Quase não te reconheci
Ele me disse
E eu não perguntei o motivo
O por quê
A razão
Temi que ele me dissesse que eu estava bonita hoje
Hoje
Hoje fiz a curva e me derrapei
Bati do guardirreio
Beirando o abismo de escuridão
Demorei-me observando
Como as luzes caiam ali
Vaga-lumes que sumiam
Engolidos pelo monstro imenso que ali habita
Demorei-me a observar
Quando decidi ir embora
Não me movi
Raízes nasceram de meus pés
Quando decidi ir embora
Parti minhas pernas
Arrastei-me de lá
Esperando que um dia
Me crescessem pernas novas
Mais altas, mais fortes e um pouco mais espertas
Do que as antigas
Fui embora
Mas deixei parte de mim lá
Sempre deixo
Nunca de lá volto inteira
Sou uma parte da parte que parte de parte alguma
VOCÊ ESTÁ LENDO
Na Companhia da Poesia
PuisiPoemas sobre sonhos, sobre inquietações, sobre celebrar as pequenas alegrias, sobre se assombrar um pouco, sobre provocar um tanto. Principalmente, sobre se viver poesia. A imagem de capa é um detalhe da tela A Primavera, de Botticelli, c.1482. No d...