho e a correnteza leva seu corpo.
● ● ●
ACORDO DESESPERADO!. Seria aquilo um sonho ou um flashback visto de longe?!. Preciso saber. Mas e se eu conversar com Ana sobre isso e essa visão realmente tiver acontecido? Explicaria o fato de ela tentar sempre abafar o caso quando surge. Mas se fosse verdade eu não poderia falar com ela, seria esperta o suficiente para apagar seu rastro. Vou falar com Otávio sobre meu pesadelo. Mas e se ele também sabe?. Talvez seja só um sonho ruim. Preciso arriscar.

Mato aula hoje. Já é o quarto dia que Laura está sumida. Não vou ter aula com Matias no início da tarde, então posso ficar em casa. Hoje eu vou tirar o dia para acertar as contas. Comigo. Com Laura. Com os meus colegas de quarto. Preciso contar para eles tudo o que eu sei, e tudo que já aconteceu no decorrer do tempo. Troco de calça, está muito suja. Saio de casa. Espero os períodos livres de Ana e Otávio. Eles já reataram o namoro ontem - e isso eu sei porque ouvi os sons do quarto, Ana geme drmais -, mas onde estariam eles?. Ando por todo o campus. Passo pela cafeteria e lá estão eles. Alina está com eles também, sem a tropa das mean girls. Entro e sento na mesma mesa que eles. Faço de tudo para encontrar um jeito de dispensar Alina. Consigo. Estamos só eu, Otávio e Ana. Os colegas de quarto.

- Gurizada, preciso conversar com vocês. É sobre a Laura. Desde o dia da festa eu percebo umas coisas estranhas, e vocês sabem. Sei que vocês não tão com vontade de falar sobre isso e que querem esquecer. Mas eu preciso de ajuda. - expliquei o que acontecia a eles.
- Pode falar, podemos ouvir. E antes que tu ache alguma coisa, a gente só não queria conversar sobre isso porque estávamos com problemas também. Sei que fomos egoístas mas a gente nunca sabe como reagir a algo até que isso aconteça com a gente. - as palavras de Ana foram acolhedoras, mas mesmo assim não me explicavam tudo.
- Então... começou com um bilhete na manhã depois da festa... - e contei tudo a eles. Desde os flashbacks, até os sonhos. E eles não deram nenhum sinal de culpados. Eles entenderam e ficaram chocados com tudo que estavam acontecendo.
- Nossa, nunca pensei que Matias fosse gay, ele passava por mim no campus e era tão simpático... - disse Otávio.
- Caralho, ele conta tudo isso pra ti e tu só tira isso de importante? Cabeça de vento. - defendeu Ana.
- Gente, é importante. Ontem com o jeito que Matias falou, eu deduzi que ele sabe de alguma coisa e não quer falar, e que Laura pode estar viva!
- Mesmo?! A gente pode te ajudar a encontrar ela. Juro que a gente sente saudade dela e se importa com ela. Minha briga com o Otávio na festa foi porque ele tava bebendo demais, e ele sabe que eu não gosto quando ele fica assim. - Disse Ana.

E assim foi. Ana e Otávio agora passaram de suspeitos para parceiros na busca de Laura. E eu precisava muito dessa ajuda, principalmente vinda deles. Afinal, a gente tem uma amizade. Eles entraram completamente na investigação. Perguntaram para quase todos da festa o que eles faziam enquanto Laura ainda era vista na festa. E o que eles não conseguiram perguntar, o jornal da faculdade cedeu a informação pra gente, com a condição de que depois de tudo a gente ajudasse eles numa manchete especial.

O que podemos tirar de informação foi que Laura bebeu demais. Fez muita coisa. Beijou muitas bocas. Reclamou de mim para alguns. E uma pessoa, disse ter visto ela antes de acabar a festa, cambaleamdo até entrar num carro com um homem estiloso, e bonito.

Precisávamos saber quem era o homem estiloso, ele poderia ser o culpado de tudo. Ou pelo menos saber alguma coisa. Fomos em todos os lugares possíveis do campus. Ficamos até de noite. Perdi aula com Matias, ele poderia ter ajudado. Voltamos decepcionados para a casa, por saber que estávamos correndo contra o tempo e que Laura podia estar correndo perigo. Ao chegarmos em casa, está tudo bagunçado. Alguém invadiu nosso apê, para conseguir alguma informação. Vamos conferir o que sumiu. E só uma coisa vem na minha cabeça: o bilhete. Corro até meu quarto e pego minha calça. Esvazio os bolsos. O bilhete sumiu. Mas ninguém além de Ana, Otávio, Matias e Laura sabiam do bilhete. Ana e Otávio ficaram comigo o dia todo. Então ou foi Laura, ou Matias. Precisamos rever meu professor.

Onde Está Laura?Onde histórias criam vida. Descubra agora